Entrevista
Na Redação do Jornal O Guarany, Prof. Pedro Borges entrevista seu conterrâneo, Florisvaldo Pinheiro
Cardoso de Souza, bisneto do temido líder Antônio Cardoso, coronel da Guarda
Nacional, do período da ditadura Vargas.
Conhecido popularmente como Flor, Florisvaldo Cardoso
de Souza é bisneto do velho líder Antônio Cardoso, cujo nome deu origem ao
atual município de Antônio Cardoso. Seu pai, o saudoso Sr. Cornélio Cardoso de
Souza tinha mais um irmão, Antônio Cardoso Neto, o qual foi o primeiro prefeito
do novo município criado em 1962, desmembrado do território de São Gonçalo dos
Campos.
A Fazenda Lagoa
Dono de ampla propriedade, a Fazenda Lagoa, o Sr.
Antônio Cardoso mantinha em suas terras jagunços, fortemente armados, uma espécie de coluna
militarizada, sob suas determinações, na qualidade de coronel da Guarda
Nacional, prontos para agir a qualquer hora do dia ou da noite.
Em vida, seus filhos e sucessores foram criados sob
normas rígidas de comportamento e caráter íntegro. Eram instruídos que seriam severamente
punidos, sem clemência, pelos genitores, caso as mencionadas normas fossem
descumpridas ou desfiguradas. Ninguém, nem autoridades, qualquer fosse à
hierarquia de seus postos, poderiam corrigir, humilhar um descendente do Sr.
Antônio Cardoso. A correção ou punição só poderia ser aplicada por ele próprio
ou pelos seus descendentes, na escala hierárquica da família.
Os Cardosos & Cachoeira
Há uma relação entre a família do velho líder Antônio
Cardoso e Cachoeira.
Ninguém de sua família,
filhos e sucessores, ou amigos mais íntimos poderiam ser desrespeitados, nem
por autoridades nem por qualquer outra pessoa. Ai de quem contrariasse as determinações do mencionado líder! Ele mandava matar! Dois filhos
dele: um chamava-se Tinor Cardoso, o outro Manoel Cardoso, sempre vinham à
Feira Livre da Cachoeira, aos sábados. O prefeito, Dr. Inocêncio Boaventura,
proibiu os cidadãos andar armados na cidade naquele período. Sem saber, os
dois, Tinor Cardoso e Manoel Cardoso, montados a cavalo, deixavam serem vistas
suas armas, enquanto passeavam nas cercanias da Feira Livre. Os guardas da
Prefeitura os abordaram, pediram entregar as armas. Eles recusaram. Os guardas
engrossaram as vozes, tomaram as armas à força, além de tirar-lhes as gravatas.
Eles se trajavam a rigor. Os dois rapazes, após passarem pela vergonha, em
público, retornaram, imediatamente, para a fazenda do pai, a fim de contar-lhe
a decepção por que passaram, por ordem do prefeito da Cachoeira. Naquela época,
o prefeito, Dr. Inocêncio Boaventura, dava expediente aos sábados em seu
Gabinete, onde é hoje a Câmara Municipal. O Sr. Antônio Cardoso respondeu que
ninguém de sua família poderia passar pela vergonha semelhante a que seus dois
filhos passaram, portanto, eles teriam que voltar à Cachoeira, e eles mesmos
matarem a tiros o chefe do Executivo cachoeirano. Antes, como era analfabeto,
os dois filhos também, mandou ver uma
professora, sua conhecida, para escrever uma carta ditada por ele, endereçada
ao prefeito da Cachoeira, com a qual dizia as razões por que ele iria morrer. Pronta a carta, entregue aos
filhos, armou bem os dois, com pistolas novas e municiadas, autorizando o
retorno imediato à cidade da Cachoeira, para materializar a sinistra missão.
Chegando à Cachoeira, já à tarde, os dois se dirigiram imediatamente ao
Gabinete do Prefeito. Logo recebido, entregaram a carta, enquanto a lia, já no
final do último parágrafo, conforme instruído pelo pai, deflagraram dois tiros,
deixando a referida autoridade desfalecida ao chão em sua Gabinete. Retornaram
imediatamente, numa rota de fuga instruída pelo próprio Antônio Cardoso, ambos
montados em animais fortes e ágeis. À noite já estavam de retorno à residência
do genitor, na Fazenda Lagoa, integralmente protegida por jagunços fortemente
armados para responder a bala quaisquer tentativas da polícia da Cachoeira para
prender os filhos ou qualquer agressão
contra a propriedade.
Florisvaldo Cardoso de Souza
tem muitos amigos em Cachoeira, pois, durante alguns anos viveu com suas irmãs
e irmãos nesta cidade. Seu saudoso irmão Ariosvaldo Cardoso de Souza, mais
conhecido como Vardo, viveu e faleceu em Cachoeira. Era amigo e seguidor
político do saudoso prefeito Geraldo Simões. Flor cita que no período, moravam
em Cachoeira, suas irmãs Valtamira Pinheiro Cardoso de Souza (Valtinha), Iva
Pinheiro Cardoso de Souza, Vandélio Pinheiro Cardoso de Souza (falecido), Crispim Pinheiro de
Souza (caçula) e Antônio Pinheiro Cardoso
de Souza (falecido).
Florisvaldo é casado com
Juanice Silva de Oliveira, com quem tem uma filha adolescente, Débora de
Oliveira Pinheiro de Souza. Aposentado, reside com a família, em Feira de
Santana, mas prossegue em atividade laboral, comercializando jóias em Cachoeira
e outras cidades da região.
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