A
Educação Musical e a formação para a cidadania
Claudia
Correia (*)
Há um consenso nos meios
acadêmico e artístico sobre valor que a música tem para as sociedades. Ela é uma
das mais antigas expressões artísticas, mobilizando a emoção transmitida pelo
corpo humano e pelos instrumentos em harmonia. A sua contribuição para o
desenvolvimento integral do homem é valiosa e vem sendo estudada por diversas
áreas do conhecimento como a Neurociência e a Filosofia. Pesquisas já destacaram que
a música fortalece os laços tradicionais, os novos valores culturais de
construção de identidades, no desenvolvimento das emoções, da cognição e da
consciência política. Ela se faz presente em muitas instituições, na vida
cotidiana, nos rituais de interação social, nas festas, nas ruas e no ambiente
privado. Sempre ligada às tradições e culturas de cada época, é através da
música que o processo de ensino-aprendizagem pode ampliar seu alcance,
enriquecendo a formação cidadã em todas as faixas etárias.
O valor da música ultrapassa
assim a contemplação artística. Como um método de ensino reforça o desenvolvimento
cognitivo, afetivo e social dos educandos.
Muitos autores ressaltam o
caráter social da música, já que sua prática implica em relações interpessoais,
agindo como um fenômeno de integração social. Desse modo, a música aproxima as
pessoas para que estabeleçam relações de amizade, hierarquia, valores humanos e
papéis sociais interdependentes, contribuindo para o “pertencimento” à uma
comunidade. Estas relações interpessoais, sob o incentivo do professor, levam
os envolvidos com atividades musicais coletivas a se tornarem mais conscientes de seu papel no respeito ao outro, da vida em comunidade.
Por tudo isso, a música,
independente do gênero específico, tem sido um agente propiciador da ampliação
de relações sociais, desenvolvendo a relação do indivíduo consigo mesmo, com o
outro e com a comunidade sócio-cultural na qual está inserido. A prática
musical, principalmente em grupo, além de desenvolver a musicalidade, o autocontrole,
a auto-estima e outras potencialidades, estimula relações sociais
harmonizadoras em vários níveis.
Nesse contexto ganha
relevância o trabalho das escolas de iniciação musical mantidas pelas
tradicionais filarmônicas no Brasil. A herança musical dessas instituições remonta
à presença das bandas militares no Brasil Colônia, se fazendo presentes até
hoje, em festas cívicas e religiosas, com um rico repertório.
Na Bahia atuam cerca de 155
filarmônicas, que resistem à omissão da política cultural dos governos, funcionando
sem recursos suficientes mas com muita determinação. As escolas de música em
geral estão previstas no estatuto das filarmônicas e oferecem gratuitamente
cursos para crianças, jovens e adultos, levando em conta as aptidões de cada
aluno, mantendo a renovação das bandas.É importante valorizar esse esforço,
tanto pelo alcance social como pela preservação de um patrimônio cultural que é
do povo baiano.
Além das ações de
responsabilidade social através da Educação musical e cidadã, um valioso acervo
é guardado pelas filarmônicas incluindo mobiliário, fotos, partituras com
composições inéditas, bens de reconhecida importância para a memória cultural
do nosso povo.
A Sociedade Lítero Musicial Minerva
Cachoeirana, fundada em 1878 pelo maestro cachoeirano Eduardo Mendes Franco, uma
das centenárias filarmônicas do Recôncavo, também segue na sua missão de formar
novas gerações de músicos, contribuindo para o processo de inclusão social e de
desenvolvimento cultural da região. A Escola Alcides Santos, mantida pela
Minerva Cachoeirana, cumpre um importante papel e busca se inserir em projetos
de educação patrimonial e ações educativas das escolas formais, da comunidade e
das famílias. Ao formar músicos cidadãos dá sua contribuição para a manutenção
de laços de solidariedade que unem gerações, aproximam a comunidade, conservam
tradições que convivem com as novas expressões artísticas produzidas pela
sociedade.
A formação musical numa
perspectiva cidadã reforça a necessidade de assegurarmos o direito de todos no
acesso aos bens culturais e a educação de qualidade. Afinal, sem arte qualquer
aprendizagem se reduz a uma mera transmissão de conhecimentos, sem
sensibilidade e sem conexão com cada lugar, suas ricas estórias e personagens.
Viva a cultura musical de nosso povo!
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