quarta-feira, 20 de setembro de 2017



A Educação Musical e a formação para a cidadania
Claudia Correia (*)

Há um consenso nos meios acadêmico e artístico sobre valor que a música tem para as sociedades. Ela é uma das mais antigas expressões artísticas, mobilizando a emoção transmitida pelo corpo humano e pelos instrumentos em harmonia. A sua contribuição para o desenvolvimento integral do homem é valiosa e vem sendo estudada por diversas áreas do conhecimento como a Neurociência e a Filosofia. Pesquisas já destacaram que a música fortalece os laços tradicionais, os novos valores culturais de construção de identidades, no desenvolvimento das emoções, da cognição e da consciência política. Ela se faz presente em muitas instituições, na vida cotidiana, nos rituais de interação social, nas festas, nas ruas e no ambiente privado. Sempre ligada às tradições e culturas de cada época, é através da música que o processo de ensino-aprendizagem pode ampliar seu alcance, enriquecendo a formação cidadã em todas as faixas etárias.

O valor da música ultrapassa assim a contemplação artística. Como um método de ensino reforça o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social dos educandos.

Muitos autores ressaltam o caráter social da música, já que sua prática implica em relações interpessoais, agindo como um fenômeno de integração social. Desse modo, a música aproxima as pessoas para que estabeleçam relações de amizade, hierarquia, valores humanos e papéis sociais interdependentes, contribuindo para o “pertencimento” à uma comunidade. Estas relações interpessoais, sob o incentivo do professor, levam os envolvidos com atividades musicais coletivas a se tornarem mais conscientes de seu papel no respeito ao outro, da vida em comunidade.

Por tudo isso, a música, independente do gênero específico, tem sido um agente propiciador da ampliação de relações sociais, desenvolvendo a relação do indivíduo consigo mesmo, com o outro e com a comunidade sócio-cultural na qual está inserido. A prática musical, principalmente em grupo, além de desenvolver a musicalidade, o autocontrole, a auto-estima e outras potencialidades, estimula relações sociais harmonizadoras em vários níveis.

Nesse contexto ganha relevância o trabalho das escolas de iniciação musical mantidas pelas tradicionais filarmônicas no Brasil. A herança musical dessas instituições remonta à presença das bandas militares no Brasil Colônia, se fazendo presentes até hoje, em festas cívicas e religiosas, com um rico repertório.

Na Bahia atuam cerca de 155 filarmônicas, que resistem à omissão da política cultural dos governos, funcionando sem recursos suficientes mas com muita determinação. As escolas de música em geral estão previstas no estatuto das filarmônicas e oferecem gratuitamente cursos para crianças, jovens e adultos, levando em conta as aptidões de cada aluno, mantendo a renovação das bandas.É importante valorizar esse esforço, tanto pelo alcance social como pela preservação de um patrimônio cultural que é do povo baiano.

Além das ações de responsabilidade social através da Educação musical e cidadã, um valioso acervo é guardado pelas filarmônicas incluindo mobiliário, fotos, partituras com composições inéditas, bens de reconhecida importância para a memória cultural do nosso povo.
 A Sociedade Lítero Musicial Minerva Cachoeirana, fundada em 1878 pelo maestro cachoeirano Eduardo Mendes Franco, uma das centenárias filarmônicas do Recôncavo, também segue na sua missão de formar novas gerações de músicos, contribuindo para o processo de inclusão social e de desenvolvimento cultural da região. A Escola Alcides Santos, mantida pela Minerva Cachoeirana, cumpre um importante papel e busca se inserir em projetos de educação patrimonial e ações educativas das escolas formais, da comunidade e das famílias. Ao formar músicos cidadãos dá sua contribuição para a manutenção de laços de solidariedade que unem gerações, aproximam a comunidade, conservam tradições que convivem com as novas expressões artísticas produzidas pela sociedade.

A formação musical numa perspectiva cidadã reforça a necessidade de assegurarmos o direito de todos no acesso aos bens culturais e a educação de qualidade. Afinal, sem arte qualquer aprendizagem se reduz a uma mera transmissão de conhecimentos, sem sensibilidade e sem conexão com cada lugar, suas ricas estórias e personagens. Viva a cultura musical de nosso povo!

Claudia Correia, assistente social e jornalista, educadora, Mestra em Planejamento Urbano(UFRJ)

Nenhum comentário:

Postar um comentário