AS ELEIÇÕES, A DEMOCRACIA E A MAIORIA
Por PEDRO BORGES DOS ANJOS
"Sempre que te encontres do lado da maioria, é
tempo de fazer uma pausa e refletir." Mark Twain
É período de eleições no país. Todos esperam que o
regime democrático permita aos eleitores escolherem os mais dignos, os mais
preparados para exercerem mandatos instruídos pela Carta Magna da Nação. Eleitores
em todos os recantos do território nacional apontarão nas urnas as futuras
autoridades com este imaginado perfil.
O regime democrático “inequivocadamente” sustenta que
a maioria tem razão. O cidadão cuja capacidade crítica excede ao raciocínio mediano
descobre que a maioria nunca tem razão, especialmente, no exercício do sufrágio
universal.
O pensador ordinário opina sempre negativamente, diz
que a vida não presta, opõe-se tão contrário à própria existência, com opiniões
deflagradoras de poderosa onda de obstáculos à permanência digna do ser,
elegendo-se profeta da miséria que lhe sucede. O de raciocínio superior, ao
contrário, para esse, a vida é bela, é fantástica. Vive-a com reconhecida
alegria, imponência e soberania. Busca eternizá-la, vivendo as emoções
transformadoras do ser sem que nunca passe pela experiência da morte, por mais
temível e inevitável que esta cultura lhe pareça. O pensador mediano, por mais que busque exaltar suas
manifestações críticas, opta sempre por expor raciocínios ofensivos à honra dos
cidadãos. Usa as qualificações acadêmicas para queixar-se, expor convicções
falsas, muitas vezes fundamentadas em comentários de ouvir dizer, com
expressões vernaculares, as mais rudes que se possa imaginar. Usa expressões de
marginais de aldeia de terceiro mundo para expor insultos aos cidadãos. Com
expressões desse nível ofende também a memória de saudosos líderes do passado
os quais buscaram de alguma forma atuar e servir em suas comunidades.
A maioria, guardada as devidas proporções, é igual ao
pensador com este perfil. Vive sempre acabrunhada. Sua relação com semelhantes
se dá envolta de dificuldades, pois, opta sempre por não reconhecer no próximo
os valores da honra e da dignidade. Imagina-se, ele próprio, e apenas os que
pensam iguais a si, os únicos portadores desses valores, os únicos de caráter
ilibado. Já o outro, revela-se sempre cidadão entusiasmado, pensador positivo,
busca sempre edificar o próximo com suas opiniões, com a manifestação de sua
capacidade crítica. Pensa sempre positivo. É a expressão do entusiasmado. O
mediano sempre diz que a culpa é do governo. Abdica da responsabilidade. O
portador de raciocínio superior sustenta que a culpa é sua, assume a
responsabilidade e com isso o poder de mudar. A maioria tem falta de tempo. O
portador de raciocínio superior sustenta que manda e tem domínio do tempo. Para
a maioria falta dinheiro com que possa cobrir despesas com as necessidades
básicas de moradia, indumentária, alimentação e lazer, enquanto ao portador de
capacidade crítica superior, esse tem tudo quanto precisa para sustentar-se com
dignidade. A maioria queixa-se do patrão, do emprego e dos colegas, mas o
cidadão de capacidade crítica superior não tem patrão, elegeu-se patrão de si,
tem seu próprio negócio e trabalha rigorosamente com quem quer. A maioria
contenta-se com pouco. O de raciocínio crítico superior quer tudo a que tem
direito, busca munir-se de qualificações e recursos com que possa conquistar
patrimônio de permanente expressão. A maioria não tem sonhos. O portador de
raciocínio crítico superior tem alguns tão fortes que os levam onde nunca tinha
sonhado. A maioria é desconfiada. Ele é confiante. A maioria tenta defender-se
dos outros. Ele entende que o mundo é amigável. A maioria faz o que faz e tem
os resultados comuns. O de raciocínio superior faz o que faz e tem resultados
incomuns. A maioria acha que o portador de raciocínio superior é maluco. Aí o
de raciocínio superior lhe dá razão. A maioria é vulgar. É ordinária. O de
raciocínio superior é invulgar. É especial. O de raciocínio superior é especial
porque faz coisas invulgares, pensa de forma invulgar e atua de forma invulgar.
Por isso entende bem o que diz o Mark Twain. “Sempre que não és criticado,
significa que estás a ir aonde todos vão, a pensar o que todos pensam e a fazer
o que todos fazem. Os teus resultados serão os que todos têm. Por isso, se
todos te aplaudem, acende as sirenes porque estás a caminho da desgraça
mediana, como os carneiros em rebanho, cada um com o focinho na cauda do
outro.”
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