Polícia para quem precisa;
breve relato sobre minha detenção
Narrado por Francis Juliano
Foto: Betto Jr. / Ag. Haack / Bahia Notícias
Fui
detido porque revidei ao xingamento desferido por um policial, depois
de, junto com a equipe do Bahia Notícias, representada pelo seu editor
Evilásio Júnior e o repórter Alexandre Galvão, ter
questionado a agressão sofrida por um colega de imprensa, o repórter
fotográfico Almiro Lopes, quando ele cobria as manifestações que
ocorriam neste sábado (22) em Salvador. A cidade inteira
acompanha os protestos que se iniciaram desde a última quinta-feira
(20), reflexo de um movimento nacional que exige uma série de demandas, a
exemplo da redução do preço de passagens de transporte público,
melhoria na mobilidade urbana, esclarecimento dos gastos com a Copa do
Mundo, fim da corrupção e da insegurança, entre outras coisas, e que nós
estávamos ali, assim com a policia, para trabalhar. Cada um na sua e
com respeito recíproco. Pois bem, a fatídica cena ocorreu nas imediações
do Shopping Iguatemi quando flagramos o ocorrido e fomos procurar o
porquê da ação. Foi quando se iniciou uma discussão entre um policial e
Evilásio sobre se o colega tinha feito imagem ou não do agente. Houve
primeiro, a recusa do PM em informar o ocorrido sobre o fotógrafo e, ato
contínuo, o acirramento do conflito, quando o soldado partiu para cima
do jornalista, desaprovando a atitude do editor do BN. Mas não ficou por
aí. Ele o empurrou, o atingiu em seguida com spray de pimenta e
desforrou xingamentos. Foi quando questionei tal atitude, e, para
espanto, o cidadão veio na minha direção e me xingou repetidas vezes “vá
tomar n...”. Sei que o revide, muitas vezes, não é o melhor caminho,
mas devolvi o palavrão ipsis literis com a força da indignação. Depois,
recebi um spray de pimenta no rosto, fui jogado no chão e algemado. Logo
após, me encaminharam para a 16ª Delegacia de Policia, na Pituba, não
sem antes passar pela frente e pelo estacionamento do shopping na
condição de detido. Na chegada da viatura, tiraram as algemas e fui
conduzido no banco de trás do veículo. Dali até o final mais nenhuma
agressão. Quando lá, tive que esperar a chegada do coronel Nascimento
que encaminhou a minha liberação. O fato, no meu caso, exprime um ato de
soberba policial, mas sei que se reproduz em muitos da mesma forma,
todos os dias nas cidades desse estado. Principalmente contra aqueles
menos favorecidos social e economicamente, o que é, na maioria das
vezes, um contrassenso, pelo fato de a polícia também ser povo e sofrer
na pele o que isso significa. Mas também sei que a truculência nunca foi
o pensamento de muitos da Policia Militar da Bahia, desde os chamados
praças até os de escalões mais prestigiados da corporação. E eu tenho
amigos na PM-BA que jamais fariam aquilo. Mas o buraco é mais embaixo, e
o incidente só reafirma o quanto temos pessoas despreparadas para a
função do policiamento ostensivo. Todos estavam de cabeça quente na
ocasião, mas quem é pago para servir ao cidadão em situações de emoções à
flor da pele tem de ter o mínimo de preparação. Ou então, não serve
para o serviço público. Tomara que o episódio sirva para a corporação
refletir sobre o ocorrido e pensar melhor sobre a sua necessária e vital
atribuição. Não fui o primeiro a sofrer truculências e, do jeito que
vai, não serei o último. O bordão é cansado, mas nunca deixa,
infelizmente, de ser atual: policia para quem precisa de polícia.
Fonte: Bahia Notícias
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