Para a Minerva, a lei Rouanet.
Por Erivaldo Brito
POR ABSOLUTA FALTA DO QUE FAZER, na minha adolescência, comecei a anotar algumas curiosidades contemporâneas, como, por exemplo, a de dois dos mais respeitáveis cidadãos da sociedade cachoeirana que possuíam o mesmo nome (nome raro, ainda hoje), que possuíam dois filhos com o mesmo nome. Bolei então o seguinte sketch:
Visitante: Bom dia; o senhor pode me dizer onde mora seu Robustiano?
“Morador: Qual dos ‘Robustianos”? Pontes ou Almeida?
Visitante: Eu só sei que é Robustiano e mora na Rua Ana Neri...
Morador: Todos os dois moram na Rua Ana Neri, meu amigo!
Visitante: Ah, lembrei; é um que tem um filho chamado Roberto.
Morador: Os dois têm filhos chamados Roberto!
“Visitante: E o apelido é o mesmo, ‘Bel”?
E o morador confirmava; os dois Robustianos moravam vizinhos, tinham filhos chamados Roberto apelidados de Bel!
Dos filhos de seu Robustiano Almeida conheci primeiramente Romilda, que estudava piano com titia Iazinha, Omar que era engenheiro e faleceu lamentavelmente num acidente automobilístico, Roberto (o “Bel” do esquete a que me referi acima), e, finalmente, Rogério, que sucedeu o meu compadre Waldir de Gegeu na direção da consagrada Banda Marcial do Colégio Estadual da Cachoeira da qual faziam parte meu irmão Roque Brito e meu filho Lerinho.
Morávamos, então, na Vila Residencial, em Muritiba,quando Rogério,por causa de Lerinho, passou a frequentar a nossa casa, tornando-se amigo da minha saudosa esposa, Luiza.
Na véspera do meu filho caçula nascer, Rogério esteve nos visitando. Ficamos papeando o tempo todo, ele falava do projeto que estava desenvolvendo no Colégio Polivalente e a conversa descambou para culinária. Minha esposa falou da saudade que sentia de uma boa moqueca de fato, que ela não fazia mais em casa porque era um dos poucos pratos da culinária baiana que eu não apreciava. Despedimo-nos,então.Meia hora depois,se tanto,ouvimos uma insistente buzina no portão.Era Rogério que trazia em mãos,como um troféu,uma marmita contendo a moqueca de fato de dona Lolo. Talvez ele nem mais recorde deste fato, volvidos, já, vinte e seis anos.
Li aqui no blog de O Guarany, que a Meritíssima doutora Juíza da Comarca, na ação ajuizada pelos advogados conterrâneos Nelson Aragão Filho e Cláudio Almeida dos Anjos, ratificou o nome do professor Rogério Almeida na direção da centenária filarmônica Minerva Cachoeirana.
Meus amigos, falar da Minerva, para mim, é mexer com uma frustração da minha infância. Eu alimentava o sonho de sair pelas ruas da cidade envergando a farda gloriosa da Minerva, assim como o fizera os meus tios Edgar (clarinetista que faleceu num acidente de caminhão com a Minerva) e Deoclécio, “Dió do pistom”. Lembrava-me silenciosamente daquele desejo, sempre que Manoelzinho, e depois a professora Yolanda me distinguiam para desfilar juntamente com a diretoria, enquanto eu, de fato, por convite de dois amigos, (Domingos Miraldo Costa e Roque Pinto), era secretário da Lira, havendo, inclusive, criado um layout de uma flâmula para angariar um dinheirinho para a sociedade.
Acredito nas boas intenções de Rogério, mesmo porque não sei de nenhum envolvimento dele com política partidária. Acredito que ele vai continuar agregando as tradicionais famílias que durante gerações pertenceram à sociedade. Acredito finalmente que, Rogério vai usar da sua vasta rede de amizade para revitalizar a Minerva Cachoeirana.
Ao desejar ao amigo Rogério, do fundo do meu coração, que ele consiga agregar as forças necessárias para alavancar a Minerva Cachoeirana, que ele mantenha o foco na promoção e na valorização da expressão sociocultural e da reconhecida musicalidade cachoeirana, podendo usufruir dos recursos oriundos do Ministério da Cultura – MINC-. Arrecadação de mensalidades de sócios, doações voluntárias e aluguéis representa muito pouco.
Através da Lei n° 8.313 de 23 de dezembro de 1991, a chamada lei Rouanet, projetos como a implantação de uma biblioteca específica para a arte musical (discos, CDs, DVDs, livros, partituras, biografias, etc.), incrementando uma campanha nacional de doações, preservação do acervo existente, uma escola para iniciantes, apresentação mensal da filarmônica em praça pública num programa que poderia ser intitulado de “Domingo de Banda na Praça” a fim de alavancar jovens carentes para a música instrumental.
Tal projeto, se assessorado pelos doutores Cláudio dos Anjos e Nelsinho Aragão, com base na Lei Rouanet, por certo encontrará parcerias de Pessoas Jurídicas (empresas) e/ou Pessoas Físicas (cidadãos) em aplicarem uma parte do Imposto de Renda em tal empreendimento. Não custa tentar. Ficar sentadinho esperando cair do céu...
*Erivaldo Brito é advogado, cachoeirano radicado na cidade do Rio de Janeiro.
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