Emocionada, Dilma diz que relatório da Comissão da Verdade não é "acerto de contas"Reuters
BRASÍLIA
(Reuters) - Visivelmente emocionada, a presidente Dilma Rousseff disse
nesta quarta-feira, durante a divulgação do relatório final da Comissão
Nacional da Verdade (CNV), que o país devia isso à gerações que sofreram
as terríveis consequências da ditadura militar, mas alertou que o texto
não pode servir para revanchismo.
"As novas gerações mereciam a verdade", disse Dilma.
"Sobretudo, mereciam a verdade aqueles que perderam familiares,
parentes, amigos, companheiros e que continuam sofrendo", continuou a
presidente pouco antes de começar a chorar e ser aplaudida pela plateia.
"Continuam sofrendo como se eles morressem de novo e sempre", concluiu Dilma após o choro.
A comissão, que trabalhou 31 meses, analisou
documentos, colheu depoimentos de familiares e pessoas que foram
perseguidas durante o regime militar --que durou de 1964 a 1985-- e
também ouviu militares e agentes de segurança daquela época para tentar
reconstruir o período ditatorial e apontar responsabilidades.
"Nós devemos isso às gerações como a minha que sofreram
suas terríveis consequências e, sobretudo, devemos isso à maioria da
população brasileira que nascida após o último regime autoritário não
teve acesso integral à verdade histórica", disse a presidente.
O relatório tem três volumes e será disponibilizado na íntegra na Internet (http://www.cnv.gov.br).
O relatório conclui que houve crime contra a humanidade na ação do regime militar.
A presidente deixou claro, porém, que o trabalho da comissão não deve ser usada para revanches históricas.
"A verdade não significa revanchismos, não deve ser
motivo para ódio ou acerto de contas", ressaltou Dilma, que foi um ativa
militante da resistência à ditadura, chegando a ser presa e torturada.
"Nós reconquistamos a democracia à nossa maneira, por
meio de lutas duras, por meio de sacrifícios humanos irreparáveis, mas
também por meio de pactos e acordos nacionais, que estão muitos deles
traduzidos na Constituição Federal de 88", argumentou e petista.
"Assim como respeitamos e reverenciamos todos os que
lutaram pela democracia, todos que travaram essa luta de resistência,
enfrentando bravamente a truculência ilegal do Estado,... também
reconhecemos e valorizamos os pactos políticos que nos levaram à
redemocratização", discursou.
AVANÇO DOS MILITARES
Os trabalhos da comissão não sofreram resistência
oficial das Forças Armadas, segundo o Ministério da Defesa, mas a falta
de alguns documentos sobre a Guerrilha do Araguaia, por exemplo, e a
decisão de alguns ex-comandantes em não prestar depoimento foram
lamentadas pelo coordenador da Comissão.
Ele disse que essa era uma das "frustrações" dos membros da comissão.
"No caso da Guerrilha do Araguaia, em que há 70
desaparecidos, e desaparecidos que desapareceram no contexto de uma ação
militar... quem tem essas informações são as Forças Armadas", disse
Dallari.
Apesar disso, o ministério da Defesa viu um avanço na
posição dos militares quando eles responderam em ofício à comissão que
"não havia elementos para negar a violação de direitos humanos".
No final da cerimonia, um pequeno grupo de militantes
do "Levante pela Verdade" estendeu faixas e fez um pequeno discurso,
defendendo a revisão da Lei da Anistia, que impede a criminalização de
atos da ditadura militar na Justiça.
(Reportagem de Jeferson Ribeiro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário