quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

NA BAHIA

Corrupção, desvios de recursos e o módulo da Agência Fazendária da
Cachoeira


Por Pedro Borges dos Anjos
Editor-Chefe do Jornal O Guarany

A comprovação de desvios de recursos e corrupção é dos trabalhos jornalísticos mais delicados. Se um político, quer seja prefeito, governador, vereador, deputado, senador,  presidente ou ex-presidente da República, ou ministro, ou secretário de estado ou municipal, for flagrado numa mentira ou contradição, sua carreira pode até sofrer abalos, mas não termina. Provado que desviou recursos para seu enriquecimento, ele pode até não ser punido pela polícia ou julgado pela Justiça, mas sua carreira estará seriamente comprometida. Por isso as falcatruas são, em geral, sofisticadas, e seus mentores não costumam deixar rastros.

Suponha-se que um servidor público auxilie na aprovação de uma obra desnecessária.  O dinheiro clandestino recebido pela “ajuda” não será depositado em sua conta-corrente, mas usado como fachada um parente ou amigo. Ou até mesmo, como é frequente, o depósito vai para conta no exterior. Quem pagou a propina não confessa, pois, também, estaria incorrendo em crime.

Denunciar a obra supostamente desnecessária significa entrar numa discussão não penal, mas administrativa, e os acusados sempre disporão de bons argumentos técnicos para justificar um desperdício com dinheiro público, capaz até mesmo de embaralhar a convicção dos jornalistas. Os picaretas costumam ser muito convincentes e fluentes.

Módulo da Agência Fazendária em Cachoeira
Em meados da década de 80, Cachoeira tinha uma agência fiscal da Secretaria da Fazenda. Funcionava em uma das salas do prédio reformado pelo IPHAN, o primeiro imóvel residencial da Cachoeira, construído pelos Adornos, no Largo da Ajuda, o qual, atualmente, abriga secretarias da administração municipal. O prefeito era Geraldo Simões, aliado do governo do Estado, o qual solicitou ao Secretário da Fazenda, a construção de um imóvel para abrigar a referida agência na cidade. O pleito foi deferido, mas estranhamente, contrariando a intenção do prefeito, que queria a sede no centro da cidade, construíram um módulo de primeiro mundo, lá no bairro da Faceira. O módulo era revestido com potente refrigeração condicionada, integralmente mobiliado segundo as normas da decoração moderna. Nunca funcionou. Gastaram R$4 milhões de reais, assim disseram. Em seguida, a Agência Fazendária da Cachoeira foi extinta, um ou dois funcionários removidos, um deles era tio de Vladimir Abdala, o qual integrava o alto escalão do governo, lembro-me. O suntuoso módulo foi se deteriorando, até torna-se ruína, hoje, no local, é um quadra de esportes.





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