Isaías 53
O espantoso Cristo
É uma das curiosas coincidências de Isaías que ele contém o mesmo número de capítulos que a Bíblia tem de livros. Ainda mais chocante é o fato que Isaías, correspondendo aos livros do Velho e Novo Testamentos, está naturalmente dividido em 39 e 27 capítulos cada um. A primeira divisão, como o Velho Testamento, fala de julgamento e encerra com um relato histórico direto da queda de Samaria sob a Assíria e a predição da queda de Judá sob a Babilônia.
Os últimos 27 capítulos de Isaías têm sido chamados o épico Messiânico do Velho Testamento. Eles são ricos de palavras de consolo: “Consolai, consolai o meu povo” (40:1). O 40º capítulo, como o evangelho de Marcos, abre com a “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do SENHOR; endireitai no ermo vereda a nosso Deus” (versículo 3; Marcos 1:1-3). O 66º capítulo, como o Apocalipse de João, encerra com uma visão dos “novos céus e a nova terra” (versículos 22-24; Apocalipse 21:1 e seguintes).
Esta potente conclusão de Isaías, com sua intensidade crescente da visão Messiânica, pode ser dividida em três partes de nove capítulos cada. Os dois primeiros concluem com a mesma advertência ominosa, “Para os perversos, todavia, não há paz, diz o SENHOR” (48:22; 57:21) e a conclusão do terceiro é ainda mais ominosa: “Eles sairão e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará…” (66:24).
Bem no meio dessa parte final fica Isaías 53, a jóia indisputada da literatura profética e a passagem que muitos têm julgado ser a maior no Velho Testamento. Certamente, nenhum capítulo dos escritores do Velho Testamento é como esse.
Nesse grande capítulo, Isaías desenvolve sua alarmante visão do Servo Sofredor de Jeová. É esta misteriosa figura, o profeta revela, quem segura em suas mãos não somente o destino de Israel, mas do mundo. Cabe a ele cumprir e responder vitoriosamente ao desafio moral do universo. Mas quem é ele? Este sofredor enigmático tem assombrado os estudos dos mestres de Israel durante séculos.
Há evidência considerável de que, tão cedo como o 2º século d.C. e tão tarde como o 17º, havia entre alguns dos rabis um sentido da natureza Messiânica de Isaías 53 (Frederick Alfred Aston, O Desafio das Eras, páginas 14-17). Não se sabe quanta influência a pressão do evangelho tinha sobre o pensamento judaico nesses anos. Mas outras vozes prevaleceram e o ponto de vista que Israel era o servo sofredor de Isaías 53 se tornou autorizado no judaísmo rabínico. Era esta posição que um rabi ortodoxo, amigo meu, tomou alguns anos atrás.
Evidência de que as palavras de Isaías continuam a ser uma carga no judaísmo é encontrada no fato que as leituras modernas na sinagoga dos profetas sempre omitem Isaías 52:12 até 53:12. Nisto, nada mudou desde o primeiro século, quando um nobre etíope, recém vindo de Jerusalém com sua riqueza de sabedoria rabínica, estava tão perplexo por este grande capítulo como sempre: “Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de algum outro?” (Atos 8:34). Os rabis entenderam o poderoso rei Messiânico prenunciado nos Salmos 2, 110 e Isaías 9:6-7, mas ficaram desconcertados pela figura agoniada do Salmo 22 e o servo sofredor de Isaías.
Mas como podem estas palavras, que falam tão claramente de uma única personagem, descrever a nação de Israel? Pode ser Israel retratado como um sofredor inocente? (53:4,5,8,9,12). Isaías descreve-a como “nação pecaminosa, povo carregado de iniqüidade…” (1:4) e como um povo sobre quem Deus derramou “o furor da sua ira” por causa dos seus pecados (42:24-25).
Tem sido Israel um sofredor voluntário, um sofredor calado? (53:7). Tem Israel sofrido em redenção amorosa pelos pecados dos outros? (53:4-6, 8, 10-12). Fazer estas perguntas é respondê-las.
Não deveria surpreender-nos que o Servo Sofredor de Jeová deixasse perplexos e confusos os antigos estudantes do Velho Testamento, ou tenha sido “desprezado e rejeitado” quando saiu das páginas de Isaías para a História. O que ele foi e o que fez nunca poderia ter sido imaginado nem previsto por uma nação e um mundo em que “cada um se desviava pelo caminho”. Ele estava destinado, verdadeiramente, a ser um Cristo espantoso.
por Paul Earnhart
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