Jornalismo investigativo
em reportagens sobre
corrupção
Por Pedro Borges dos Anjos
Editor-Chefe do Jornal O
Guarany
Corrupção em todos os
sentidos, a melhor saída para o jornalista é municiar-se de documentos - o escudo do repórter em caso de investidas
dos envolvidos em irregularidades. Mesmo com documentos cristalinos, porém, os
envolvidos reagem, numa tática – correta, aliás – de embaralhar a discussão e
dar margem aos advogados de defesa, que costumam desencavar argumentos
convincentes para mostrar que o negócio realizado era regular ou legal.
O ex-presidente Fernando
Collor só caiu, além da cantada na cunhada, a bonita Tereza Collor, origem de
tudo, ante denúncias feitas pelo falecido irmão Pedro Collor, também porque os
documentos mostrando sua vinculação com o empresário PC Farias, dificilmente
poderiam ser mais contundentes. A entrevista de Pedro Collor à revista Veja,
marco histórico da derrocada presidencial, não era o suficiente. Até porque já
se sabia há muito tempo nas redações da vinculação entre PC Farias e Fernando
Collor – era, aliás, um dos assuntos preferidos de jornalistas, municiados por
empresários que, em off, contavam como funcionava o jogo de propinas.
Os bastidores do poder já
tinham captado nítidos sinais desse íntimo relacionamento logo no início do
governo. Um deles veio através de um tango em agosto de 1990, na casa de um
empresário em Brasília, executado por uma orquestra vinda especialmente da
boate Gallery, de São Paulo.
Todos pararam de dançar para
admirar os passos de PC Farias e sua mulher diante de um maravilhado Collor. O
presidente batia palmas e exclamava: “Maravilhoso, muito bem PC, muito bem”.
Naquela festa se percebia a
intimidade entre ambos. Para muitos daquela seleta lista de convidados não era
novidade que os gastos de Collor e de seus assessores mais próximos eram
patrocinados por PC Farias. A imprensa sempre publicava que a assessoria
presidencial ostentava um nível de vida incompatível com seus rendimentos no
governo.
Circulava pela Corte uma
maldosa frase do empresário sobre os generosos gastos da primeira-dama Rosane
Collor: “A madame está gastando demais”. Orgulhoso, o paisagista José Nerhing,
da Brasil’s Garden, comentava sobre seus serviços nos jardins na Casa da Dinda.
– e sua mulher não escondia que não eram pagos por Collor, mas pelo empresário
PC Farias.
Até segmentos militares
detinham informações valiosas. Em códigos secretos, as visitas clandestinas de
Collor à mansão de PC Farias, em Brasília – os registros eram feitos pelo
esquema de segurança do Palácio do Planalto. Um dos militares se tornou,
depois, um informante do PT através do então deputado José Dirceu, que cumpre
pena por comandar o escândalo de lavagem de dinheiro conhecido como o Mensalão.
Os informes do militar davam
conta de que, ali, era o cenário também de encontros amorosos, o que apenas
reforçava a convicção sobre e até onde ia a intimidade entre o presidente e seu
ex-caixa de campanha.
A entrevista de Pedro Collor
foi levada à sério na apenas porque era irmão e, em tese, poderia saber dos
bastidores. Mas porque a cúpula da imprensa estava informada e conhecia bem
antes as acusações, considerando-as, em sua maioria, verdadeiras.
Mas ela ganhou dimensão
quando acoplada às revelações do motorista Eriberto França, que servia no
Palácio do Planalto, início de uma enxurrada de documentos mostrando como,
através de contas fantasmas, o esquema PC Farias alimentava a Casa da Dinda. Só
para a “madame” foram, em três anos, cerca de US$600 milhões de dólares. O
jardim teria saído por US$2milhões e 500 mil dólares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário