A COPA É DO POVO
Em
outubro de 2011, começamos a cobrir uma história que não estava sendo
contada: a das comunidades afetadas pelos primeiros passos das obras da
Copa do Mundo.
Faltavam ainda 30 meses para o apito inicial, e esses temas não apareciam nos jornais nem na TV que, mesmo nas reportagens que iam além do esporte e da festa, concentravam-se apenas nos prazos e custos das obras.
A tarefa não foi fácil: não havia ainda uma Lei de Acesso à informação, e os governos disponibilizavam pouquíssima informação sobre seus planos – seja para as comunidades ameaçadas de remoção, seja para os jornalistas.
Faltavam ainda 30 meses para o apito inicial, e esses temas não apareciam nos jornais nem na TV que, mesmo nas reportagens que iam além do esporte e da festa, concentravam-se apenas nos prazos e custos das obras.
A tarefa não foi fácil: não havia ainda uma Lei de Acesso à informação, e os governos disponibilizavam pouquíssima informação sobre seus planos – seja para as comunidades ameaçadas de remoção, seja para os jornalistas.
Foi assim que nasceu o Blog Copa Pública, uma experiência de jornalismo cidadão. Enquanto as fontes oficiais se mostravam relutantes em discutir os rumos da Copa, comitês populares se organizavam nas 12 cidades-sede para documentar, analisar e resistir às ameaças que pessoas e comunidades estavam sofrendo em nome da Copa. Era preciso ouvi-los.
Afinal, o que essas pessoas tinham a contar era brutal: em diversos cantos do país, direitos básicos, como uma simples explicação sobre o destino das famílias que seriam removidas, ou o valor das indenizações, eram ignorados pelo poder público. As denúncias eram recorrentes:
Hoje,
a apenas alguns dias do começo da Copa, essas histórias parecem
bastante distantes. Mas para muitas pessoas a Copa significou a perda
das suas casas, suas lembranças, seus laços e suas comunidades.
Conhecemos algumas delas nesse percurso:
Ao mesmo, tempo,
começaram a brotar, a princípio tímidos, associações e grupos que foram
aprendendo mais sobre os seus direitos e se unindo para lutar para ter
seus direitos respeitados.
Em muitos casos, a pressão popular organizada conseguiu de fato reverter ou amenizar os intentos iniciais do poder público.
Em muitos casos, a pressão popular organizada conseguiu de fato reverter ou amenizar os intentos iniciais do poder público.
Comunidade da Paz
Em Itaquera, na Comunidade da Paz, moradores vivem sem água, sem energia elétrica e com medo de serem despejados a qualquer momento Veja a reportagemPorto Alegre
Em Porto Alegre, 1.400 famílias que vivem na rota das obras da Copa exigem contrapartida clara do governo para desocupar suas casas Relembre essa históriaSão Paulo, Itaquera
Moradores e movimentos sociais lançam plano alternativo a remoções em Itaquera às vésperas da visita do GT de Moradia Adequada da Presidência da República. EntendaVila Autódromo, Rio
“Estamos aqui e vamos ficar” Moradores da Vila Autódromo lutam para incluir despejos na pauta da Rio+20 Saiba maisSanta Teresa, Rio
Os tradicionais bondinhos de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, esperam uma solução. Moradores dizem que o sucateamento levou a acidente que matou seis pessoas em 2011. Entenda5 X vitória
Conheça cinco vitórias populares em Natal, Salvador, Belo Horizonte,
Fortaleza e Rio contra violações aos direitos à cidade, à moradia, ao
trabalho, à cultura e ao esporte Leia mais
Quem dera ser um peixe
Enquanto o Ceará sofre um dos períodos mais
crueis de seca de todos os tempos, Governo do Estado investe R$ 285,7
milhões em aquário.
Três anos depois do governo anunciar o aquário, a população da capital Fortaleza exigiu um referendo para dizer se quer ou não a obra
Mobilidade abandonada
Vendidas como o principal legado da Copa de 2014 para população, obras de mobilidade urbana foram abandonadas. Leia a reportagemTabu das arquibancadas
Enquanto torcedores formam grupos para dar visibilidade à homossexualidade, organizadas temem perda de espaço. Discussão sobre homofobia no futebol é inadiável. VejaBig Brother
Com a Copa, Brasil vira mercado prioritário da vigilância. Gigantes do setor obtêm contratos em diversas cidades para monitorar brasileiros durante os jogos de 2014. EntendaManaus e a Copa
Vendida como a capital da floresta, Manaus acumula decepções com as obras – que já mataram três operários – sem retorno para os moradores. ConheçaBoias-frias do futebol
A Pública visitou o universo dos pequenos times e dos jogadores profissionais desempregados e subempregados que o Bom Senso F.C denuncia. Abuso é pouco, constatou. Leia maisArena Amazônia
Andrade Gutierrez enfrenta ação do MPT por acidentes de trabalho. Desde o início das obras, três operários morreram. RelembreReportagem em quadrinhos
Durante três meses, nossa equipe de repórter e
quadrinista percorreu estradas do Ceará em busca da teia da exploração
sexual de meninas para a Copa. Aqui você os acompanha na primeira
reportagem em quadrinhos da Pública, em cinco capítulos.
