quarta-feira, 11 de junho de 2014

NA BAHIA



Memórias da  Cidade da Cachoeira

Serviço de Alto Falantes Vozes da Primavera
do saudoso comunicador Elias Cardoso

A cidade da Cachoeira foi palco de grandes e animados carnavais. Ternos, pierrôs, carros alegóricos, caretas, animavam o folguedo carnavalesco nos três dias sucessivos da tradicional festa. As residências revestiam-se com decorações que caracterizam a animação momesca. Ruas enfeitadas com motivações referentes à animada festa, a qual atraía enorme público. Em meio às atrações, destacava-se o Trio Carnavalesco do Serviço de Alto Falantes Vozes da Primavera, do saudoso comunicador Elias Cardoso, de inesquecível memória. Era uma das mais destacadas animações da festa do momo, em Cachoeira, que atraía e mantinha enorme público durante todo o tempo em que permanecia fazendo a festa nas ruas.

 
Histórico
Além de permanentes programas de músicas, notícias, entrevistas, notas de utilidade pública, Elias Cardoso criou e manteve por muitos anos, aos domingos, animado programa de calouros, em que adultos, jovens e adolescentes, estudantes da rede de ensino local, lotavam o ambiente do espetáculo. Nos referidos programas, havia recitação de poemas, apresentação de músicas instrumental, violino, sopro, acordeom e revelação de jovens cantoras e cantores.

Proposta recusada

Há informação de que o saudoso radialista e ex-deputado Newton Moura Costa,  em nome de uma Emissora de Rádio de Salvador, no período de declínio de Vozes da Primavera, propôs a compra do acervo pelo montante equivalente a RC$2ml e 500 mil (cruzeiros reais) oferta rejeitada por Elias Cardoso, argumentando que o valor da estima pessoal do que construiu durante tantos anos de sua vida, estava acima de qualquer preço. Mesmo fora do ar, o acervo não estava a venda, “quero deixá-lo para a posteridade, como lembrança de mim”, disse ele.

Acervo
Elias Cardoso reuniu no acervo memorial de Vozes da Primavera, discos raros, long-playings, aparelhos de rádio, toca-discos,  e uma coletânea de composições melódicas de elevado valor cultural, cuja raridade seria de inestimável valor para ser incorporada a um museu de memórias na área e estilo.


Entrevista



Sobre o assunto, segue a entrevista concedida ao Jornal O Guarany, pelo radialista Edvaldo Cardoso, filho do fundador e mantenedor, durante muitos anos, do Serviço de Alto-Falantes Vozes da Primavera.

O Guarany: Até pouco tempo, o acervo cultural de A Vozes da Primavera encontrava-se intacto no imóvel sede da referida Instituição radiofônica, na Rua Rui Barbosa, prédio de propriedade da Santa Casa. Com a reforma e destinação do imóvel para funcionar, em forma de comodato, atividade empresarial, a direção da Santa Casa teve o cuidado de preservar o rico acervo ali antes guardado?
Edvaldo Cardoso: Infelizmente, isso não aconteceu. Muito pelo contrário. Até hoje, ninguém sabe informar sobre o paradeiro do acervo. Enquanto houver pessoas oportunistas e descompromissadas com a memória cultural da cidade, à frente de entidades estratégicas, as coisas não irão funcionar, devido ao abuso do poder, a  falta de sensibilidade de pessoas que representam a anti-cultura e o atraso de um povo.


O Guarany: Você, filho do saudoso comunicador Elias Cardoso, herdeiro legítimo do legado deixado pelo seu pai, a Santa Casa lhe ouviu e fez algum acerto referente à guarda do acervo memorial Vozes da Primavera?
Edvaldo Cardoso: Em nenhum momento, inclusive cheguei a propor que devolvessem o acervo que afinal de contas não lhes pertencem. E o que recebo como resposta sempre, são frases sem sentido, de pessoas que não têm o que dizer, a não ser: "procure seus direitos". Isso, eu já fiz, porém, aqueles que foram preparados para atuar nesses casos, sempre dizem a mesma coisa: "infelizmente, não poderei ajudá-lo."

O Guarany: Há informação que o saudoso radialista e ex-deputado Newton Moura Costa, que era amigo do seu pai, em nome de uma Emissora de Rádio de Salvador no período de declínio de Vozes da Primavera, propôs a ele a compra do acervo pelo montante de RC$2ml e 500 mil (cruzeiros reais), equivalente a R$250 mil reais atuais, oferta rejeitada incontinenti por Elias Cardoso, argumentando que o valor de estima pessoal do que construiu durante tantos anos de sua vida, estava acima de qualquer montante em dinheiro. Mesmo fora do ar, o acervo não estava a venda, “quero deixá-lo para a posteridade, como lembrança de mim”, disse ele. O que você acha desta atitude do seu saudoso genitor?
Edvaldo Cardoso: A proposta do radialista Newton Moura Costa foi tentadora, porém, um homem idealista como meu pai, não poderia aceitá-la. Creio que ele não queria apenas ser lembrado individualmente, mas que o dinheiro não pode cegar uma pessoa a tal ponto que possa fezê-la vender a sua dignidade, sua história e a do seu povo.

O Guarany: Você que é radialista profissional, habilitado legalmente, como pretende reapresentar e preservar o acervo Memorial de Vozes da Primavera, em Cachoeira, cidade que é sede de um dos melhores cursos superiores de Museologia do país, especializado em preservação de memórias, no campus da UFRB?


Edvaldo Cardoso: Pretendo reativar e reapresentar o Serviço de Alto-Falantes DPR1 Vozes da Primavera, adequadamente, a uma integração com a comunidade da cidade de Cachoeira, de forma a trazer benefícios educacionais e de prática da cidadania, como também criar o Memorial Vozes da Primavera, com exposição de equipamentos antigos do DPR1 e instrumentos pertencentes ao antigo Trio Elétrico Vozes da Primavera.


O Guarany: Para finalizar, deixe uma mensagem aos leitores desta entrevista, sobre a importância de se preservar memória, a exemplo do Acervo Cultural de Vozes da Primavera.
Edvaldo Cardoso: Um povo que não conhece e não preserva a sua história, é um povo sem memória e escravizado.


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