Deputados ficam de joelhos diante de Marcelo Odebrecht
Por Cíntia Kelly
Até quem não é da esquerda e quem jamais teve o guerrilheiro argentino Che Guevara como ídolo tornou-se, de repente, adepto da sua frase mais famosa: hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás. Durante alguns minutos, os integrantes da CPI da Petrobras fizeram perguntas ao presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, em Curitiba, na manhã desta segunda-feira (2).
Diferentemente do inquirimento ocorrido com outros envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras, os deputados foram bem ternos e educados com um dos homens mais ricos do Brasil, cuja empresa a qual preside é uma das maiores doadoras de campanhas eleitorais.
A mesma postura não foi vista durante sessão que ouviu Pedro Barusco, Renato Duque e Paulo Roberto Costa - só para citar alguns dos envolvidos e já condenados por botarem a mão no dinheiro alheio.
As sessões da CPI, sobretudo quando tem algum nome já bastante midiatizado, costumam ser histriônicas. No caso de Marcelo foi o contrário.
Ele falou o que quis ou que poderia falar sem se encrencar ainda mais com a Justiça. Em vários momentos, se reservou ao direito de ficar calado, embora repetisse a frase de diversas formas. Sereno, parecia ser o dono do pedaço.
Nada de perguntas constrangedoras, incisivas ou mais ardilosas. Estranhamente (?!), os deputados respeitaram quem está preso há um mês sob a acusação de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
Um adendo. Só para que eu não me perca, é bom lembrar que o presidente da CPI, deputado Hugo Mota (PMDB-PB), recebeu como doação da Odebrecht R$ 200 mil. Só na eleição passada, a empreiteira doou R$ 111 milhões.
Em sua permanência na CPI, algo que durou em torno de 35 minutos, Marcelo disse o que todo mundo sabia. Não vai partir para a delação premiada. O argumento usado por ele só é absorvido pelos incautos. Disse ele: pra alguém dedurar, ele precisa ter o que dedurar, esse é o primeiro fato. Isso acho que não ocorre aqui.
Fazer delação é assinar atestado de culpa. E mais. No caso da construtora Odebrecht – maior empreiteira da América Latina -, significa perder grandes obras pelo mundo a fora. Quem em sã consciência contrataria uma empresa não confiável, que dedura seus clientes e parceiros? O silêncio de Marcelo pode ser imprescindível para manter a Odebrecht de pé. Ele sabe disso.
*Cíntia Kelly é repórter do Bocão News e comentarista de política do Se Liga Bocão
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