quarta-feira, 25 de março de 2015

Jornalismo investigativo
em reportagens sobre corrupção
 
Por Pedro Borges dos Anjos
Editor-Chefe do Jornal O Guarany

Corrupção em todos os sentidos, a melhor saída para o jornalista é municiar-se de documentos - o escudo do repórter em caso de investidas dos envolvidos em irregularidades. Mesmo com documentos cristalinos, porém, os envolvidos reagem, numa tática – correta, aliás – de embaralhar a discussão e dar margem aos advogados de defesa, que costumam desencavar argumentos convincentes para mostrar que o negócio realizado era regular ou legal.

O ex-presidente Fernando Collor só caiu, além da cantada na cunhada, a bonita Tereza Collor, origem de tudo, ante denúncias feitas pelo falecido irmão Pedro Collor, também porque os documentos mostrando sua vinculação com o empresário PC Farias, dificilmente poderiam ser mais contundentes. A entrevista de Pedro Collor à revista Veja, marco histórico da derrocada presidencial, não era o suficiente. Até porque já se sabia há muito tempo nas redações da vinculação entre PC Farias e Fernando Collor – era, aliás, um dos assuntos preferidos de jornalistas, municiados por empresários que, em off, contavam como funcionava o jogo de propinas.

Os bastidores do poder já tinham captado nítidos sinais desse íntimo relacionamento logo no início do governo. Um deles veio através de um tango em agosto de 1990, na casa de um empresário em Brasília, executado por uma orquestra vinda especialmente da boate Gallery, de São Paulo.

Todos pararam de dançar para admirar os passos de PC Farias e sua mulher diante de um maravilhado Collor. O presidente batia palmas e exclamava: “Maravilhoso, muito bem PC, muito bem”.

Naquela festa se percebia a intimidade entre ambos. Para muitos daquela seleta lista de convidados não era novidade que os gastos de Collor e de seus assessores mais próximos eram patrocinados por PC Farias. A imprensa sempre publicava que a assessoria presidencial ostentava um nível de vida incompatível com seus rendimentos no governo.

Circulava pela Corte uma maldosa frase do empresário sobre os generosos gastos da primeira-dama Rosane Collor: “A madame está gastando demais”. Orgulhoso, o paisagista José Nerhing, da Brasil’s Garden, comentava sobre seus serviços nos jardins na Casa da Dinda. – e sua mulher não escondia que não eram pagos por Collor, mas pelo empresário PC Farias.

Até segmentos militares detinham informações valiosas. Em códigos secretos, as visitas clandestinas de Collor à mansão de PC Farias, em Brasília – os registros eram feitos pelo esquema de segurança do Palácio do Planalto. Um dos militares se tornou, depois, um informante do PT através do então deputado José Dirceu, que cumpre pena por comandar o escândalo de lavagem de dinheiro conhecido como o Mensalão.

Os informes do militar davam conta de que, ali, era o cenário também de encontros amorosos, o que apenas reforçava a convicção sobre e até onde ia a intimidade entre o presidente e seu ex-caixa de campanha.

A entrevista de Pedro Collor foi levada à sério na apenas porque era irmão e, em tese, poderia saber dos bastidores. Mas porque a cúpula da imprensa estava informada e conhecia bem antes as acusações, considerando-as, em sua maioria, verdadeiras.

Mas ela ganhou dimensão quando acoplada às revelações do motorista Eriberto França, que servia no Palácio do Planalto, início de uma enxurrada de documentos mostrando como, através de contas fantasmas, o esquema PC Farias alimentava a Casa da Dinda. Só para a “madame” foram, em três anos, cerca de US$600 milhões de dólares. O jardim teria saído por US$2milhões e 500 mil dólares.


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