A visita de Getúlio Vargas à Cachoeira e São Félix
POR ERIVALDO BRITO
No dia 26 de agosto de 1933, como conseqüência natural daqueles tempos, o presidente Getúlio Vargas veio visitar oficialmente Cachoeira e São Félix. A visita presidencial foi protocolar, apenas para cumprimento do script político, afinal, seria um verdadeiro contra-senso vir à Bahia e deixar de fora duas da mais importantes cidades do estado, não apenas pelo aspecto histórico mas, sobretudo, pela importância no comércio exterior na exportação de charutos, cigarrilhas e fardos de folhas de fumo beneficiadas. Depois do café, e até rivalizando com ele, era o tabaco o maior gerador de divisas para o país.
Não obstante haver recebido das autoridades dos dois municípios uma série de reivindicações, apenas uma mercê devemos assinalar: a gratuidade na passagem da Ponte D Pedro II para estudantes e operárias das fábricas de charutos, concedida pelo Ministro José Américo.
Getúlio que chefiou a Revolução de 1930, com a renúncia de Washington Luiz, ascendeu ao governo implantando um regime ditatorial intolerável, sem encontrar qualquer resistência armada e muito menos popular, afinal ele era “o Pai dos pobres”.
Coube a um gaúcho igual a ele, de nome Aparício Torelly, precursor do jornalismo crítico e bem-humorado, desmascarar a falsa seriedade da imprensa de então. Ele se autonomeou de Barão de Itararé. Itararé, conforme sabemos, foi aquela famosa batalha que nunca houve. Em pouco tempo, o Barão de Itararé tornou-se o mais ferrenho opositor de Vargas.
Vereador eleito no Rio de Janeiro pelo Partido Comunista, o Barão de Itararé, foi perseguido pela polícia secreta de Getúlio, cassado em 1947 durante o chamado “Estado Novo”. Por ocasião da sua cassação, o Barão escreveu o seguinte: “saio da vida pública para entrar na privada.“
No ano de 1945, com o retorno do regime democrático, Getúlio foi eleito senador. Numa entrevista coletiva, ao encontrar-se com o Barão no meio dos jornalistas, Vargas quis dar uma de espirituoso:
- Até tu, Barão?!
Em cima das buchas, Aparício arrematou para riso geral:
- Tubarão é Vossa Excelência, eu sou o Barão de Itararé!
Na manhã do dia 24 de agosto de 1954 eu e a minha inesquecível e saudosa esposa, Luiza Maria, éramos, então, duas crianças, “na aurora da nossa vida, da nossa infância querida que os anos não trazem mais” como bem disse o poeta fluminense Casimiro de Abreu, quando, juntamente com os adultos do sobrado 13 onde morávamos, fomos surpreendidos com uma gritalhada assustadora vinda da fábrica Leite & Alves. Alguma coisa muito grave havia acontecido. Dona Pequena, esposa do maestro Irineu Sacramento, na sacada da janela do seu sobrado, esclareceu para a “mamãe”:
- Olha, Guigui, o Zuza (prateleiro da Lira), disse para Irineu que Getúlio se matou!
Minha madrinha, Laura, apressadamente ligou o rádio ainda em tempo para ouvir o “Seu Repórter Esso” na voz inconfundível de Heron Domingues, fazendo a leitura do que passaria à história com a “Carta Testamento”
Muitas operárias tiveram de ser removidas para a Santa Casa, desmaiadas, devido ao clima de histeria geral. Contaram, depois, que na Suerdieck, a fatídica notícia causou o efeito de um moderno tsunami.
O temor lá em casa era que, operários, estivadores etc fossem promover um quebra-quebra geral e sem controle, proibindo-nos de sair naquele dia, nem ao menos para irmos à escola, naquele 24 de agosto de 57 anos passados, por causa do “rio de lama”, que para nós era como ficavam as ruas da Cachoeira depois das cheias do Paraguaçu mas, na realidade, eram denúncias contra o governo que levaram Getúlio, num gesto fatal, a dar um tiro contra o próprio peito.
O suicídio de Vargas, (que muito comentamos, eu a minha Litinha quando nos reencontramos, pois foi deveras um fato marcante), não foi apenas por causa das denúncias e dos escândalos e sim por serem elas verdadeiras. Com escreveu o Barão de Itararé (1895 – 1971), “a alma humana, como os bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis”. Nos tempos em que os sacerdotes usavam batina, claro.
O saudoso presidente Getúlio Vargas recepcionado por autoridades da Cachoeira e São Félix anda, conversa e cumprimenta o público em sua visita oficial a estas cidades, exatamente no dia 26 de agosto de 1933, há 78 anos.
Este artigo Memória e fotos são uma relíquia da história da Cachoeira e São Félix ainda da primeira metade do século XX. Parabéns ao escritor Erivaldo Brito pela fidelidade da exposição. Gostaria de saber quem são os senhores, muito bem vestidos, o que traja terno branco, um pouco à frente e o outro ao lado conversando com o presidente. Quem são eles? Será que eram os prefeitos de Cachoeira e de São Félix, naquela época. Responda, se possível, Sr. Erivaldo Brito. Hoje moro no Rio, mas sou de São Félix.Minha família (meu bisavô)tem ligação histórica com esta terra.Vou esclarecer esta parte depois.
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