sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O caráter dos canalhas e a dignidade dos homens de bem no exercício do Poder 
A reintegração da jornalista Marluce Moura

 Por Pedro Borges dos Anjos
Editor-chefe do Jornal O Guarany
 

O Jornal A Tarde, edição de 18/12/2015, noticia a reintegração da Profa. Marluce Moura ao quadro de docentes da UFBA. Luta e gesto que merecem aplausos e apreço.
Aprovada em concurso público, em primeiro lugar. Nomeada e em pleno exercício de seu cargo, Marluce foi demitida, seis meses depois, em 1976,  há 39 anos. Integrante da organização de esquerda denominada Ação Popular, forte matriz de combate a ditadura militar, no Brasil, mesmo tendo sido julgada e absolvida, por unanimidade, pela auditoria militar, absolvição confirmada pelo Superior Tribunal Militar, ela foi demitida, pois, o governo da ditadura, em todos os escalões, sustentava em seus quadros canalhas revestidos de espírito da opressão, como ainda há hoje, nos governos que a sucederam. Marluce foi presa grávida em outubro de 1973, aos 22 anos de idade, junto com o marido, Gildo Macedo Lacerda, militante da mesma organização. Levados para Superintendência da Polícia Federal, que funcionava na Praça da Piedade, em Salvador, foram transferidos para o Forte do Barbalho, onde sofreram torturas. Gildo, depois, foi mandado para Pernambuco, onde foi morto pelos assassinos da repressão. 

Com raras exceções, a exemplo da reintegração da professora mencionada, a cultura da ditadura prossegue no comando dos Poderes: Executivo, Legislativa e Judiciário, em cujas estruturas, refeces da administração, revestidos do mesmo espírito opressor, resistem reconhecer direitos e a reparar danos causados às vítimas de gestões ditatoriais. Processo semelhante ao que o governo opressor determinou minha exclusão da Rede Estadual de Ensino, da qual fui aprovado em concurso público, em primeiro lugar, igual à professora Marluce, fui demitido, mesmo tendo sido inocentado e absolvido nos inquéritos que investigaram a denúncia, já na administração do ex-governador Roberto Santos, em 1973. Recorri administrativamente, pleiteando  a reintegração, mas os refeces da ditadura, em todas as gestões que a sucederam, indeferiram a solicitação. Há dois anos, recorri ao Poder Judiciário, mesmo ante tamanha dilação, espero decisão que determine a reintegração e reparação  dos danos que a demissão, reconhecidamente espúria e injusta, me casou, embora ciente de que lá também há refeces que prosseguem revestidos da mesma malignidade, com exceções, é claro.




Nenhum comentário:

Postar um comentário