Por Lucas da Silva Fernandes:
O consumo de drogas ilícitas está bem presente no cotidiano de muitos cachoeiranos. Uma das mais utilizadas no município é o crack. O Relatório Mundial sobre Drogas 2009, lançado pelo Escritório da Organização das Nações Unidas contra Drogas e Crimes (UNODC), mostra que foram triplicadas as apreensões de crack no intervalo de ano no Brasil. O tenente S. Silva, da polícia militar (PM), afirma que o consumo em Cachoeira cresce junto com a média nacional e que é a droga que a PM mais apreende na cidade, superando a maconha. "Infelizmente é uma droga que está assolando a sociedade e Cachoeira não está livre disso", afirma.
Depois que se faz o processamento da cocaína, obtém-se um subproduto, uma espécie de resíduo da cocaína, que é o crack. Ele é popular, pois se trata de uma droga barata, portanto as camadas mais carentes da população têm fácil acesso. Mas ao mesmo tempo em que é barata, suas conseqüências custam muito ao corpo do usuário. Segundo o tenente, há alguns anos atrás, o usuário de crack tinha a média de seis meses a um ano de vida, devido à sua elevada nocividade, mas hoje, já existem processos químicos para deixá-lo menos agressivo, e que os viciados na droga têm uma expectativa de vida bem maior.
De acordo com o Ministério da Saúde, assim que o crack é fumado, ele alcança o pulmão, que é um órgão intensamente vascularizado e de grande superfície, levando a uma absorção instantânea. Através do pulmão, chega instantaneamente ao cérebro, e em 10 a 15 segundos, os primeiros efeitos já ocorrem, o que faz dele uma droga "poderosa". Os efeitos duram em média cinco minutos, em contraposição à cocaína, que dura cerca de 20 a 45 minutos. Essa pouca duração faz o usuário consumir mais frequentemente a droga, às vezes de maneira compulsiva, levando-o à dependência muito mais rapidamente.
"Tem pessoa que dá um 'pauzinho' e diz: que nada, só fumo uma pedrinha por dia, não sou viciado não. Só que um dia você vai encontrar dez na sua mão", relata um usuário que optou por não se identificar. "A droga ela é tão forte que destrói qualquer ser humano. A sua mente apaga. Fumou, a sua mente não é aquela mais", acrescenta ele. Diz ainda que a pessoa viciada dificilmente ouve conselhos, não adianta tentar conscientizá-la. Pode até ficar sem usar um ou dois dias, mas não agüenta muito tempo. "A droga, ela lhe chama", relata. Para exemplificar como a dependência transforma o caráter da pessoa, o anônimo conta ainda o caso de um amigo seu, que o pai pediu para depositar o dinheiro no banco e ele gastou comprando o crack, alegando depois ao pai que havia sido roubado. A dependência faz a pessoa usar diferentes ardis para conseguir a droga quando não tem o dinheiro pra comprá-la.
Maria da Graça Castro, educadora física e artesã do Centro de Atenção Psico-Social (CAPS), junto com uma equipe de profissionais, lida com dependentes químicos. Ela declara que o crack é muito utilizado pelas pessoas de rua. Não só pela falta de poder aquisitivo, levando-os a comprar a droga barata, mas também porque faz esquecer o frio, a fome, as violências que acontecem nas ruas, por dar coragem para assaltar, matar. Diz que é uma das drogas que mais ocasiona a depressão e que eles trabalham bastante com pessoas que tem depressão por causa do uso dessas substâncias psicoativas. Realizam diariamente, oficinas com desenhos, colagens, costura, utilizando a arte e o lúdico como uma forma fuga, esquecimento das drogas. Ela diz que é preciso que essas pessoas busquem outros amores. As oficinas servem pra isso. O CAPS está também introduzindo agora, uma oficina de redução de danos, que através do diálogo, mostra os efeitos das drogas em geral, as conseqüências, e principalmente como usá-las, de forma que venha a reduzir os danos nos consumidores. "A intenção às vezes, na redução de danos, não é a abstinência, é uma forma de lidar com a droga, até chegar ao sucesso da abstinência", fala a educadora. Amanda Prata, psicóloga do CAPS explica que muitas vezes o usuário não tem intenção de largar a droga. Às vezes ele quer obter o controle, ou substituir uma droga por outra menos danosa. Em função disso, é ensinado, por exemplo, que eles não devem compartilhar os canudos nos quais cheiram a cocaína, não devem derreter o crack em tampas de metal, pois poderiam estar colocando outras substâncias no seu aparelho respiratório, como a próprio metal, ou resíduos que ali ficam, etc. No CAPSad, que é voltado pra álcool e drogas, eles distribuem cachimbos, para que os dependentes reduzam mais os danos no seu corpo, pra que ele não usem o crack derretendo em latas.
É muito importante esse trabalho social que o CAPS desenvolve. Maria da Graça considera a relevância da divulgação dele através das políticas públicas, dos jornais, das parcerias com a iniciativa privada, convidando-a a ser um agente da saúde mental, que coopere diretamente com o Estado, com o município, auxiliando na diminuição do número de internações à medida que, identificando aqueles que necessitam de ajuda, os dirija ao CAPS e à outras unidades terapêuticas. Um dos pacientes do CAPS, que preferiu permanecer no anonimato, declara o seguinte sobre o crack: "Tem cura, mas só depende da própria pessoa se interessar e vir pro consultório".
Efeitos do crack no corpo
Segundo dados do ministério da saúde, os efeitos do crack são parecidos com os efeitos da cocaína. Ele pode produzir um aumento da pupila (midríase), prejudicando a visão, que fica "borrada". Pode provocar dores no peito, contrações musculares, convulsões e até coma. Os efeitos são mais intensos sobre o sistema cardiovascular, pois a pressão eleva e os batimentos cardíacos aceleram bastante (taquicardia). Em casos mais graves, pode haver a parada cardíaca por fibrilação ventricular. A redução da atividade dos centros cerebrais que controlam a respiração pode ocasionar a morte também. O uso crônico do crack pode levar a uma degeneração irreversível dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.
Alem desses efeitos no corpo, o "craquero" compulsivo geralmente tem comportamento violento, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras devido ao aparecimento da paranóia. Eventualmente podem ter alucinações e delírios além de ocasionar também, a perda do interesse sexual.
* Lucas da Silva Fernandes é universitário do
curso de Jornalismo da UFRB
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