Pelo espaço de 1.500 anos a ideia ficou adormecida,
até que o Barão Pierre de Coubertin, em 1892, para uma nova época nos
esportes, iniciou as providências que, em 1894, levaram ao “Congresso pelo
restabelecimento dos Jogos Olímpicos”, o que se deu em 1896 na milenar capital
helênica. Milhares de pessoas viram a competição entre treze países em nove
modalidades: atletismo, natação, ciclismo, luta, halterofilismo, tênis,
ginástica, esgrima e tiro.
Participaram 285 atletas. No princípio quase
ninguém acreditava na retomada dos jogos. Em Paris, 1900, houve a primeira
participação das mulheres: seis concorreram nas provas de tênis. O Brasil
ingressou nas competições somente em 1920, em Antuérpia, Bélgica. De lá trouxe
a sua primeira medalha de ouro: Guilherme Paraense, pistola automática, na
prova de tiro.
Conta a mitologia grega que da luta entre Zeus e
Cronos pela posse da Terra nasceram os Jogos Olímpicos, que ao longo de toda a
Antiguidade observaram caráter religioso. Em 776 AD, fixaram-se em Olímpia que,
também de quatro em quatro anos, promovia uma “reunião de Paz, Fraternidade, cooperação e amizade
entre os povos”. Sob a mesma invocação, De Coubertin resgatou
aquelas empolgantes disputas para os nossos dias. É dele esta consideração que
se tornou conceito máximo das Olimpíadas: “O importante não é vencer, mas competir”.
Equação Espírito-matéria — As Olimpíadas são
importantes, porque levam ao respeito do corpo, aliado à Alma da criatura, além
de confraternizar povos que antigamente viviam digladiando-se. Mas tudo isso é
prefácio do muito que tem de ser feito, no sentido de efetuar-se a equação que
harmonize matéria e Espírito. A LBV, suscitando tais assuntos, abre caminhos
novos para a Humanidade.
Para que isto aconteça, não basta ao ser humano ter
o corpo são. É necessário possuir o Espírito, sua parte eterna, também sadio.
Equivocam-se os governantes de nações que insistem unicamente no
aperfeiçoamento atlético e intelectual dos seus compatriotas. Menosprezam o
precípuo: a indispensável formação espiritual do povo, de preferência firmada
no Mandamento Novo do Cristo: “Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis
ser reconhecidos como meus discípulos. (...) Não há maior Amor do que doar a
própria Vida pelos seus amigos (...) Porquanto da mesma forma como o Pai me
ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor. (...) Quem cumpre o meu Novo
Mandamento não morrerá mais: já passou da morte para a vida, pois todo aquele
que crê em mim, jamais morrerá”. (Evangelho de Jesus,
segundo João, 13:34 e 35, 15:12 e 13, 15:9, 5:24 e 11:26.) Eis a
indispensável lei de solidariedade mundial. Sem isto, a criatura é fatalmente
levada às desilusões, aos erros e às frustrações, declaradamente ou não. É
quando a mocidade se entrega aos vícios mais terríveis. O maior sofrimento é a
ausência de Amor. (...)
Não repetir o passado — Hoje, deve haver o
cuidado que é de todos, para que não se venha a repetir agora, no mundo, o que
se deu nos tempos antigos — “os jogos cresciam em importância e a corrupção
acompanhava o ritmo”. Mais tarde, com a tomada da Hélade pelos
romanos, total foi o prejuízo para a competição, em consequência da visão
distorcida que os conquistadores tinham do esporte. Segundo relatos antigos, a
situação chegou a tal ponto que, no ano 68, Nero (37-68), competindo
sozinho, tornou-se “vencedor” — vejam só! — de uma corrida de cavalos, sem que
ao menos alcançasse a linha de chegada, pois os corcéis haviam rompido as rédeas.
Olimpíadas do Espírito — A lição ficou, de
modo que a Chama Olímpica jamais volte a apagar-se. Pelo contrário, que afaste
dos passos humanos a escuridão. Senão, o que veremos? O trágico fim de um ideal
que avança além do campo dos esportes, lastimavelmente transformado em olim -
piadas... Certamente, o esforço de DeCoubertin e de outros idealistas seguirá
caminho luminoso pela História, juntando, lá adiante, às notáveis competições
do corpo as do Espírito. Com frequência, os pensadores confundem Espírito com
mente. Não falo aqui desta, mas da Energia Divina Racional que a ilumina e que
sobrevive à matéria, obedecendo a leis universais que, com sabedoria, a regem
desde a criação dos mundos. Sem respeitá-la, o Homem-corpo é mais ou menos
aleijado; sem ela, é simplesmente o cadáver. Corpo e Espírito esclarecido são
partes inseparáveis para o surgimento da verdadeira civilização na Terra. Um
viva! às Olimpíadas dos músculos, mas também um vibrante salve! às Olimpíadas
do Espírito.
De fato, o Esporte não surgiu para extravasar o
ódio do ser humano. Daí a campanha que lancei na LBV, no fim da década de
1970: Esporte é vida, não violência!
José de
Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor.
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