Na qualidade de ex-Vereador, ou melhor dizendo, por ser amigo pessoal do então presidente da Casa, Lirio Rodrigues, fui convidado para ser o orador oficial da reforma do Plenário cachoeirano.O meu pronunciamento, como as dezenas de discursos ali mesmo feitos, não surtiu efeito prático nenhum. Aplausos burocráticos ao término e esquecimento total no dia seguinte.
Lembro-me de haver dito que, a comunidade de Feira de Santana já estava mobilizada a fim de colher os frutos quando do enchimento do reservatório de Pedra do Cavalo, havendo sido criado na referida cidade um Iate Clube, dentre outras coisas. Falei que o nosso povo, de um modo geral, aprendeu a olhar o futuro com o binóculos virado ao contrário, ou seja, as coisas ficam mais distantes do que na realidade estão.
Acabei ilustrando aquela conversa coloquial com a velha anedota do sujeito que estava viajando em seu automóvel quando de repente notou que,o mesmo estava puxando para dentro da pista. Ele então parou no acostamento e viu que o pneu estava furado. Abriu o porta mala e...Merda ! Havia levado o estepe, sim, mas esquecido o “macaco” Não deu pra segurar: soltou aquele palavrão.
Outra coisa não lhe restava senão aguardar ajuda, o que nem demorou, pois a estrada era movimentada. Uma enorme carreta começou a sinalizar vindo a parar no acostamento exatamente onde ele havia parado o seu automóvel. Ufa ! Tô com sorte!
O prestativo carreteiro apanhou o seu “macaco”. Apareceu então novo problema: ele não sabia como operar aquele tipo de maquinismo. O carreteiro então teve de botar a mão na massa. Então meu amigos, no momento em que o pneu ia ser trocado, caiu um inesperado aguaceiro e o carreteiro, com indisfarçável má vontade, teve de ficar na chuva porque o dono do automóvel procurou abrigo, não estava a fim de se molhar !
Finalizei o discurso traçando um parâmetro com a realidade daqueles tempos. A Cachoeira teve um passado de glória, é o berço de vários homens ilustres mas, isso não era o suficiente, havia passado, de nada adiantava, que não devíamos ficar de braços cruzados esperando que caia do céu. Como disse o poeta:“quem sabe faz a hora, não espera acontecer !”
Na página de Economia de O Globo de domingo, lemos sobre o interesse estrangeiro na exploração do minério brasileiro. Já investiram até agora US$ 7 bilhões, com os canadenses dominando o mercado, vindo, em seguida, a empresa ENRC do Cazaquistão que comprou a Bahia Mineração. A referida empresa já está instalada em Caetité e vai explorar ali as reservas de ferro.
O projeto de Caetité representa um investimento da ordem de US$ 2,5 bilhões, terá a capacidade de 19,5 milhões de toneladas ano de minério de ferro. Ah! Já ia esquecendo: estão construindo a extensão do cais e um terminal portuário, velho sonho que nós acalentamos para alavancar de vez a economia cachoeirana, com a criação da Zona Franca do Paraguaçu.]
A Cachoeira possui sim, infraestrutura suficiente para que se instale uma Companhia de Mineração. A Cachoeira possui, sim, minério suficiente para atrair investimentos estrangeiros. Ou será que todas as pedras existentes na cadeia de montanhas que circundam o município não prestam para nada ? A Embasa que sucedeu a Desenvale não tem o estudo geológico que foi feito antes e durante a execução da barragem de Pedra do Cavalo ? Ainda existe uma estatal chamada CEPED ? O estudo do solo não exige equipamentos sofisticados, um geólogo experimentado conclui seus trabalhos em poucos dias.
Quando eu falei na inauguração do novo Plenário da Câmara, estava fazendo uma alusão ao comportamento dos meus conterrâneos daquela época. Hoje, fazendo apenas uma visita anual, faço parte do pessoal da arquibancada, sem coloração política, defendendo apenas a convivência dos contrários, dos que têm pensamentos político diferente, mesmo porque, conforme disse Nélson Rodrigues, “toda unanimidade é burra !”
