sexta-feira, 3 de julho de 2015

O discurso que move a ação


Por Pedro Borges dos Anjos
Jornalista, Editor-Chefe do Jornal O Guarany
A fala sucede ao pensamento. A materialidade do que se pensa ocorre através de Atos de Fala. Daí, o assunto revestir-se de destacada importância na estrutura da comunicação. Tudo quanto se vê materializado sucede a enunciados proferidos com essa finalidade. Os Atos de Fala são poderosas expressões que, além de descreverem algo, materializam ações propostas pelos verbos.

Perlocutório - o falante faz o interlocutor executar algo, à vista da força de suas próprias expressões, essas passam a dominar ou agir sobre seu ouvinte. O falante transmite a sua vontade como que instruindo o dever que institucionalmente lhe é conferido, ao mesmo tempo que define o papel do seu interlocutor - o de obedecer e de executar o que lhe foi anunciado. Este é o discurso perlocutório. 

O discurso performativo-perlocutório exerce no interlocutor domínio hipnótico. O enunciado perlocutório reveste-se de poder que impõe ao ouvinte, na hora de sua recepção, realizá-lo com as solenidades de sua autoridade.

Exemplo: 
APRENDA A CHAMAR A POLÍCIA!...

Reflita com que discurso a polícia se moveu para atender à chamada telefônica do protagonista. Veja o que disse Damião de Ignácio, nome fictício,sobre quem o texto a seguir se refere:

“Eu tenho o sono muito leve, e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal de casa.  Levantei em silêncio e fiquei acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta passando pela janela do banheiro. Como minha casa era muito segura, com grades nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado. Mas era claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranqüilamente.

Liguei baixinho para a polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram- me se o ladrão estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam mandar alguém assim que fosse possível.

Um minuto depois liguei de novo e disse com a voz calma: - Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro fez um estrago danado no cara!

Passados menos de três minutos, estavam na rua 5 carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam isso por nada neste mundo. Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela era a casa do Comandante da Polícia.
 
No meio do tumulto, um tenente se aproximou de mim e disse: - Pensei que tivesse dito que tinha matado o ladrão. Eu respondi: - Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura disponível.”  


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