segunda-feira, 31 de outubro de 2011

CACHOEIRA/BAHIA

Os 120 anos do Asilo Filhas de Ana
Por Erivaldo Brito

Na quinta-feira passada, ao escrever para este blog sob o título de “Precedente Inesperado”, enfocando a visita de uma comitiva cachoeirana ao então governador Octávio Mangabeira, enquanto o nosso conterrâneo Dr. Argileu Silva fazia um patriótico discurso, Mangabeira segredava a um assessor próximo: “Vai ver que não sabe nem cantar o Hino Nacional!” A reação do nosso conterrâneo foi pedir licença, interromper o seu pronunciamento abrir o vozeirão e, ao cantar até a metade da segunda estrofe desafiar ao governador: “Agora, Excelência, prossiga!”

Esqueci-me de dizer qual foi a reação de Mangabeira. Ele puxou os aplausos que se estrepitaram por todo o salão, abraçou efusivamente o Dr. Argileu e comentou alto para que todos o ouvissem: “O senhor tem a voz mais bonita que eu já ouvi cantar, meus sinceros parabéns!” Elogiou, porém, “quebrou o pau no ouvido” e não cantou a estrofe restante a que fora desafiado.

Feita a ressalva, com as minhas desculpas ao amigo professor Pedro Borges e aos ledores deste blog, passo a falar sobre uma efeméride que na certa passou em branco: a passagem dos 120 anos de fundação do Asilo Filhas de Ana, no dia 27 de setembro transato. Escrevi um artigo para uma pretensa edição comemorativa do jornal A Cachoeira que não veio a lume por motivos que sinceramente desconheço nem fui justificado.

Como disse no inícios, no dia 27 de setembro de 1891, há 120 anos passados, portanto, o ferroviário Antônio Carlos da Trindade Melo, concretizava o seu ideal de fundar em sua terra natal uma instituição para amparar as crianças órfãs, meninas desprovidas de qualquer apoio de familiares ou governamental.

Classificado pelo antigo jornal O Guarany de propriedade da viúva Mota, como sendo “uma pessoa de elevado sentimento de generosidade, sereno, íntegro, competente, firme nas suas decisões sem ser um ditador, educado e gentil, sem ser bajulador”, Antônio Carlos da Trindade Melo, mesmo sendo uma pessoa de parcos recursos, alugou um sobrado na Rua 13 de Maio, de propriedade do Comendador Manoel Antônio da Silva Pinto, onde a benemérita instituição passou a funcionar.

O incansável Antônio Carlos da Trindade Melo, já com o seu Asilo em pleno funcionamento, promoveu num domingo, dia 22 de setembro de 1894, a primeira regata sobre o rio Paraguaçu. Naquela tarde ensolarada, grande número de Senhoras e Cavalheiros lotavam a Praça dos Arcos (atual Teixeira de Freitas), animados pela Filarmônica Minerva Cachoeirana que executava as mais belas peças do seus arquivo e, a cada música executada, o público presente irrompia em aplausos. Uma boa arrecadação se deu em face das vendas de pules de apostas. O primeiro páreo foi vencido pelo barco Boccacio, e o segundo pelo barco Lucy.

Depois de haver adquirido a sede própria da Instituição, Tindade Melo sentindo-se velho e cansado, passou oficialmente a direção do Asilo Filhas de Ana para as Irmãs Sacramentinas, naturalmente com a obrigatoriedade de elas continuarem com o projeto original. Como diriam os romanos, Juris et de Jure (de Direito e por Direito).

Salvo melhor juízo, as piedosas religiosas optaram por priorizar o ensino, que embora seja privado, não deixa de ser meritório, todavia, a memória do idealizador da instituição e os seus ideais não a deveriam perecer, razão pela qual fazemos este pálido registro.

Um comentário:

  1. ....e com relação ao dr Argileu Silva (que conheci e era promotor de Lençóes), ouvia contar a história do hino nacional que se deu com o interventor general Pinto Aleixo. O certo mesmo não sei.

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