Equador concede asilo a Snowden enquanto Londres e Washington se veem diante censura mundial
O ex-espião norte-americano Edward Snowden, que revelou a existência de um big brother global capaz
de captar, armazenar e decodificar todas as comunicações móveis
mundiais e a Internet, deixou Hong Kong no início deste domingo (horário
de Brasília), com destino ao Equador. Snowden abandonou Hong Kong
pouco depois do seu passaporte ter sido cancelado pelas autoridades
norte-americanas, que o acusaram de espionagem, e no dia seguinte às
suas revelações à imprensa chinesa sobre a vigilância da NSA às
mensagens SMS dos chineses. O ex-espião viajou na companhia de Sarah
Harrison, uma das colaboradoras mais próximas de Julian Assange. O Wikileaks
divulgou, em comunicado, neste domingo que Snowden pediu ajuda à
organização garantir a sua segurança. O ex-juiz espanhol Baltazar
Garzón, que dirige agora o departamento jurídico da Wikileaks,
afirmou que “o que Snowden e Assange – por revelarem ou facilitarem a
revelação de assuntos de interesse público – sofrem um ataque conta as
pessoas”.
O avião de Snowden aterrissou nesta tarde em um aeroporto de Moscou,
em trânsito para o Equador. Minutos depois, o ministro equatoriano dos Negócios Estrangeiros, Ricardo Aroca, confirmou no Twitter ter recebido, e liberado, um pedido de asilo por parte de Edward Snowden.
Neste sábado, Assange, líder da Wikileaks, assinalou o seu
primeiro aniversário enquanto hóspede forçado da embaixada equatoriana
em Londres com um comunicado em que destaca o caso de Edward Snowden.
“A privacidade humana foi erradicada em segredo”, declarou Assange, chamando a atenção para a
situação paradoxal das últimas semanas: “O governo dos EUA espiona cada
um de nós, mas o Edward Snowden é que é acusado de espionagem por nos
avisar disso”. Assange lança duras críticas a Barack Obama, cuja
administração já conta com oito acusações de espionagem a pessoas que
divulgaram à opinião pública informação que os EUA preferiam manter em
segredo.
Pedido de explicações
O tema da espionagem da NSA ofuscou a visita de Obama à Alemanha na
semana passada, no meio de comparações entre a ação do governo
norte-americano e as antigas práticas da polícia política Stasi, na
antiga RDA. Os dados recolhidos acerca do programa PRISM, que permite
aos EUA escutarem todas as comunicações geridas pelas maiores empresas
na internet (Google, Apple, Microsoft, Yahoo, Facebook…), concluíram
também que a Alemanha foi o país europeu mais grampeado pelos espiões
dos EUA.
Mas na sequência das revelações de Snowden, uma investigação do Guardian
concluiu que o programa Tempora, da agência de espionagem britânica
CGHQ, ainda tem maior capacidade de escuta do que o Prism, para além da
capacidade de armazenar durante 30 dias todas as comunicações que passam
nos cabos de fibra ótica sob vigilância, dados que são depois
partilhados com a NSA norte-americana.
“Se estas acusações tiverem fundamento, isso seria uma catástrofe”,
declarou em nota, neste sábado, a ministra alemã da Justiça. Para Sabine
Leutheusser-Schnarrenberger, as acusações contra o Reino Unido “parecem
saídas de um filme de terror de Hollywood. As instituições europeias
devem procurar desde já clarificar a situação“, concluiu.
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