Paiva Netto
Peço licença para compartilhar com os distintos
leitores algumas linhas inspiradas no esforço de Boa Vontade.
De
meu ensaio literário Sociologia do Universo, consoante nossa crença
no valor do altruísmo, ressalto que não é por acreditarmos nele, inclusive na
área dos negócios, que devamos ser considerados tolos. Temos consciência plena
dos estorvos, até mesmo nos campos econômico e social, a exemplo da tragédia da
corrupção, que qualquer comunidade ou país precisa corajosamente enfrentar e
vencer. Ao propormos, há décadas, a Economia da Solidariedade Espiritual e
Humana como Estratégia de Sobrevivência, tomamos parte na rigorosa torcida dos
que desejam ver corrigidos os muitos senões que prejudicam a sociedade.
Um
dos mais expressivos filósofos espanhóis, José Ortega y Gasset (1883-1955)
vem ao encontro desse antigo preceito ao afirmar: “Estado e projeto de
vida, programa de ação ou conduta humanos são termos inseparáveis. As
diferentes classes de Estado nascem das maneiras segundo as quais o grupo
empreendedor estabeleça a colaboração com os outros”.
Quando
mais o ameaça a violência, o desenvolvimento de um povo não pode prescindir do
espírito filantrópico, portanto, humanitário, aliado ao de íntegra justiça e
competente gestão.
Os persas, que seguiam a doutrina de Zaratustra (c.
660-583 a.C.), ensinavam: “Aquele que é indiferente ao bem--estar
dos outros não merece ser chamado homem”.
Deng
Xiaoping (1904-1997),
que iniciou no século 20 uma série de profundas reformas na China, destacou uma
lição do que não se deve fazer para alcançar a concórdia: “Há pessoas
que criticam os outros para ganhar fama, pisando os ombros alheios para
ascender a posições-chave”.
Por
tudo isso, o que justamente sugerimos, alicerçados em Jesus, é a
Economia da Solidariedade Espiritual e Humana, que vai além do que inspirou a economia
solidária estudada pelo ilustre sociólogo Émile Durkheim (1858-1917).
Basta lembrar que o Divino Mestre, como o chamava Francisco de Assis (1182-1226), advertiu: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós
também a eles, porque esta é a Lei e os Profetas (Evangelho, segundo Mateus, 7:12)”.
A
Economia que preconizamos é holística, porquanto nos convida a vislumbrar a
nossa verdadeira origem, a espiritual. Somente assim haverá a humanização e a
espiritualização do Estado, a começarpela própria criatura, ou seja, sob o
banho lustral da Caridade Ecumênica, que não faz acepção de pessoas, pois
considera que — acima de etnia, crença, descrença, visão política, orientação
sexual, idade — estamos diante de seres terrenos e espirituais, que suplicam
socorro e compreensão (...).
Bem
a propósito, declarou o heroico Nelson Mandela (1918-2013): “A
bondade humana é uma chama que pode ser oculta, jamais extinta”.
As
louváveis iniciativas do Terceiro Setor, quando adequadamente empregadas, são
parte indispensável do bom desenvolvimento das comunidades. Assim exercemos,
por exemplo, uma excelente prática social e da Cidadania, que deve ser mais bem
compreendida por todos.
Daí,
ao falarmos em Amor fraterno e Universal, absolutamente não nos queremos situar
no reino nefelibático. Temos, contudo, certeza de que o sentimento bom, de
generosidade, é fator primordial para uma civilização em que o Espírito Eterno
do ser humano seja o fulcro. Sobre essa inteligência espiritual, firma-se a
revolução que ainda urge ser concluída, aquela que se realiza na Alma das
criaturas e por intermédio delas se perpetua. E aí entra a educação eficiente;
mais que isso, a reeducação eficaz. E tal é imprescindível, na consolidação da
cidadania plena, para o perfeito exercício da autoridade.
Lição
do saudoso sociólogo Herbert de Souza(1935-1997), o Betinho, que
devemos recordar: “A partir da ética é possível formular os cinco
princípios concretos da democracia: igualdade, liberdade, diversidade,
participação e solidariedade — existindo simultaneamente”.
Bem
merecido e exato foi o prêmio cultural que recebeu no fim de 1996, do
Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica, o ParlaMundi da LBV, em
Brasília/DF: a Ordem do Mérito da Fraternidade Ecumênica, na categoria “Solidariedade”.
Como escrevi no artigo “Um cidadão chamado Solidariedade”: A luta contra a
fome, da qual Betinho se tornou poderoso aríete, naturalmente reclama
constantes investidas. (...)
Portanto,
coloquemos sempre um pouco de misericórdia, somada ao justo bom senso, no nosso
olhar, nas atitudes para com o próximo, conhecido ou não; na interação com o
vizinho, seja ele indivíduo ou país. A tão sonhada Paz pode vir também desse
entendimento.
É
indispensável, porém, jamais nos esquecermos desta eloquente reflexão deConfúcio (551-479
a.C.): “Paga-se a bondade com a bondade, e o mal com a justiça”.
José de Paiva Netto —
Jornalista, radialista e escritor.
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