DIREITO À INTIMIDADE: INFORMAR E MANTER O RESPEITO
Durante muitos anos, a imprensa americana publicou fotos do presidente Franklin Roosevelt apenas da cintura para cima. Evitava, assim, chamar a atenção para seus problemas físicos: Roosevelt, paralítico, usava cadeira de rodas.
A imprensa francesa jamais noticiou que o presidente François Mitterrand tinha duas famílias. O fato se tornou publicamente conhecido apenas em seu enterro, quando as duas esposas e os filhos de ambos os relacionamentos lhe prestaram as últimas homenagens. Para os jornalistas franceses, Mitterrand tinha de ser avaliado por sua vida pública, não por seus momentos íntimos.
O presidente Getúlio Vargas teve relacionamentos amorosos que os meios de comunicação ignoraram – por exemplo, com a famosíssima Virginia Lane, “A Vedete do Brasil”. O presidente Juscelino Kubitschek teve por longos anos um caso com a elegantíssima Maria Lúcia Pedroso. Nos dois casos, muita gente sabia, mas ninguém publicou. E por um motivo fortíssimo: tirando os envolvidos na história, ninguém tem nada com isso. Excetuando-se os casos em que o amante, ou a amante, interfere na vida pública, intimidade é intimidade e deve ser respeitada.
Neste momento, há quem insinue romances extraconjugais de figuras importantes da República. Não importa que essas notícias saiam em publicações sem importância ou em blogs inexpressivos: o objetivo é jogá-las no ar, mantendo-as em circulação, para que sejam usadas posteriormente, em ocasião adequada.
Independentemente do que pensamos sobre as pessoas envolvidas, isso não é exercício da liberdade de imprensa: é jornalismo marrom, é fofocagem pura e simples, sem qualquer vínculo com o interesse público. Beira a chantagem. E, especialmente, é covarde: as pessoas atingidas não podem reagir à altura, sob pena de divulgar amplamente aquilo que foi publicado de maneira restrita.
Para usar a linguagem do Carnaval, a genitália alheia não é assunto do jornalismo político e econômico, a menos que ultrapasse as fronteiras do privado e invada o espaço público. Arranjar emprego para a amante, ou o namorado, é inaceitável (e, no entanto, isso não apenas acontece como provoca escândalo apenas quando aparece dentro de outro escândalo).
E que ninguém venha dizer que a vida privada de outras pessoas, que sua intimidade sexual, seja um termômetro de seu caráter e de sua capacidade de ocupar cargos públicos. Os reis David e Salomão, que a Bíblia nos aponta como exemplos de vida, jamais escolheram o puritanismo como forma de vida. E quem é que o caro leitor prefere: o casal Roosevelt, cada um com seus relacionamentos próprios, o grande líder britânico Sir Winston Churchill, beberrão e apreciador do belo sexo, ou o ascético Adolf Hitler, que não bebia, que não era dos mais fanáticos por sexo, e que sem dúvida foi homem de uma só mulher?
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