Quando estive na Cachoeira, vi, por exemplo, um empreendedorismo digno de notas: Dr. Pina construindo nova clínica onde funcionava a “Vozes da Primavera”; o Dr. Evandro com uma moderníssima clinica em pleno funcionamento, (fiquei imaginando como Manoelzinho iria ficar contente. Ele e Edgar Rocha, meus dois grandes amigos, eu sonhava serem prefeitos da Cachoeira),
Vi boas lojas de eletrodomésticos, farmácias,panificadores,supermercados, um sem números de bares, alguns até improvisados com um puxadinho de dois caibros e uma lona preta, nem sei mesmo como é que o Patrimônio permite.
Vi o Te Deum solene da Matriz de Nossa Senhora do Rosário ser entoado por um Grupo Coral tendo a frente o Bispo da Igreja Brasileira que criou também uma afinada filarmônica que esteve no desfile do 25 de Junho.
Vi várias casas destinadas à destruição restauradas, como por exemplo, o sobrado onde Fory instalou o seu atelier e um bom restaurante.
A sociedade cachoeirana é privilegiada por contar com pessoas do quilate do professor Pedro Borges, com o seu PolyCenter e O Guarany, os irmãos Dr. Odilon, advogado Eduardo e o fisicultor Juraci: Dr. Albérico, filho de dona Lourdes e do saudoso Alexandre da Gruta Azul: do advogado Nelsinho Aragão; do advogado Lilito; Dr. Bel; advogado e jornalista Romário Gomes; meu amigo Heraldo Cachoeira, poeta, jornalista e advogado militante no Rio de Janeiro; os irmãos César e Lu, filhos de Salu; meu xará Erivaldo “cabeção”; professor Luiz Cláudio, meu amigo Cacau, enfim, são tantas cabeças privilegiadas nem sempre disponíveis em outras cidades. E outras surgirão com o advento da Universidade.
Em se falando de Famílias, temos os Dayubes, bancários, esportistas, empresários; Família do finado seu Raulino que veio das Onze Mil Virgens em Conceição da Feira montar seu comércio na Cachoeira, deixando como legado os filhos Edinho (que foi meu colega bancário), o empresário Téo e Úrsula, atual presidente do Rotary; a Família Lobo, do saudoso amigo Nélson, cuja “alcateia” como eles próprios se intitulam, difícil escolher o mais brilhante; a Família Pereira do modesto comerciante Antônio e a costureira Mundinha, cujos filhos professor Joel e seu irmão, Edson, que revolucionou inicialmente o ramo de panificação abrindo aos domingos. Independentemente de posição política, ha-de reconhecer-se neles pessoas progressistas, empresários de visão e o que é de maior relevância para mim, investiram o capital produtivo na própria cidade onde geraram e continuam gerando dezenas de empregos, diferentemente de tantos outros considerados “ilustres”
Voltando ao tema central, quando eu estudava no Montezuma, existia no caderno uma gravura com uma historinha interessante. Dois burros amarrados por uma corda. Na extremidade duas tosseiras de capim. Cada um dos burros queria ir para um canto e, claro, nenhum dos dois conseguia o seu intento. Os burros chegaram enfiam que, sem a cooperação mútua nada seria possível eles se alimentarem.
Determinada época, a Odebrecht andou explorando no município vizinho, uma jazida e a areia do rio. Parafraseando o ex-governador Juracy Magalhães, “o que é bom para São Felix é também para a Cachoeira”. Será que o pecuarista Benedito Luz, ex-diretor da Odebrecht pode dar uma ajuda no sentido ?
No mais meus amigos,vamos proceder como o exemplo de ajuda mútua que até os burrinhos acabaram por compreender, tendo o cuidado de não cair no 3º Pecado Capital, o pecado da inveja. Na Divina Comédia de Dante Alighieri, fica no segundo compartimento do Inferno, o local onde os olhos dos invejosos “são cozidos com fio de arame”. Como disse Schopenhauer, célebre filósofo alemão cuja leitura é obrigatória para os cultores do Direito, “ninguém é realmente digno de inveja, e tantos são dignos de lástima ! “
Que a Cachoeira que eu sonhei, quando estiver em pauta o bem comum, todos trabalhem para que deles sintam inveja, como disse Agostinho, grande pensador da Igreja: “A inveja é o ódio à felicidade do outro”.
Bem, amigos, desculpem-me a não inclusão de alguém que eu poderia e devia incluir neste artigo, desculpem-me por alongar-me em demasia. Não tive a intenção de abusar. Animus abutendi como diriam os romanos.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
OPINIÃO
AJUDA MÚTUA
Erivaldo Brito
ESPECIAL PARA O GUARANY
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