“Os bens culturais imateriais, como o ‘2 de Julho’ asseguram a memória de um povo, sua história e cultura”, diz o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça. Segundo ele só se valoriza o que se conhece. “Por isso, todos nós, agentes públicos e sociedade em geral precisamos conhecer a riqueza e importância da nossa história e nosso patrimônio cultural para poder preservá-lo”, alerta Mendonça. Em 2008 o IPAC já havia lançado na ‘Agenda do Pelourinho Cultural’ um guia do trajeto do cortejo, identificando ruas, praças, bairros e monumentos que compõem o trajeto, além de texto de autoria de Ubiratan Castro.
“Ao difundirmos dados, mapas, folders, documentários e cursos com especialistas sobre essas manifestações, possibilitamos a salvaguarda e difusão efetiva desse bem cultural intangível que passa a ser mais conhecido e praticado pelas futuras gerações”, explica o diretor do IPAC. Dos patrimônios imateriais baianos, o IPAC também promoveu os registros da Festa da Boa Morte, em Cachoeira, Festa de Santa Bárbara em Salvador, e Carnaval de Maragojipe que ganhará publicação no segundo semestre deste ano (2010) do IPAC.
O vídeo do IPAC sobre o cortejo aborda a luta pela independência, o sentimento de natividade, a imagem do caboclo e a participação feminina, lembrada por Maria Quitéria e Joana Angélica. Participação popular, negros, elites intelectuais, exército, igreja e suas contribuições são outros tópicos do DVD. O IPAC já fez documentários em DVD sobre a Festa da Boa Morte e a formação do Centro Histórico de Salvador. Mais informações são obtidas na Gepel/IPAC, através dos (71) 3116-6741 e 9977-5562, ou no site www.ipac.ba.gov.br.
HISTÓRIA do 2 de JULHO - BOX OPCIONAL: Segundo o historiador baiano Luís Henrique Dias Tavares, autor do livro “Independência do Brasil na Bahia”, o 2 de Julho é uma construção de muitos e muitos anos no imaginário popular, com a presença de heróis. Em entrevista à jornalista Mariluce Moura em pesquisa da Fapesp (2006), Dias Tavares lembra que a Bahia saiu muito pobre da guerra, pois durante longo período ficou sem possibilidades de continuar o seu comércio, enquanto gastava recursos para formar tropas e apoiar o exército que chegaria, finalmente, do Rio de Janeiro. “Em 2 de julho de 1823 a única coisa que a Bahia tem é justamente o 2 de julho de 1823. Naquele quadro, que na época não se pode chamar de nacional brasileiro, pois o Brasil verdadeiramente não existe ainda, o Brasil é uma demorada e castigada construção dos brasileiros, a Bahia está sem nada. E é daí que os baianos orgulhosamente construíram o 2 de julho de 1823 como uma data da independência, que era da Bahia, mas que era também, e muito, do Brasil”, afirma o historiador. Entre os equívocos do 2 de Julho, Tavares destaca as homenagens ao general Labatut. “Foram os brasileiros que de fato libertaram a cidade do Salvador de armas nas mãos. Primeiro foram os brasileiros de Santo Amaro, Maragojipe, Cachoeira, São Francisco do Conde, Nazaré das Farinhas, Jaguaripe, que formavam um exército de esfarrapados. Depois, entraram os brasileiros que desceram lá de Caetité, do Sertão e da Chapada Diamantina, formando um exército das mais diferentes cores, de brasileiros filhos de escravos, descendentes de escravos, brasileiros brancos pobres que nada tinham além de uma roça de cana plantada para o senhor de engenho”, avalia. O historiador descreve que durante meses os brasileiros ficaram em trincheiras cavadas nas terras de Santo Amaro, São Francisco do Conde, terras que com qualquer chuva viram lama, e que aí foram tomados de carrapatos, de bichos-de-pé, da cabeça aos pés. Assaltados pela tuberculose, impaludismo, tifo, doenças que vitimaram muitos deles. Avançaram para chegar à cidade do Salvador, tomaram os altos do Pirajá e avançaram na Baía de Todos os Santos, começando de Itapagipe, conquistando o Rio Vermelho, do Rio Vermelho alcançando a Barra, um exército de esfarrapados, de homens famintos. “O quadro do general, na ocasião ainda coronel, Joaquim de Lima e Silva, o Duque de Caxias, sobre um cavalo alazão belíssimo, ovacionado por um exército de homens, todos muito contentes, alegres e gordos, não representa a verdade”, afirma.
Pelos cálculos do historiador, cerca de 10 mil soldados portugueses participaram das lutas na Bahia. Do lado brasileiro, cerca de 12 mil soldados. Os poucos profissionais vieram na primeira leva enviada pelo Imperador Pedro I, e, depois, outros vieram de Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. “A mitologia baiana criou Maria Quitéria com um saiote escocês, com uma linda farda e com arma na mão. Ela esteve realmente em vários instantes de luta, mas esfarrapada, com o que restava em cima do corpo, porque foi parte desse exército brasileiro”, relata Tavares, ressaltando que ela esteve na luta de agosto de 1822 até o 2 de Julho de 1823. Sobre o Corneteiro Lopes, Dias Tavares afirma que não é uma figura documentada na nossa história: “É uma construção do Santos Titara e outros, sendo que não se deve esquecer como homenagem ao Corneteiro Lopes que Inácio Acioly Cerqueira e Silva o conheceu mendigo, pedindo esmolas na cidade do Salvador e relata isso em 1836, na primeira edição das Memórias históricas da província da Bahia. Como ele está ganho por essa ideologia do patriotismo baiano, construiu também a história de um corneta decidindo combates que estavam quase perdidos”. João das Botas, segundo Tavares, é uma figura ainda muito desconhecida: “Ele é um marinheiro português que adere à autoridade do príncipe dom Pedro e pelos seus conhecimentos instrui Cachoeira, Santo Amaro, São Francisco do Conde a armarem barcos. A história da Baía de Todos os Santos é a história dos saveiros, das canoas e dos barcos. Os grandes barcos são armados, canhões são colocados nas proas e popas, e aí eles têm o comando de João de Oliveira Botas. Esses barcos assim armados foram decisivos na guerra”.
O "Caboclo" - O índio teve participação importante nas lutas pela independência. Ele representava o "verdadeiro brasileiro", o dono da terra, que somara seus esforços aos demais combatentes. Em 1896 foi erguido um monumento em sua homenagem, na Praça 2 de Julho (Campo Grande), em Salvador. Na cidade de Caetité, Sudoeste do estado, que todos os anos festeja o 2 de Julho com grande pompa, a cabocla surge num dos carros, matando o "Dragão da Tirania", que representa o colonizador vencido.
Assessoria de Comunicação – IPAC – em 28.06.2010
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