Eleito
senador em 2010, o ex-atacante Romário surpreendeu todo mundo ao se
tornar porta-voz de críticas duras à FIFA e à organização do mundial.
“Brasileiros, continuem cobrando e se manifestando porque essa palhaçada
vai piorar quando tiver a um ano e meio da Copa. O pior ainda está por
vir, porque o governo deixará que aconteçam as obras emergenciais, as
que não precisam de licitações. Ai vai acontecer o maior roubo da
história do Brasil.”, escreveu em março de 2012.
Aos poucos, outros jogadores de futebol aderiram e começaram a criticar abertamente a Copa do Mundo. Vários deles encontraram no Copa Pública o canal para expressar sua opinião publicamente. “O futebol, na verdade, é um paraíso de oportunistas. As pessoas se acham no direito e na condição de gerenciarem, de administrarem o esporte mais popular do país sem o menor preparo, sem a menor ética”
Aos poucos, outros jogadores de futebol aderiram e começaram a criticar abertamente a Copa do Mundo. Vários deles encontraram no Copa Pública o canal para expressar sua opinião publicamente. “O futebol, na verdade, é um paraíso de oportunistas. As pessoas se acham no direito e na condição de gerenciarem, de administrarem o esporte mais popular do país sem o menor preparo, sem a menor ética”
Paulo André
Palavra de jogador – Paulo André, do Corinthians: “Hoje temos cargos políticos e não técnicos para conduzir o futebol” Leia a entrevista
Meu caro amigo
Afonsinho, ex-Botafogo: “Falta democracia no esporte e no futebol” – Ídolo alvinegro critica financiamento público do futuro estádio do Corinthians e lamenta a estrutura de base do futebol. Saiba maisFala, Zico
“Os dirigentes não cuidam dos clubes como cuidam de suas empresas” – o maior ídolo flamenguista se mostra entusiasmado com a Copa, mas critica a estrutura e os dirigentes do futebol brasileiro. LeiaNosso grande parceiro, o jornalista investigativo britânico avisou no evento de inauguração da Agência Pública em 2011 que ia, com seu jornalismo, tirar as calças do Ricardo Teixeira. E tirou – dele e da FIFA. Agora, o rei está nu.
Quatro
meses depois ele voltou ao Brasil a convite da Comissão de Educação,
Cultura e Esporte do Senado, onde denunciou que o então presidente da
CBF estava sendo investigado na Suíça porque recebeu propina da ISL,
ISL (International Sport and Leisure, empresa de marketing que foi
ligada à Fifa. Teixeira renunciou à CBF em março de 2012, e logo depois
mudou-se para Miami, onde mora desde então numa mansão milionária.
Mas o incansável jornalista não parou por aí. Andrew revelou ainda mais detalhes sobre as investigações sobre figuras-chave da FIFA, como Teixeira, Blatter e Grandona.
Mas o incansável jornalista não parou por aí. Andrew revelou ainda mais detalhes sobre as investigações sobre figuras-chave da FIFA, como Teixeira, Blatter e Grandona.
Era um dia normal no escritório do Departamento de Finanças da FIFA.
De repente entrou o membro do Comitê Executivo, Ricardo Teixeira,
carregando uma mala grande e pesada. “O que podemos fazer pelo senhor?”,
lhe perguntaram. Teixeira abriu a mala e despejou espantosos US$
400.000,00 em dinheiro vivo!
Ele disse que era um pagamento adiantado à CBF para cobrir os custos da participação na Copa do Mundo de 1998, na França. Ninguém no Departamento de Finanças ousou perguntar por que Teixeira estava carregando tal volume em dinheiro vivo, nem onde ele tinha conseguido aquilo – ou o que estava fazendo com aquela mala em 2000, 18 meses depois do fim da Copa de 1998.
