sábado, 7 de abril de 2012

ENTREVISTA DADA HORAS ANTES DA VISITA DO PAPA A CUBA

“Meu pai, Fidel, não se converterá nunca. Se sente imortal”.

A filha de Castro: “Muitos compromissos; Ratzinger deveria ver os dissidentes”.

Por Paolo Mastrolilli, de Havana | Tradução: Fratres in Unum.com

Alina Fernández, filha de Fidel Castro.

Alina Fernández, filha de Fidel Castro.

« Não creio na conversão de meu pai, por um simples motivo: ele se considera imortal ». A estrondosa fuga de Cuba de Alina Fernández foi há vinte anos, mas a amargura e a desilusão permaneceram imutáveis na voz da filha de Fidel Castro. Alina nasceu em 1956, da relação que então o carismático revolucionário tinha com a bela Natalia Revuelta. Cresceu à sombra desta enorme figura até que, em 1993, escapou desfarçada com uma peruca e com os documentos falsos de uma turista espanhola. Primeiro para Madri, depois Miami, onde seu programa radiofônico “Simplesmente Alina” se tornou um dos pontos de referência para a comunidade dos exilados.

Senhora Fernández, o Papa vai a Cuba e é natural que haja rumores sobre a conversão de Fidel. Eles são críveis?

Há tempo também diziam o mesmo de mim, mas [os rumores] careciam de fundamento. Seria belo que meu pai, doente e de idade avançada, regressasse às raízes da fé na qual cresceu, quando estudava com os jesuítas. Isso devolveria a ele a humanidade que perdeu. Mas não o creio, porque acho que ele se considera imortal.

É um acerto a visita do Papa a Cuba?

Me vêm sentimentos contraditórios. Não há dúvida que meu pai e meu tio Raúl aproveitarão ao máximo esta visita, porque ir a um país significa lhe dar legitimidade. No entanto, para os fiéis, a presença do Papa é muito importante. Quando eu era pequena, ser católico em Cuba era um “handicap” ideológico: tinhas que esconder a tua fé, para que não te perseguissem. Agora já não é assim.

Esta visita pode acelerar a mudança no contexto político?

Não acredito. O povo comum tem menos expectativas do que na viagem que fez João Paulo II, por duas razões: a primeira é a personalidade diferente de Bento XVI, e a segunda é que já não acredita na possibilidade de que a visita de um líder religioso possa gerar uma mudança. Isso se deve, em parte, ao comportamento da Igreja Católica local, que, em certos casos, dá a impressão de renunciar a sua missão natural de defender os direitos humanos para poder negociar com o regime. Assim obteve vantagens para os fiéis, mas perderam o povo. Isto é, em Cuba não existe um Jerzy Popieluszko.

O Papa deveria se encontrar com os dissidentes?

Creio que sim. Não quero criticar à distância, mas acredito que seria importante. Dizem que não pode fazê-lo porque se trata de uma visita pastoral, e por isso o Papa não pode realizar gestos políticos, mas é um argumento contraditório que não se sustenta. Não deveria, como pastor, ver os fiéis que estão contra o regime?

Não houve reformas desde que seu tio chegou ao poder?

Raúl era a melhor pessoa da minha família, inclusive me dirigi a ele para que me ajudasse. Mas é um político pragmático e um ótimo administrador: faz apenas o que serve ao regime. É certo que permitiu o trabalho autônomo, em profissões como mecânico, encanador ou agricultor, mas são coisas pequenas para enfrentar uma crise econômica enorme. Em Cuba não há empresários.

Os cubanos esperam pelo Papa que, após passar pelo México, chega à ilha hoje.

Os cubanos esperam pelo Papa que, após passar pelo México, chega à ilha hoje.

Raúl e Fidel já são idosos: qual a estratégia deles?

Manter o poder. Nada além, nada de transição.

Quando foi a última vez que falou com o seu pai?

Há muitos anos, já nem me recordo quando. Fidel foi a tragédia de Cuba, e eu a sofri mais que muitos outros. Hoje falamos muito do fundamentalismo islâmico, mas também existiu o fundamentalismo comunista, e era feroz: se discutias, eras considerado, automaticamente, um inimigo e um traidor. Com maior razão se criticavas desde dentro da família Castro.

A senhora tentou voltar a Cuba?

Não.

Seu pai está velho e doente, não gostaria de falar com ele?

Não acredito que um dia volte a vê-lo. Não há interesse, de nenhuma parte. Ele não quer me ver e eu não entendo por que teria de procurar por um homem com que não compartilho 90% do que já fez. Até o amor filial e paterno se desvanece se ninguém o alimenta.

Compartilhe!

Nenhum comentário:

Postar um comentário