Memórias da Cidade da Cachoeira
Serviço de Alto Falantes Vozes da Primavera
do saudoso comunicador Elias Cardoso
A cidade da Cachoeira foi palco de grandes e animados
carnavais. Ternos, pierrôs, carros alegóricos, caretas, animavam o folguedo carnavalesco
nos três dias sucessivos da tradicional festa. As residências revestiam-se com
decorações que caracterizam a animação momesca. Ruas enfeitadas com motivações
referentes à animada festa, a qual atraía enorme público. Em meio às atrações,
destacava-se o Trio Carnavalesco do Serviço de Alto Falantes Vozes da
Primavera, do saudoso comunicador Elias Cardoso, de inesquecível memória. Era
uma das mais destacadas animações da festa do momo, em Cachoeira, que atraía e
mantinha enorme público durante todo o tempo em que permanecia fazendo a festa
nas ruas.
Histórico
Além de permanentes programas de músicas, notícias,
entrevistas, notas de utilidade pública, Elias Cardoso criou e manteve por
muitos anos, aos domingos, animado programa de calouros, em que adultos, jovens
e adolescentes, estudantes da rede de ensino local, lotavam o ambiente do
espetáculo. Nos referidos programas, havia recitação de poemas, apresentação de
músicas instrumental, violino, sopro, acordeom e revelação de jovens cantoras e
cantores.
Proposta recusada
Há informação de que o saudoso radialista e
ex-deputado Newton Moura Costa, em nome de uma
Emissora de Rádio de Salvador, no período de declínio de Vozes da Primavera,
propôs a compra do acervo pelo montante equivalente a RC$2ml e 500 mil (cruzeiros reais) oferta rejeitada por Elias Cardoso, argumentando que o valor da
estima pessoal do que construiu durante tantos anos de sua vida, estava acima
de qualquer preço. Mesmo fora do ar, o acervo não estava a venda, “quero
deixá-lo para a posteridade, como lembrança de mim”, disse ele.
Acervo
Elias Cardoso reuniu no acervo memorial de Vozes da
Primavera, discos raros, long-playings, aparelhos de rádio, toca-discos, e uma coletânea de composições melódicas de
elevado valor cultural, cuja raridade seria de inestimável valor para ser incorporada a
um museu de memórias na área e estilo.
Entrevista
Sobre o assunto, segue a entrevista concedida ao
Jornal O Guarany, pelo radialista Edvaldo Cardoso, filho do fundador e
mantenedor, durante muitos anos, do Serviço de Alto-Falantes Vozes da
Primavera.
O Guarany: Até pouco tempo, o acervo cultural de A Vozes
da Primavera encontrava-se intacto no imóvel sede da referida Instituição
radiofônica, na Rua Rui Barbosa, prédio de propriedade da Santa Casa. Com a
reforma e destinação do imóvel para funcionar, em forma de comodato, atividade
empresarial, a direção da Santa Casa teve o cuidado de preservar o rico acervo
ali antes guardado?
Edvaldo Cardoso: Infelizmente, isso não aconteceu. Muito pelo contrário. Até hoje, ninguém sabe informar sobre o paradeiro do acervo. Enquanto houver pessoas oportunistas e descompromissadas com a memória cultural da cidade, à frente de entidades estratégicas, as coisas não irão funcionar, devido ao abuso do poder, a falta de sensibilidade de pessoas que representam a anti-cultura e o atraso de um povo.
O Guarany: Você, filho do saudoso comunicador Elias
Cardoso, herdeiro legítimo do legado deixado pelo seu pai, a Santa Casa lhe
ouviu e fez algum acerto referente à guarda do acervo memorial Vozes da
Primavera?
Edvaldo Cardoso: Em nenhum momento, inclusive cheguei a propor que devolvessem o acervo que afinal de contas não lhes pertencem. E o que recebo como resposta sempre, são frases sem sentido, de pessoas que não têm o que dizer, a não ser: "procure seus direitos". Isso, eu já fiz, porém, aqueles que foram preparados para atuar nesses casos, sempre dizem a mesma coisa: "infelizmente, não poderei ajudá-lo."
O Guarany: Há informação que o saudoso radialista e
ex-deputado Newton Moura Costa, que era amigo do seu pai, em nome de uma
Emissora de Rádio de Salvador no período de declínio de Vozes da Primavera,
propôs a ele a compra do acervo pelo montante de RC$2ml e 500 mil (cruzeiros reais), equivalente a R$250 mil reais atuais,
oferta rejeitada incontinenti por Elias Cardoso, argumentando que o valor de
estima pessoal do que construiu durante tantos anos de sua vida, estava acima
de qualquer montante em dinheiro. Mesmo fora do ar, o acervo não estava a venda, “quero deixá-lo para a
posteridade, como lembrança de mim”, disse ele. O que você acha desta atitude
do seu saudoso genitor?
Edvaldo Cardoso: A proposta do radialista Newton Moura Costa foi tentadora, porém, um homem idealista como meu pai, não poderia aceitá-la. Creio que ele não queria apenas ser lembrado individualmente, mas que o dinheiro não pode cegar uma pessoa a tal ponto que possa fezê-la vender a sua dignidade, sua história e a do seu povo.
O Guarany: Você que é radialista profissional,
habilitado legalmente, como pretende reapresentar e preservar o acervo Memorial
de Vozes da Primavera, em Cachoeira, cidade que é sede de um dos melhores
cursos superiores de Museologia do país, especializado em preservação de memórias,
no campus da UFRB?
Edvaldo Cardoso: Pretendo reativar e reapresentar o
Serviço de Alto-Falantes DPR1 Vozes da Primavera, adequadamente, a uma
integração com a comunidade da cidade de Cachoeira, de forma a trazer
benefícios educacionais e de prática da cidadania, como também criar o Memorial
Vozes da Primavera, com exposição de equipamentos antigos do DPR1 e
instrumentos pertencentes ao antigo Trio Elétrico Vozes da Primavera.
O Guarany: Para finalizar, deixe uma mensagem aos
leitores desta entrevista, sobre a importância de se preservar memória, a exemplo
do Acervo Cultural de Vozes da Primavera.
Edvaldo Cardoso: Um povo que não conhece e não preserva a sua história, é um povo sem memória e escravizado.
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