Se aquilo já era muito esquisito, logo ficaria ainda mais. Teixeira disse aos membros do Departamento de Finanças que queria que eles pegassem o dinheiro e o transferissem para a conta da CBF. Os funcionários ficaram confusos – eles responderam que aquele valor já havia sido pago à confederação. Mas quando checaram, não havia registro de entrada do dinheiro na CBF. Os funcionários então concordaram em depositar o dinheiro para a CBF – mas insistiram que o valor fosse para a conta da confederação e registrado como um pagamento.
“Ah não”, disse Teixeira, “não é isso que eu quero.”Em vez disso, ele pediu para que lhe devolvesse o valor, mas desta vez em um cheque. Surpreendentemente, foi atendido. Naquele momento, a sede da FIFA passou de casa oficial do futebol à lavanderia de dinheiro ilegal. Alguns dias depois Teixeira mudou de ideia, voltou ao escritório da FIFA, devolveu o cheque e pediu o seu dinheiro de volta. Surpreendentemente, o Departamento de Finanças da FIFA concordou e deu a ele US$ 400.000,00 de volta em uma mala.
Ele disse que era um pagamento adiantado à CBF para cobrir os custos da participação na Copa do Mundo de 1998, na França. Ninguém no Departamento de Finanças ousou perguntar por que Teixeira estava carregando tal volume em dinheiro vivo, nem onde ele tinha conseguido aquilo – ou o que estava fazendo com aquela mala em 2000, 18 meses depois do fim da Copa de 1998.
Se aquilo já era muito esquisito, logo ficaria ainda mais. Teixeira disse aos membros do Departamento de Finanças que queria que eles pegassem o dinheiro e o transferissem para a conta da CBF. Os funcionários ficaram confusos – eles responderam que aquele valor já havia sido pago à confederação. Mas quando checaram, não havia registro de entrada do dinheiro na CBF. Os funcionários então concordaram em depositar o dinheiro para a CBF – mas insistiram que o valor fosse para a conta da confederação e registrado como um pagamento.
“Ah não”, disse Teixeira, “não é isso que eu quero.”Em vez disso, ele pediu para que lhe devolvesse o valor, mas desta vez em um cheque. Surpreendentemente, foi atendido. Naquele momento, a sede da FIFA passou de casa oficial do futebol à lavanderia de dinheiro ilegal. Alguns dias depois Teixeira mudou de ideia, voltou ao escritório da FIFA, devolveu o cheque e pediu o seu dinheiro de volta. Surpreendentemente, o Departamento de Finanças da FIFA concordou e deu a ele US$ 400.000,00 de volta em uma mala.
Quando
José Maria Marín assumiu o comando da CBF, ele foi buscar o passado do
novo chefão do futebol brasileiro – e ficou chocado com o que descobriu:
Qual o papel do chefão da CBF no assassinato de Vladimir Herzog?
Um jogo cada vez mais sujo
Em maio de 2014, a um mês do início da Copa do Mundo, Jennings lançou no Brasil o livro “Um jogo cada vez mais sujo”, pela Panda Books. E avisou: “Eles estão roubando vocês”. O esquema revelado por Jennings baseia-se na distribuição de ingressos às associações nacionais de futebol integrantes da FIFA – como a CBF – em troca de apoio político. Depois, os ingressos são vendidos no mercado negro. Leia a entrevistaEnquanto nas ruas a população foi às ruas em diversas cidades, o Blog Copa Pública continuou acompanhando seus motivos e checando as informações. Produzimos um relato dos principais protestos através do Storify:
P2 em Salvador
Descobrimos também que, na Bahia, a PM estava Infiltrando agentes nos movimentos e monitorando as redes sociais. “A gente busca saber quem é o líder, porque se ele for neutralizado o movimento perde a cabeça”, explica o oficial da PM. Continue lendoQuem grita ‘Não vai ter Copa’?
Nos meses seguintes, quando foram anunciados protestos mensais em 2014, fomos buscar entender quem estava protestando e por que. Veja a reportagemO inquérito Black Bloc
Foi assim que chegamos ao “Inquérito Black Bloc”, da polícia civil de São Paulo, que intimou 300 pessoas para depor e busca enquadrar o Black Bloc como associação criminosa. Veja a reportagem
Seja
como for o campeonato, a organização e a participação popular já
bateram o recorde nesta Copa do Mundo. Essa foi a história de como os
brasileiros conseguiram retomar o protagonismo do maior evento esportivo
do futebol mundial. Leia a nossa cobertura completa no Blog Copa Pública.
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