Por Pedro Borges dos Anjos
Jornalista, Editor-Chefe do Jornal O Guarany
A fala sucede ao pensamento.
A materialidade do que se pensa ocorre através de Atos de Fala. Daí, o assunto
revestir-se de destacada importância na estrutura da comunicação. Tudo quanto
se vê materializado sucede a enunciados proferidos com essa finalidade. Os Atos
de Fala são poderosas expressões que, além de descreverem algo, materializam
ações propostas pelos verbos.
Perlocutório - o falante faz
o interlocutor executar algo, à vista da força de suas próprias expressões,
essas passam a dominar ou agir sobre seu ouvinte. O falante transmite a sua
vontade como que instruindo o dever que institucionalmente lhe é conferido, ao mesmo
tempo que define o papel do seu interlocutor - o de obedecer e de
executar o que lhe foi anunciado. Este é o discurso perlocutório.
O discurso
performativo-perlocutório exerce no interlocutor domínio hipnótico. O enunciado
perlocutório reveste-se de poder que impõe ao ouvinte, na hora de sua recepção,
realizá-lo com as solenidades de sua autoridade.
Exemplo:
APRENDA A CHAMAR A
POLÍCIA!...
Reflita com que discurso a
polícia se moveu para atender à chamada telefônica do protagonista. Veja o que disse Damião de Ignácio, nome fictício,sobre quem o texto a seguir se refere:
“Eu tenho o sono muito leve,
e numa noite dessas notei que havia alguém andando sorrateiramente no quintal
de casa. Levantei em silêncio e fiquei
acompanhando os leves ruídos que vinham lá de fora, até ver uma silhueta
passando pela janela do banheiro. Como minha casa era muito segura, com grades
nas janelas e trancas internas nas portas, não fiquei muito preocupado. Mas era
claro que eu não ia deixar um ladrão ali, espiando tranqüilamente.
Liguei baixinho para a
polícia, informei a situação e o meu endereço. Perguntaram- me se o ladrão
estava armado ou se já estava no interior da casa. Esclareci que não e
disseram-me que não havia nenhuma viatura por perto para ajudar, mas que iriam
mandar alguém assim que fosse possível.
Um minuto depois liguei de
novo e disse com a voz calma: - Oi, eu liguei há pouco porque tinha alguém no
meu quintal. Não precisa mais ter pressa. Eu já matei o ladrão com um tiro da
escopeta calibre 12, que tenho guardada em casa para estas situações. O tiro
fez um estrago danado no cara!
Passados menos de três
minutos, estavam na rua 5 carros da polícia, um helicóptero, uma unidade do
resgate, uma equipe de TV e a turma dos direitos humanos, que não perderiam
isso por nada neste mundo. Eles prenderam o ladrão em flagrante, que ficava
olhando tudo com cara de assombrado. Talvez ele estivesse pensando que aquela
era a casa do Comandante da Polícia.
No meio do tumulto, um
tenente se aproximou de mim e disse: - Pensei que tivesse dito que tinha matado
o ladrão. Eu respondi: - Pensei que tivesse dito que não havia nenhuma viatura
disponível.”
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