sábado, 25 de abril de 2015

Quando o jornalismo pode invadir a vida privada de mulheres e homens públicos

Por Pedro Borges dos Anjos
Editor-Chefe do Jornal O Guarany

O jornalismo sério não deve invadir a vida privada tanto da mulher quanto do homem público. Em rigor, é irrevelante saber se o vereador, o deputado, o senador, o secretário, etc., são homossexuais, se o prefeito tem amantes, se o presidente namora ou namorou atrizes de televisão, se a presidente teve uma relação homoafetiva. A vida particular, entretanto, ganha importância caso o namoro interfira na administração pública.  Ou porque ele (ela, também) esqueça seus afazeres ou por empregar parentes e amigos de sua ou de seu amante. Foi o caso do ex-presidente João Figueiredo, último mandatário do golpe militar de 1964, que mantinha encontros amorosos com  uma jovem, desde o período em que era chefe do Serviço Nacional de Informação. Esse relacionamento tinha como comprovação fitas gravadas. Por conta desse namoro, ela ganhou um emprego no SNI, apesar de não ter qualificação. Tempos depois, o affair veio à tona: Edilene Macedo, a ex-amante, processou Figueiredo, exigindo pensão para o filho.

A maior vítima da invasão de vida privada, na campanha eleitoral em que Lula e Collor concorreram ao cargo de presidente da República, não foi Collor, mas seu rival, Luis Inácio Lula da Silva. A assessoria de Collor estava espantada com a queda nas pesquisas no segundo turno eleitoral. A equipe “collorida” decidiu levar ao vídeo um contundente depoimento de Miran Cordeiro, ex-amante de Lula. Ela contou detalhes sobre sua vida íntima com o candidato do PT, afirmando  que fora forçada, sem sucesso, a fazer um aborto. O depoimento indignou as pessoas mais esclarecidas, que  consideraram a denúncia de “baixo nível”, mas, a julgar pelo crescimento da candidatura do antigo PRN, teve efeito positivo, pois, Fernando Collor de Mello venceu as eleições.

Certamente em toda a história do Brasil, poucos casos tiveram tanta repercussão como o affair Zélia Cardoso de Mello, então ministra da Fazenda do governo Collor - um caso que atingiu a credibilidade do governo. Quando Zélia Cardoso de Mello anunciou que estava apaixonada, sem porém, revelar o nome, acendeu a curiosidade da imprensa e do país. Não faltaram, em Brasília, fontes “confiáveis”, jurando saber quem era o namorado misterioso.

Vazou-se por colunas da imprensa que a paixão de Zélia chamava-se Bernardo Cabral, então ministro da Justiça, do mesmo governo. A suspeita surgiu depois que ambos foram vistos jantando num restaurante grã-fino em Nova York. 

Casado, Bernardo Cabral viu-se forçado a dar constrangedoras explicações a seus amigos e familiares. Numa festa, porém, eles, ao som da famosa melodia  “Besame Mucho” oficializaram a relação adúltera. Fora do Ministério, ea ex-ministra lançou o livro “Zélia, uma paixão”, no qual conta detalhes, que, literalmente, deixaram a nu a forma como eram tomadas determinadas decisões. Revelou-se que o Ibrahim Eris foi escolhido,  por engano, presidente do Banco Central e que o limite de congelamento da poupança foi arbitrado  numa forma não muito distante do jogo de palitinho. Se algum jornalista escrevesse, ninguém acreditaria. E com razão!
                          
É difícil, entretanto, delimitar com precisão onde começa e acaba a vida particular de uma mulher ou de um homem público. É notório que o ex-presidente Jânio Quadros cultivou durante sucessivos anos uma paixão etílica, ou seja, o prazer pela bebida. Bebia whiskey, vodka, até cachaça de marca famosa. A imprensa sempre escancarou esse prazer. No caso, é relevante, já que uma pessoa tomada pelo álcool é capaz de agir longe do bom senso. Não são poucos analistas que viram na renúncia de Jânio Quadros à presidência da República o efeito etílico  de possíveis bebedeiras. Aliás, Jânio Quadros morreu sem explicar por que renunciou.

Mais recente, "Rose", a amigona colorida do ex-presidente Lula traficava influência em pleno gabinete da Presidência, em São Paulo. Bonita e poderosa. Aldemir Bendine, recentemente nomeado pela primeira mandatária do país, Dilma Rousseff, para presidente da Petrobras, quando comandava o Banco do Brasil, a instituição financeira estatal comprou anúncios para serem exibidos no horário em que a socialite Val Marchiori, sua amiga colorida,  tinha um quadro no Programa Amaury Jr. A publicidade custou R$ 350 mil ao ano e durou apenas enquanto Val Marchiori trabalhou no programa. Aldemir Bendine também liberou  um empréstimo no valor de dois milhões, setecentos noventa mil reais para a empresa da sua mencionada socialite, a Torke Empreendimentos,  operação  irregular, tendo em vista que a proponente não tinha quitado débto anterior, além de estar com  restrições de crédito no SPC/SERASA, e ser portadora de renda insuficiente para a transação solicitada.

O problema é que, muitas vezes, a atividade das pessoas na horizontal é capaz de explicar o que fazem na vertical. O relacionamento pessoal das senhoras e dos homens públicos é, em várias ocasiões, capaz de desvendar enigmas políticos ou administrativos, como promoções ou ferozes inimizades passadas. O problema também é que dificilmente se consegue provar contatos travados em alcovas. Nessa área é ainda mais difícil diferenciar o que é informação e pura intriga, capaz de levar uma suposta notícia a provocar estragos irreparáveis numa família, vazada com objetivos inconfessáveis, motivados pelas brigas do poder.

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