segunda-feira, 25 de setembro de 2017


O “pacto de sangue” de Palocci com os golpistas

Antônio Eduardo Alves Oliveira,
Professor UFRB e colunista Diário Causa Operária.


O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, apresentou denúncia no STF (Supremo Tribunal Federal), acusando os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff de obstrução da justiça e constituírem uma organização criminosa. A acusação do PGR também inclui a senadora Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT entre outros dirigentes petistas. 

No dia seguinte, a edição do Jornal O Globo, traz na sua capa, uma grotesca manipulação, procurando atribuir a Lula, Dilma e o PT , as malas recheadas de dinheiro de Geddel. Durante todo dia 6 de setembro, uma intensa campanha publicitária sobre o lançamento oficial do filme-propaganda Operação Lava Jato, a Lei é para todos. Nesse mesmo dia 6 de setembro, ainda teve mais uma denuncia do PGR contra Lula e Dilma, e um outro grande espetáculo golpista: o depoimento ao Juiz Sergio Moro do ex-ministro Antonio Palocci "confirmando" a versão oficial da Lava Jato contra Lula, afirmando que havia um " pacto de sangue" com base em propinas entre o ex-presidente e a empreiteira Odebrecht, que continuou no governo Dilma.

De maneira geral, este novo depoimento segue o mesmo padrão dos depoimentos- delações bombas da Lava Jato, ou seja confissões tomadas sobre pressão, onde o depoente conduzido pelo juiz Sergio Moro procura mostrar que o grande corrupto e responsável por todo esquema mafioso é Lula, seguindo o script do Power Point dos procuradores da Lava Jato. Ainda de acordo com o padrão delação Lava Jato, nenhuma prova é apresentada e o depoimento é seguido de uma espetacular cobertura da imprensa golpista, em especial da divulgação em primeira mão de trechos selecionados dos depoimentos no Jornal Nacional.

A novidade da delação de Antônio Palocci é a importância do próprio delator , uma vez que o mesmo foi uma figura chave no governo Lula, sendo ministro da economia, tendo um papel relevante na articulação com os setores empresariais e bancários. Além do mais, é a primeiro vez que um petista de alto escalão ataca diretamente Lula e Dilma. A delação de Palocci cumpre o mesmo papel dos “arrependimentos” conseguidos sob tortura na época da ditadura militar, ou seja tentar desmoralizar aqueles que lutam contra o autoritarismo.

Como já foi dito antes, a delação de Palocci não traz nenhuma prova e mostra inclusive evidentes contradições, notadamente com outras delações apresentadas como “provas” contra Lula. As " declarações" de Palocci são exploradas pela maquina de propaganda golpista como uma “ confissão” do próprio PT, uma confirmação final que todos os crimes imputados pelo juiz Sergio Moro são verdadeiros.

Como é constantemente alertado pelo PCO,o impeachment foi um golpe de Estado, entretanto o golpe não se restringe ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff, é um processo político de maior alcance, visa alterar profundamente o próprio regime político, estabelecendo um Estado de Exceção, para melhor implementar uma política de terra arrasada contra os trabalhadores e os direitos sociais do povo.
 
Neste sentido, a direita e os golpistas tem o claro propósito de condenar Lula e até mesmo colocar o PT na ilegalidade. Dessa forma, a condenação de Lula por Sergio Moro em primeira instância, a denúncia de Janot e a delação de Palocci são indicadores concretos que os golpistas estão implementando uma política consciente de liquidação do PT e Lula.
É importante ressaltar que mesmo seguindo os mesmos padrões anteriores, como no estardalhaço criado na época da divulgação da lista da Odebrecht, o requentamento das mesmas denúncias anteriores representam um aprofundamento da perseguição a Lula. O aumento da intensidade dos ataques não é por acaso, pois acontecem justamente uma semana antes do um novo depoimento de Lula em Curitiba, ou seja, é fundamental para os golpistas criar um clima político que coloque na defensiva os militantes anti-golpistas, para enfraquecer manifestações contra a prisão de Lula.

Num panorama de crise de popularidade do governo golpista, e, sobretudo pelo desenrolar do cenário político, com aumento da divisão entre próprios golpistas e a demonstração do apoio popular a Lula, expresso na caravana no Nordeste, o “caso Lula” precisa ser na ótica golpista resolvido o quanto antes. Não se trata apenas de uma questão judicial, mas de uma questão decisiva para a continuidade do golpe. Desmoralizar e golpear qualquer possibilidade de reação popular é um ponto decisivo para manter uma maior margem de manobra para os golpistas, diante das contradições cada vez mais relevantes abertas com o golpe (crise econômica, necessidade de aumentar os ataques contra os trabalhadores, nenhum apoio popular e a divisão no interior da burguesia).

O Ataque coordenado entre judiciário e a mídia é uma jogada ensaiada. Como já apontamos, apesar de não ter neste momento grandes mobilizações populares, a narrativa de que não houve golpe encontra-se bastante comprometida. As medidas antipopulares como a liquidação da CLT, cortes de verbas, etc revelam mesmo para os setores vacilantes por que foi dado o golpe de Estado.

Os setores capitalistas diretamente ligados ao imperialismo, através do aparato jurídico conservador tomou controle do próprio estado e através de uma aliança com a imprensa capitalista, criaram um verdadeiro “pacto de sangue”, em que os direitos constitucionais e os procedimentos democráticos são vilipendiados.

A delação sem prova e acusações baseadas tão somente em delações é circulo vicioso que a “ doutrina jurídica” da Lava Jato, assim como a absurda noção de “ domínio do fato” estabeleceram no país. O depoimento de Palocci foi conseguida através de ameaças e da sinalização de redução de penalidades, através dela, o aparato autoritário da Lava Jato conseguiu que o ex- ministro colaborasse com a encenação de uma farsa política. O Objetivo claro de Palocci com as denúncias contra Lula é conseguir homologar um acordo de delação premiada, em fase de negociação.

Neste processo de capitulação política, até mesmo a identidade de “ italiano”, presente na Lista da Odebrecht, o delator foi obrigado a aceitar, como uma nova certidão de nascimento, simbolizando adesão ao pacto de sangue com os golpistas.

A perseguição contra Lula pelo judiciário, não é uma simples " judicialização" da política, mas o estabelecimento de uma ditadura do judiciário, conjugada com uma manipulação da imprensa, fomentando a fantasia da luta contra corrupção, para justificar a quebra dos direitos dos "inimigos públicos". Essa articulação já demonstra que a ideia que o golpe foi apenas " parlamentar" ou constitucional não correspondem a realidade, na medida em que o próprio judiciário ( sob a tutela dos grupos golpistas) tem um papel decisivo no golpe, sendo o primeiro a atuar de uma maneira abertamente contra a constituição. 

A grande aliança entre a grande mídia, judiciário, parlamentares corruptos e capitalistas para atacar os trabalhadores, precisa reconfigurar o sistema jurídico e o regime político de conjunto.A delação de Palocci, como todas as outras, é o verdadeiro pacto de sangue imposto pelas forças golpistas através do judiciário.

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