Gilberto Carvalho percebe que análise política sobre Dilma ‘incomoda muito’
Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto
Carvalho foi alvo, nesta sexta-feira, de duras críticas quanto às suas
declarações sobre os rumos políticos do governo Dilma Rousseff, na
caminhada às eleições presidenciais de outubro deste ano. Carvalho
acredita que esta será a mais difícil de todas as demais campanhas
eleitorais já disputadas pelo PT. Além da correlação de forças
desfavorável, o partido enfrenta 12 anos de propaganda contrária,
ininterrupta, disseminada pela mídia monopolista
e, agora, faz face a um novo ator social: o militante de direita
virtual, contratado por partidos e facções conservadoras para disseminar
mensagens de ódio político, social e racial junto ao público.
– É por isso que eu digo que essa eleição vai ser a mais difícil de
todas, porque ela enfrenta o resultado desse longo processo. E a
correlação de forças vai ficando cada vez mais complicada pra gente –
afirmou aos jornalistas, ativistas e midialivristas que participaram, na
quarta-feira, do debate sobre a Política Nacional de Participação
Social.
Para o ministro, é só observar o número de parlamentares de direita
com mandatos para ver que é quase um milagre que o PT tenha conseguido
permanecer no poder durante este tempo.
– Do ponto de vista da governabilidade institucional, nos somos uma
estrondosa minoria. Se você acrescenta ainda que nós não fizemos o
debate da mídia para valer, e eu acolho as críticas, nós passamos este
tempo todo com uma pancadaria diária que deu resultado. Essa pancadaria
diária é o que resulta no palavrão para a Dilma lá no Itaquerão. E no
Itaquerão não tinha só elite branca, não – constatou.
Na análise do ministro, segundo sua assessoria, o governo tende a
discutir, cada vez mais, a influência econômica nos meios de comunicação
e compreender que há um fenômeno de massa em curso, muito além das
arquibancadas do Itaquerão.
– O fato de se perceber agora, com clareza, a existência deste fenômeno, já incomoda muito – disse.
Reação no PT
Nesta manhã, porém, a análise político-sociológica do ministro, que é
graduado em filosofia pela Universidade Federal do Paraná com
especialização em gerenciamento público em instituições de Venezuela,
México e Espanha, foi alvo de uma pesada artilharia de dentro da própria
trincheira. Para o deputado José Guimarães (PT-CE), a declaração de Gilberto
Carvalho vai de encontro à estratégia usada por governistas para lidar
com o as vaias e os xingamentos à presidenta, que é a de apontar apenas
as classes privilegiadas como responsáveis pela demonstração de
desrespeito e de ódio a Dilma.
– O Gilberto está meio fora da casinha! Depois de todo esse
estrupício que fizeram com Dilma na Copa, ela está melhor do que
imaginava. Essa declaração está fora de propósito – disse a jornalistas o
deputado cearense.
Foi o que bastou para a oposição usar em mais um ataque ao Palácio do Planalto: -O ministro Gilberto desmentiu seu ex-chefe, desmentiu o
ex-presidente Lula. O homem de confiança de Lula deu um testemunho de
que o povo está descontente – interprebou o líder do PSDB na Câmara,
deputado Antonio Imbassahy (BA), sobre o episódio.
Ocorre, porém, que a análise de Carvalho, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil,
é mais ampla do que compreenderam setores do PT e da oposição. Carvalho
já percebeu que as críticas aos governos petistas atingem setores da
população que historicamente apoiaram o PT.
– Esse cacete diário de que nós inventamos a corrupção, de que nós
aparelhamos o Estado brasileiro, de que nós somos um bando de
aventureiros que viemos aqui para se locupletar, essa história pegou na
elite, na classe média e vai gotejando, vai descendo. Porque nós não demos combate.
Nós não conseguimos fazer o contraponto – advertiu o ministro, que é um
dos conselheiros de maior confiança tanto do ex quanto da atual
presidenta da República.
Diante da conjuntura, o ministro apontou a importância da Política
Nacional de Participação Social, lançada em maio pela presidenta Dilma
Rousseff, por meio de um decreto levantou a polêmica no país.
– A articulação com a sociedade é o único caminho capaz de compensar
essa correlação de forças brutal – afirmou Carvalho, que defende o amplo
apoio da sociedade ao projeto.
Gilberto Carvalho lembrou, ainda, que o decreto tem o propósito de
articular os canais já existentes para que a participação social se
transforme em método de governo e o povo, conforme demanda surgida nos
protestos de junho, possa participar mais efetivamente das definições
das políticas públicas. Mas o coro que vem da direita oposicionista chega ao limite de classificá-la como estratégia para implantar o comunismo no país ou transformar o Brasil em Venezuela.
Carvalho destacou também que o decreto, ao contrário do que alardeia a
oposição, não cria novos conselhos, não retira atribuições do Congresso
Nacional ou entes federativos, não desrespeita o papel dos movimentos
sociais e organizações da sociedade civil e sequer submete as instâncias
de participação social a quaisquer espécies de controle centralizado.
Os ataques ao projeto, segundo afirmou, muito mais de que uma
oposição real ao seu conteúdo, destacam a força crescente do
conservadorismo no país que quer prevalecer nas urnas.
– O decreto tem um significado simbólico muito além do prático. O que
está em jogo é uma disputa de hegemonia. E nós temos que encarar esse
debate – observou.
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