Jornalismo
investigativo ante os poderes da corrupção:
corruptos
e corrompidos costumam ser muito convincentes e fluentes
Por
Pedro Borges dos Anjos
Editor-Chefe
do Jornal O Guarany
A
comprovação de desvios de recursos e corrupção é um dos trabalhos jornalísticos
mais delicados. Se um político ou ministro for flagrado numa mentira ou
contradição, sua carreira pode até sofrer abalos, mas não termina. Provado que
desviou recursos para seu enriquecimento, ele pode até não ser punido pela
polícia ou julgado pela Justiça, mas sua carreira estará seriamente
comprometida. Por isso as falcatruas são, em geral, sofisticadas, e seus
mentores não costumam deixar rastros. Suponha-se que um funcionário
público auxilie na aprovação de uma obra desnecessária. O dinheiro clandestino
recebido pela “ajuda” não será depositado em sua conta-corrente, mas usado como
fachada um parente ou amigo. Ou até mesmo, como é freqüente, o depósito vai
para conta no exterior. Quem pagou a propina não confessa, pois também estaria
incorrendo em crime. Denunciar a obra supostamente desnecessária significa
entrara numa discussão não penal, mas administrativa, e os acusados sempre
disporão de bons argumentos técnicos para justificar um desperdício com
dinheiro público, capaz até mesmo de embaralhar a convicção dos jornalistas. Os
picaretas costumam ser muito convincentes e fluentes.
O desvio de
dinheiro público já vem de muito tempo:
O jornalismo
investigativo, conforme registra o jornalista Gilberto Dimenstein, em seu
esclarecido opúsculo “Armadilhas do Poder – Bastidores da Imprensa”, ele conta
que é um nítido absurdo dispensar de licitação a escolha de empreiteiras, como
ocorreu no projeto S.O.S. Rodovias, no governo Collor, com o custo calculado em
US$500 milhões de dólares. As suspeitas eram tão inevitáveis como imediatas.
Mas o então secretário dos Transportes, Marcelo Ribeiro, sustentou a medida,
alegando que as estradas brasileiras estavam em péssima condição, provocando
inclusive mortes, o que era verdade. Assim, as obras de melhoria eram urgentes
– foi a base da argumentação do parecer do renomado juristas, o saudoso Prof.
Hely Lopes Meirelles, especialista em Direito Administrativo.
O
encadeamento dos fatos provoca, por si só, as suspeitas. Antes de assumir a
pasta dos Transportes, Marcelo Ribeiro era diretor de uma empreiteira, a
Tratex. Chegou ao cargo pelas mãos do caixa da campanha à Presidência, o
empresário Paulo César Cavalcanti Farias, que arrecadava dinheiro às escondidas
durante a campanha. Detalhe: Paulo Cesar já era conhecido como ilustre
integrante da “lista negra” do Banco Central, apontado como envolvido em
fraudes com incentivos fiscais.
O ilícito da
dispensa de licitação estaria de fato comprovado se documentos ou testemunhas
indicassem que as empreiteiras deram dinheiro para a campanha de Collor, e,
agora, estavam cobrando, através de obras como a melhoria das estradas
federais. Nada fácil – mesmo porque dinheiro em campanha ia para fundos ao
portador, que não exigem identificação.
Quem
acompanha os bastidores do poder sabe que as empreiteiras fazem acertos
antecipados, fraudando concorrências. Reúnem-se as empresas e distribuem as
obras públicas que vão realizar pelo país – a partir daí, estabelecem os preços
que vão apresentar nas licitações. Tarefa árdua provar esse acerto, proibido
por lei. Mas a imprensa investigativa tem conseguido superar as
dificuldades, razão por que vem desconstruindo o império da corrupção,
conforme ocorreu com os anãos do orçamento, o mensalão e mais recente com a
Petrobrás, e tantas outros focos de desvio de dinheiro público, Brasil a fora, com que tem gerado sucessivas
operações da Polícia Federal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário