O caráter dos
canalhas e a dignidade dos homens de bem no exercício do Poder
A reintegração
da jornalista Marluce Moura
Por Pedro Borges dos Anjos
Editor-chefe do Jornal O Guarany
O Jornal A Tarde, edição de
18/12/2015, noticia a reintegração da Profa. Marluce Moura ao quadro de
docentes da UFBA. Luta e gesto que merecem aplausos e apreço.
Aprovada em concurso
público, em primeiro lugar. Nomeada e em pleno exercício de seu cargo, Marluce
foi demitida, seis meses depois, em 1976,
há 39 anos. Integrante da organização de esquerda
denominada Ação Popular, forte matriz de combate a ditadura militar, no Brasil,
mesmo tendo sido julgada e absolvida, por unanimidade, pela auditoria militar, absolvição
confirmada pelo Superior Tribunal Militar, ela foi demitida, pois, o governo da
ditadura, em todos os escalões, sustentava em seus quadros canalhas revestidos de
espírito da opressão, como ainda há hoje, nos governos que a sucederam. Marluce foi presa grávida em outubro de 1973, aos 22 anos de idade,
junto com o marido, Gildo Macedo Lacerda, militante da mesma organização.
Levados para Superintendência da Polícia Federal, que funcionava na Praça da
Piedade, em Salvador, foram transferidos para o Forte do Barbalho, onde
sofreram torturas. Gildo, depois, foi mandado para Pernambuco, onde foi morto pelos assassinos da repressão.
Com raras exceções, a exemplo
da reintegração da professora mencionada, a cultura da ditadura prossegue no
comando dos Poderes: Executivo, Legislativa e Judiciário, em cujas estruturas,
refeces da administração, revestidos do mesmo espírito opressor, resistem
reconhecer direitos e a reparar danos causados às vítimas de gestões ditatoriais.
Processo semelhante ao que o governo opressor determinou minha exclusão da Rede
Estadual de Ensino, da qual fui aprovado em concurso público, em primeiro
lugar, igual à professora Marluce, fui demitido, mesmo tendo sido inocentado e
absolvido nos inquéritos que investigaram a denúncia, já na administração do
ex-governador Roberto Santos, em 1973. Recorri administrativamente, pleiteando a reintegração, mas os refeces da ditadura, em
todas as gestões que a sucederam, indeferiram a solicitação. Há dois anos,
recorri ao Poder Judiciário, mesmo ante tamanha dilação, espero decisão que determine a reintegração e reparação dos danos que a demissão, reconhecidamente espúria e
injusta, me casou, embora ciente de que lá também há refeces que prosseguem
revestidos da mesma malignidade, com exceções, é claro.
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