A Síndrome de Estocolmo* protegeu e prossegue protegendo Júnior, vítima da exclusão, que determinou-lhe andar sobre os trilhos da marginalidade.
Júnior, jovem cachoeirano, nascido e crescido nas proximidades da Ponta da Calçada, na Rua da Feira, vítima da exclusão criada, gerenciada e preservada, perversa e culturalmente, pelas células mais poderosas da sociedade, optou por integrar-se ao segmento da marginalidade, como traficante de drogas, assaltante e operador de furtos. Despossuído, semi-analfabeto, sem veículos, morador em imóvel do tipo casebre, sem qualquer expressão de conforto, Júnior ganhou fama e manchetes nos jornais, inacreditavelmente, como “fundador da célula criminosa PCI,” além de inúmeras acusações de roubos e assaltos.
Preso, no ano passado, dias depois, já com alvará de soltura expedido pela Justiça, antes da execução da ordem judicial, evadiu-se da prisão, liderando a fuga de todos os outros presos, numa operação com que imobilizou o policial plantonista, no momento em que este abria o portão que dá acesso às celas para o ingresso de um albergado que cumpria pena em regime semi-aberto, por volta das 18h30min do dia 30/07/2010.
Levando consigo uma pistola de uso exclusivo da polícia (pistola. 40) de alto poder de destruição, Júnior prosseguiu no mundo do crime. Todos os outros fugitivos foram recapturados, a exceção dele. A partir daí, segundo a polícia, todos os assaltos, arrombamentos, tráfico de drogas, tudo passou a ser liderado por Júnior, ao seu exclusivo comando. Tornou-se a principal figura da marginalidade na região, conforme noticiavam os jornais.
O delegado Laurindo Neto
Com a chegada do novo delegado, bacharel Laurindo Neto, o cerco para Júnior foi se estreitando, seu reduto de marginalidade foi se desconstruindo com a prisão de comparsas mais fortes. Em sucessivas reportagens e entrevistas concedidas a jornais, o delegado Laurindo Neto assegurou que Júnior fundou em Cachoeira, o PCI - Primeiro Comando do Interior, guardadas as devidas proporções, “célula criminosa, semelhante ao PCC,” a estrutura mais poderosa da marginalidade, fundada em São Paulo pelos ricos marginais, Marcola e Fernandinho Beira Mar, seus principais líderes, proprietários de mansões, valiosos patrimônios e fortunas, em nome de familiares e laranjas, tanto no Brasil quanto no exterior.
Conforme noticiado pelo Jornal O Correio, a polícia não alcançava Júnior porque ele tinha se protegido em três Terreiros de Candomblé da região, em trabalhos de magia e macumbaria, com que fechou o corpo, garantido integridade física contra balas, em caso de tiroteio, em enfretamento direto com a polícia.
A comunidade, embora reprove a conduta marginal de Júnior, passou a ter por ele a síndrome de Estocolmo, apreço de proteção, de afeto, de acolhimento e manifesta aversão à perseguição policial contra a ele.
Na tarde do dia 07/10/2011, a polícia surpreendeu Júnior em seu costumeiro itinerário de comercialização de drogas, andando por lugares inóspitos da periferia oculta da cidade, alvejando-o com vários tiros. Não portava armas nem houve resistência nem o menor sinal de enfrentamento à polícia. O fugitivo foi crivado de balas pelas costas. Mesmo depois de amarrado com cordas pelo corpo, um dos policiais deflagrou-lhe mais um tiro, e todos se retiraram para comemorar a prisão do “fundador do PCI”. Fingindo ter desmaiado, olhou de lado e vendo a algazarra da comemoração dos policiais, com extrema habilidade e segurança, Júnior evadiu-se. Rapidamente, alcançou familiares que residem nas proximidades. Mesmo baleado, com inúmeras escoriações e perfurações de raspão no corpo, Júnior conseguiu desfazer-se das amarras e refugiar-se na catinga da Capapina, a 1 km distante de uma das casas de candomblé, segundo sucessivas reportagens do Jornal O Correio, local em que fechou o corpo com trabalhos de magia, terreiro localizada no final da comunidade dos Três Riachos.
Contratado pela família, o advogado Tiago Dias Ferreira, da cidade de São Félix, adotou todas as providências para o imediato socorro e da proteção à integridade física do cliente baleado, conduzindo-o em seu próprio veículo ao Hospital da Santa Casa de São Félix.
Em seguida, devido aos ferimentos das balas deflagradas em diversas partes do corpo, inclusive na cabeça, Júnior foi reconduzido em ambulância, sob escolta, ao Hospital Clériston Andrade, em Feira de Santana, onde recebeu atendimento médico. De alta, na madrugada do dia seguinte, ficou preso no Complexo Policial daquela cidade, de onde foi recambiado no dia 10, para a Penitenciária Lemos Brito, em Salvador.
Em igrejas evangélicas da cidade da Cachoeira, seus membros oraram e continuam orando por Júnior. Três dias antes de ser alvejado e entregar-se às autoridades policiais, em uma das mais movimentadas igrejas da comunidade, o pastor, com reconhecido dom de revelação, profetizou no culto: “o Ás de Copa da Cachoeira cairá, mas, quem quer que o alveje, os danos das suas balas causarão mais “riscos de morte” aos autores dos tiros do que ao baleado, pois serão desviadas, gerando apenas escoriações periféricas. Muito breve Deus o tirará das garras de Satanás, tornando-o servo ungido do Senhor para pregar o Evangelho de Jesus,” concluiu.
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