Críticas a Barbosa se multiplicam após ataques aos ministros do STF
Após a derrota para a maioria do Plenário, no Supremo Tribunal Federal (STF),
o ministro Joaquim Barbosa, presidente da Corte e relator da Ação Penal
(AP) 470, chamada de ‘mensalão’ pela mídia conservadora, ou de
‘mentirão’ na imprensa independente, sofrerá um novo revés, em breve.
Ele verá todo o julgamento ser questionado, uma vez que a quadrilha que
afirmava existir, no bojo do processo, simplesmente foi desconsiderada
por seis dos ministros do Supremo.
Em não havendo quadrilha, o ex-ministro José Dirceu, por exemplo, não
poderia ser alvo das acusações que o colocaram no centro da tese de
‘domínio do fato’, o que lhe significou parte da pena que cumpre, hoje,
em regime fechado, quando deveria cumpri-la em regime semiaberto. Este
será um dos fatos questionados pela defesa dos réus.
O julgamento dos embargos infringentes, recursos que poderiam
reverter as condenações, representa o fim do andamento do processo no STF,
mas ainda resta uma última possibilidade para os condenados tentarem
mudar os rumos dos fatos e, por conseguinte, as penas impostas pela
Corte: a revisão criminal, uma nova ação que poderá ser apresentada
individualmente por cada condenado.
Nesta quinta-feira, durante o julgamento dos embargos infringentes, o STF
decidiu, por maioria de votos, absolver os réus do crime de formação de
quadrilha. No dia 13 de marco, serão analisados mais três recursos em
relação ao crime de lavagem de dinheiro.
A absolvição por formação de quadrilha não altera as condenações dos
réus do mensalão pelos demais crimes. Dirceu, Delúbio e Genoino cumprem
pena por corrupção ativa. Os ex-dirigentes do Banco Rural estão presos
por lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e evasão de divisas. O
núcleo de Valério cumpre pena por corrupção ativa, peculato e lavagem –
Ramon e Valério foram punidos também por evasão.
Em relação a esses crimes, para os quais não cabem mais recursos no
processo do mensalão, os condenados poderiam entrar com revisão
criminal. A revisão criminal somente poderá ser apresentada quando não
couber mais nenhum recurso contra as condenações.
Discurso virulento
Em artigo publicado nesta sexta-feira, a colunista da Rede Brasil Atual
(RBA) Helena Sthephanowich atentou para o fato que, ao fim do capítulo
do julgamento dos embargos infringentes na AP-470 que absolveu José
Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e outros réus do crime de formação
de quadrilha, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa,
o último a votar – quando já não era mais possível reverter o veredito –
“fez um discurso com frases de efeito tais como ‘alertar à nação’,
‘sanha reformadora’ etc”.
“Aos olhos de quem trabalha com a divulgação de informação, ficou
claro que se tratava de uma fala que poderia perfeitamente ser editada
pelos telejornais, reforçando o viés moralizador de uma potencial
campanha política dele, Joaquim Barbosa”, afirmou a colunista.
O discurso, no entanto, foi esvaziado nas edições dos jornais
televisivos noturnos, para frustração do autor, e sobraram críticas ao
comportamento do presidente da mais alta corte de Justiça do país.
Segundo o jornalista Miguel do Rosário, em seu blog, “o fato de estar publicada na CBN, que pertence às organizações Globo,
mostra que não está sendo possível conter a avalanche de críticas ao
JB. Ela está vindo com muita força, de todos os lados, de pessoas
esclarecidas e preocupadas com o direito, com a justiça e, sobretudo,
com a democracia, conceitos agredidos violentamente pelo sociopata
político Joaquim Barbosa”.
“O cientista político Claudio Couto, da Escola de Administração
Pública da FGV de São Paulo, acusou o presidente do STF, Joaquim
Barbosa, de fazer acusações de cunho político e partidário contra seus
colegas e contra a presidente da República. ‘Ele não podia fazer isso,
pois um juiz deve ser neutro’, diz Couto. Ele aborda ainda a
possibilidade de o STF reverter decisões sobre o ‘mensalão’, mesmo que
isso contrarie a ‘opinião pública’. Couto lembra que o STF deveria ser
uma instituição contra-majoritária, ou seja, mais preocupada com os
direitos individuais do que com a opinião da maioria, até porque é uma
opinião contingente e volátil, que hoje pode estar de um lado, e amanhã,
de outro”, afirmou.
“Com a expressão de ‘alerta ao Brasil’, Joaquim Barbosa fez
praticamente um chamamento ao golpe. Foi o que entendi após ouvir essa
entrevista de Couto. E é isso mesmo o que eu acho que Barbosa fez:
chamou um golpe. Ou preparou os fundamentos de seu discurso eleitoral,
cometendo um gravíssimo crime político, em dose dupla: juiz não pode
exercer atividade político-partidária e não se pode usar a TV Justiça
para veicular propaganda política”, concluiu.
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