sábado, 21 de junho de 2014

Gilberto Carvalho percebe que análise política sobre Dilma ‘incomoda muito’


Gilberto Carvalho
Gilberto Carvalho criticou a passividade do governo diante 
dos ataques midiáticos

Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho foi alvo, nesta sexta-feira, de duras críticas quanto às suas declarações sobre os rumos políticos do governo Dilma Rousseff, na caminhada às eleições presidenciais de outubro deste ano. Carvalho acredita que esta será a mais difícil de todas as demais campanhas eleitorais já disputadas pelo PT. Além da correlação de forças desfavorável, o partido enfrenta 12 anos de propaganda contrária, ininterrupta, disseminada pela mídia monopolista e, agora, faz face a um novo ator social: o militante de direita virtual, contratado por partidos e facções conservadoras para disseminar mensagens de ódio político, social e racial junto ao público.

– É por isso que eu digo que essa eleição vai ser a mais difícil de todas, porque ela enfrenta o resultado desse longo processo. E a correlação de forças vai ficando cada vez mais complicada pra gente – afirmou aos jornalistas, ativistas e midialivristas que participaram, na quarta-feira, do debate sobre a Política Nacional de Participação Social.

Para o ministro, é só observar o número de parlamentares de direita com mandatos para ver que é quase um milagre que o PT tenha conseguido permanecer no poder durante este tempo.

– Do ponto de vista da governabilidade institucional, nos somos uma estrondosa minoria. Se você acrescenta ainda que nós não fizemos o debate da mídia para valer, e eu acolho as críticas, nós passamos este tempo todo com uma pancadaria diária que deu resultado. Essa pancadaria diária é o que resulta no palavrão para a Dilma lá no Itaquerão. E no Itaquerão não tinha só elite branca, não – constatou.

Na análise do ministro, segundo sua assessoria, o governo tende a discutir, cada vez mais, a influência econômica nos meios de comunicação e compreender que há um fenômeno de massa em curso, muito além das arquibancadas do Itaquerão.

– O fato de se perceber agora, com clareza, a existência deste fenômeno, já incomoda muito – disse.

Reação no PT
Nesta manhã, porém, a análise político-sociológica do ministro, que é graduado em filosofia pela Universidade Federal do Paraná com especialização em gerenciamento público em instituições de Venezuela, México e Espanha, foi alvo de uma pesada artilharia de dentro da própria trincheira. Para o deputado José Guimarães (PT-CE), a declaração de Gilberto Carvalho vai de encontro à estratégia usada por governistas para lidar com o as vaias e os xingamentos à presidenta, que é a de apontar apenas as classes privilegiadas como responsáveis pela demonstração de desrespeito e de ódio a Dilma.

– O Gilberto está meio fora da casinha! Depois de todo esse estrupício que fizeram com Dilma na Copa, ela está melhor do que imaginava. Essa declaração está fora de propósito – disse a jornalistas o deputado cearense.

Foi o que bastou para a oposição usar em mais um ataque ao Palácio do Planalto: -O ministro Gilberto desmentiu seu ex-chefe, desmentiu o ex-presidente Lula. O homem de confiança de Lula deu um testemunho de que o povo está descontente – interprebou o líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA), sobre o episódio.
 
Ocorre, porém, que a análise de Carvalho, segundo apurou a reportagem do Correio do Brasil, é mais ampla do que compreenderam setores do PT e da oposição. Carvalho já percebeu que as críticas aos governos petistas atingem setores da população que historicamente apoiaram o PT.

– Esse cacete diário de que nós inventamos a corrupção, de que nós aparelhamos o Estado brasileiro, de que nós somos um bando de aventureiros que viemos aqui para se locupletar, essa história pegou na elite, na classe média e vai gotejando, vai descendo. Porque nós não demos combate. Nós não conseguimos fazer o contraponto – advertiu o ministro, que é um dos conselheiros de maior confiança tanto do ex quanto da atual presidenta da República.

Diante da conjuntura, o ministro apontou a importância da Política Nacional de Participação Social, lançada em maio pela presidenta Dilma Rousseff, por meio de um decreto levantou a polêmica no país.

– A articulação com a sociedade é o único caminho capaz de compensar essa correlação de forças brutal – afirmou Carvalho, que defende o amplo apoio da sociedade ao projeto.

Gilberto Carvalho lembrou, ainda, que o decreto tem o propósito de articular os canais já existentes para que a participação social se transforme em método de governo e o povo, conforme demanda surgida nos protestos de junho, possa participar mais efetivamente das definições das políticas públicas. Mas o coro que vem da direita oposicionista chega ao limite de classificá-la como estratégia para implantar o comunismo no país ou transformar o Brasil em Venezuela.

Carvalho destacou também que o decreto, ao contrário do que alardeia a oposição, não cria novos conselhos, não retira atribuições do Congresso Nacional ou entes federativos, não desrespeita o papel dos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e sequer submete as instâncias de participação social a quaisquer espécies de controle centralizado.

Os ataques ao projeto, segundo afirmou, muito mais de que uma oposição real ao seu conteúdo, destacam a força crescente do conservadorismo no país que quer prevalecer nas urnas.

– O decreto tem um significado simbólico muito além do prático. O que está em jogo é uma disputa de hegemonia. E nós temos que encarar esse debate – observou.

Leia esta matéria, na íntegra, na Edição Digital deste fim de semana

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