segunda-feira, 16 de abril de 2012


PF: país foi fatiado pelas quadrilhas de contraventores

Jogo do bicho se sofistica e amplia sua atuação em outros estados

RIO - Relatórios em poder da Polícia Federal mapeando as ações de algumas quadrilhas ligadas ao jogo ilegal no país revelam que contraventores aparentemente de pouca expressão se movimentam quase sempre associados a grandes bicheiros brasileiros.

As investigações mostram que o país foi fatiado pelas quadrilhas de contraventores. No Centro-Oeste, por exemplo, o principal nome é o de Carlinhos Cachoeira - cuja quadrilha teve métodos de atuação revelados em detalhes pela operação Monte Carlo. De Goiás, o bicheiro controlava também o jogo ilegal em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal.

Outro grupo de contraventores com atuação interestadual é bem conhecido dos cariocas. São os decanos do bicho: Aniz Abrahão David, o Anísio, patrono da Beija-Flor; Ailton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães; Antônio Petrus Kalil, o Turcão, e Luiz Pacheco Drummond, o Luizinho Drummond, presidente de honra da Imperatriz Leopoldinense.

Do Rio, eles controlam as apostas na regiões Norte (principalmente Manaus e Belém), Nordeste (Salvador, Fortaleza e Recife) e Sudeste (Minas, Espírito Santo e Rio).

Completa a lista até agora identificada pelas autoridades policiais o bicheiro paulista Ivo Noal, que ainda é quem manda em São Paulo e Santa Catarina. Ele é apontado em diversas investigações como o capo da jogatina no mais rico estado brasileiro.

Conexões com mafiosos de outros países

Usando velhos métodos mafiosos - infiltração e cooptação de autoridades públicas - os bicheiros também estão apostando em sofisticação. No Sudeste, no Norte e no Sul, policiais federais já encontraram indícios suficientes de conexões ligando contraventores brasileiros aos mafiosos israelenses, russos e espanhóis.

Na base dos novos negócios, equipamentos eletrônicos modernos, capazes de permitir ao bicheiro que ele tenha, on-line, condições de aferir instantaneamente o lucro de cada uma de suas máquinas caça-níqueis. Também teriam selado acordos para novos métodos de lavagem de dinheiro, como o investimento em pedras preciosas e importação de carros de luxo.

Um bom exemplo de como o país tem sofrido com a ação de mafiosos brasileiros que lotearam o território nacional para explorar os jogos ilegais foi verificado pela Polícia Federal na turística cidade de Caxias do Sul, famosa pelos vinhos e pelas noites geladas e a cerca de 120 quilômetros de Porto Alegre.

Depois de experimentar nos últimos anos um grande crescimento econômico - o município passou a ser um dos mais ricos do Rio Grande do Sul -, os cerca de 500 mil habitantes de Caxias do Sul perderam o sossego com a invasão de máquinas caça-níqueis levadas para a região por um grupo do Rio, conhecido como “Os cariocas”.

O delegado federal Noerci da Silva Mello, chefe da Delegacia da PF de Caxias do Sul, explicou que as máquinas caça-níqueis começaram a chegar ao comércio da serra gaúcha em 2005 no rastro da repressão nacional aos bingos.

Pelo menos quatro fábricas de máquinas passaram a operar na região. Com as maquininhas vieram também as disputas de território e dezenas de assassinatos, influindo nos índices de violência da região.

Em 2007, Noerci comandou a Operação “Oitava Praga” levando à prisão 51 pessoas divididas em seis organizações criminosas. Segundo o delegado, o grupo faturava cerca de R$ 2 milhões por dia e era especializado na fabricação e distribuição de máquinas caça-níqueis em toda a região sul do país.

Um ano depois da deflagração da operação, os policiais federais conseguiram rastrear os bens da quadrilha, e a Justiça decretou o sequestro de 75 veículos, cerca de um milhão de reais em dinheiro movimentado em várias contas bancárias. Setenta e duas pessoas foram indiciadas, entre elas, 12 policiais civis, dois militares e um policial federal aposentado.

- Apesar da operação, notamos que o grupo do Rio voltou a atuar na região Sul, principalmente na Serra Gaúcha - informou o delegado.


Fonte:

Antonio Werneck / O Globo

blog de Chico Bruno



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