sexta-feira, 22 de junho de 2012

CRÔNICA

Reflexões de um idoso
Por Erivaldo Brito

AO CONDUZIR a minha mãe pelo braço na solenidade religiosa comemorativa dos seus noventa anos de existência, ela que fora, ainda ontem, tão ativa, que esbanjava vitalidade, caminhava trôpega, vacilante, enquanto eu divagava o meu pensamento: e se eu, mercê de Deus venha a alcançar tal idade? Longevidade, meninos e meninas, além de nos cobrar um preço muito alto, rima com obscuridade, inutilidade, necessidade, imobilidade, inatividade, etc, etc.

A minha mãe, hoje, recebe os cuidados do meu irmão caçula, Raimundo, mais conhecido como Aroldo. No entanto, o seu devotamento e obstinada paciência administrando a casa e os parcos recursos advindos das pensões deixadas pelo meu pai e meu irmão, Edenildo, custou-lhe o constrangimento de comparecer à delegacia e no próximo dia 28 à Justiça, em face de uma denunciação caluniosa anônima de “maus tratos”!!!
Como eu estava dizendo no início, de repente bateu-me a angustia de quem irá amparar-me na que inventaram chamar de “melhor idade”? Será que mandarão internar-me num Abrigo ou então na Casa dos Velhos na minha terra natal, entidade pela qual dediquei muitos meses animando as matinais domingueiras no Cine Glória para angariar fundos para sua implantação? Não sei. Não sabe ninguém. O que eu sei é que, por temperamento, como disse Raul Seixas, não vou ficar “sentado num apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar”.
Por isso estou sempre exercitando os neurônios para espantar a esclerose e/ou o mal de Alzheimer.
Lucas, o Evangelista, no capítulo 15 versículos de 11 a 21, fala-nos de uma conhecidíssima parábola, a do Filho Pródigo, que é, em resumo, um verdadeiro ensinamento da existência do amparo e acolhimento para aquele que efetivamente se arrepende, enquanto Paulo, falando para nós, os gentios, dirigindo-se à Igreja de Éfeso onde ele atuou por três anos, escreveu que se “deve honrar pai e a tua mãe (que é o primeiro mandamento com promessa), para que te vá bem e sejas longa vida sobre a terra”. (Epístola aos efésios, capítulo 6 versículo 1).
Considero-me, sim, um idoso. Não há como negar. Idoso e não velho, porque velho é sinônimo de coisa imprestável. Idoso, sim, porque ainda aprendo com a vida, ainda sonho como os moços, enquanto o velho simplesmente dorme. Acomoda-se.
Finalmente, ao ser chamado para fazer parte da homilia, enquanto me concentrava para fazer a leitura a mim destinada, desapareceu o meu temor da longevidade, de quem irá amparar-me quando as minhas pernas não puderem mais me sustentar, ao lembrar-me do Salmo 121 de David:
“Elevo meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro? O meu socorro virá do Senhor que fez o céu e a terra, Ele não permitirá que os teus pés vacilem”.

*Erivaldo Brito, advogado, é baiano da Cachoeira, Cidade Histórica e Monumento Nacional, radicado na Cidade Maravilhosa do Rio de Janeiro.

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