“O bispo bilionário do Brasil”: revista norte-america traça perfil de Edir Macedo e fala que o líder da Universal “oferece seu sucesso como prova de prosperidade”
“Nossa
cultura é retrógrada, uma cultura mesquinha, uma cultura, sem visão de
futuro. Só você pode mudar essa situação. O dízimo é você no altar de
Deus, assim como Jesus era o dízimo de Deus para a humanidade”. Com essa
fala de Edir Macedo, a revista Bloomberg Businessweek resumiu a pregação da teologia da prosperidade praticada pela Igreja Universal do Reino de Deus.
A publicação norte-americana veiculou uma extensa matéria de perfil,
com cinco páginas sobre o bispo Edir Macedo, que ela descreve como um
senhor de “68 anos, dedos deformados, uma ‘coroa’ escassa de cabelos
brancos e mais de cinco milhões de seguidores, cujas doações nos últimos
36 anos o fizeram um bilionário”.
A matéria da Bloomberg diz ainda que Macedo gosta de ser chamado como
“O bispo”, e “se orgulha do crescimento da Universal, presente em
aproximadamente 200 países.
Edir Macedo, listado pela Forbes
como o líder evangélico mais rico do Brasil, é citado pela matéria como
um dos mais ricos do mundo, com fortuna estimada em US$ 1,2 bilhão, que
seriam provenientes do “sistema de rádio e televisão Record”.
“O conglomerado produz telenovelas [às vezes bíblicas], reality shows
com infusão de sexo e jornalismo que trata de crimes terríveis”,
descreve a revista, lembrando que as empresas de Macedo que fazem parte
do grupo Record são “três jornais, um punhado de emissoras de rádio, uma
empresa de produção de cinema, e até mesmo um pequeno banco, bem como
unidades de cabo e satélite espalhados por todo o mundo”.
A doutrina adotada pelo bispo na Universal, fundada por ele ao lado
do missionário R. R. Soares há 36 anos, também foi destacada pela
revista: “Ele prega duas vezes por semana, frequentemente em duas
cidades diferentes, e os sermões são assistidos com fervor nos sites das
igrejas, em sua página no Facebook,
e nas mini televisões que os taxistas brasileiros gostam de manter nos
veículos”, ilustra a Bloomberg, que reproduz trecho de um sermão sobre o
dízimo: “Qual é o maior país do mundo, economicamente falando? É a
‘América’, os Estados Unidos. Você sabe por quê? Porque, olhem para trás
– vocês podem checar na internet – a colonização foi feita por homens
que acreditavam na palavra de Deus. E eles eram dizimistas. É por isso
que você vê na nota de dólar: ‘Em Deus nós confiamos’”, disse Macedo,
num evento em Belo Horizonte.
A revista enfatiza ainda que a pregação que pede o dízimo dos fiéis
da Universal é apresentada como “mandamento de Deus”, e contrapõe a
prática com as tradições católicas no Brasil, que nunca enfatizou os
10%, embora também pregue. “Um homem de origens humildes, Macedo
ofereceu seu próprio sucesso como prova [de prosperidade]”, diz a
matéria.
Os problemas de Macedo com a Justiça não foram ignorados pela
publicação norte-americana: “No Brasil, onde nasceu e foi criado, ele é
uma grande figura nacional, objeto de dezenas de inquéritos criminais”,
diz o texto, que cita o promotor de Justiça de São Paulo, Silvio Luís
Martins de Oliveira como um dos que acusam o bispo de fraude e
responsável pelo processo aberto em 2009, em que Macedo e outros três
líderes da Universal são processados por formação de quadrilha, lavagem
de dinheiro e sonegação de transferências financeiras internacionais.
“Os pregadores fazem uso da fé, desespero ou da ambição [dos
seguidores] para vender a ideia de que Deus e Jesus Cristo apenas olham
para aqueles que contribuem financeiramente com a igreja”, diz trecho da
denúncia criminal escrita por Oliveira, que observa que os líderes da
denominação enriquecem muito mais do que os fiéis.
Já a matéria observa que o bispo insiste em reforçar a ideia de que
alcançou sucesso devido à sua fé: “Macedo tem orgulho de seu sucesso,
mas torna perguntas sobre sua riqueza em questões espirituais. Ele
recusou uma entrevista pessoal e escreveu em um e-mail dizendo: ‘Do
ponto de vista da minha fé em Jesus Cristo, sou o homem mais rico do
mundo”, diz a Bloomberg Businessweek.
A Igreja Universal do Reino de Deus também está presente nos Estados
Unidos, onde atualmente possui 60 mil fiéis, sua maioria formados por
imigrantes latinos. A revista destaca que a estratégia usada é a mesma
do Brasil: “A igreja é uma anunciante regular no canal de língua
espanhola, o Telemundo”, cita o texto, que deu um grande destaque à
compra da TV Record, em 1989. Para a Bloomberg, a emissora se tornou
crucial na expansão da Universal.
Os valores – US$ 45 milhões – foram emprestados pela Universal ao
bispo sem taxas de juros segundo a revista, que lembra a multa aplicada a
Edir Macedo, que não declarou o empréstimo como uma renda pessoal.
O argumento usado inicialmente, de que a compra da emissora pela denominação
seria para cumprir o objetivo de fundar a primeira emissora evangélica
do Brasil, deixou de ser usado durante a investigação feita em 1997,
quando os promotores de Justiça pediam a cassação da licença da Record
devido a Constituição Brasileira proibir que instituições religiosas
possuam emissoras de rádio ou TV.
A Bloomberg Businessweek cita que Macedo passou a afirmar que havia
adquirido a Record “para si mesmo”, e venceu o processo após inúmeras
apelações que se arrastaram por mais de catorze anos.
A Record, segunda emissora do país, arrecadou em 2011 um valor
próximo de US$ 1,1 bilhão, e a revista ressalta que “boa parte” dessa
receita vem das locações que a Universal faz na emissora: “A igreja
compra cerca de seis horas diárias da programação, quase sempre após a
meia noite, quando as propagandas são escassas. Durante as horas mais
rentáveis da Record, a igreja comanda sermões em outros canais”, aponta.
A denominação é tratada pela revista como uma empresa que contrata
serviços terceirizados de forma a enriquecer os pastores e bispos de
alto escalão dentro da Universal. De acordo com a Bloomberg, os líderes
mais próximos a Edir Macedo possuem doze emissoras locais de TV, trinta e
seis emissoras de rádio, diversas empresas privadas que fornecem
segurança às igrejas, serviços de contabilidade, e até planos de saúde.
“Num relatório que faz parte do caso de 2009, investigadores do
Ministério da Fazenda constataram que, incluindo a Record, estas
empresas receberam cerca de US$ 1,9 bilhão da igreja de março de 2002 a
novembro de 2003″, cita o texto.
A Bloomberg Businessweek cita ainda na matéria que a assessoria de
imprensa da Universal se recusou a comentar os tópicos levantados na
matéria, referindo-se às questões como “mentiras”, e dizendo que Edir
Macedo nunca recebeu salário da TV Record.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+
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