Pulei a fogueira da Odebrecht
Por Fernando Conceição
NINGUÉM EM SÃ consciência pode prever o que acontecerá ao Brasil a partir de agora, com a divulgação da lista dos denunciados
pela alta cúpula das Organizações Odebrecht – faturamento anual em
torno de US$ 40 bilhões em 2014 – em mal feitos contra o país.
Mais de 300 nomes estarão sendo investigados, três dezenas de caciques dos poderes Executivo e Legislativo (falta o Judiciário).
São citados nas denúncias presidentes do Senado e da Câmara,
ministros, ex-ministros, governadores, ex-governadores, Lula, Dilma,
FHC, deputados – numa constelação que envolve políticos de todos os
espectros partidários e ideológicos.
- A Bahia está muito bem representada, por todas as matizes.
Ninguém poderá jogar pedra um no outro, já que todos farinha do mesmo
saco! Clique e veja.
Ficaram de fora jornalistas, artistas, produtores culturais,
escritores (“Prêmio Braskem”) universidades, faculdades disso e daquilo,
como as de Comunicação – lembram-se do projeto “Jornalismo do Futuro“? Clique para saber.
Também pulei a fogueira: Meu nome não está na lista
A mim o poderoso grupo Odebrecht, multinacional brasileira criada em 1944 na Bahia por Norberto Odebrecht
(1920-2014), chegou em forma de convite no final de 1987. Para
colaborar na elaboração de uma nova estratégia de interesse do grupo,
denominada, salvo engano, Tecnologia Social Odebrecht (TSO).
Multifacetada, essa tecnologia ajudou a tirar do buraco obras sociais
importantes no Estado. A exemplo do IBIT (Instituto Brasileiro para
Investigação da Tuberculose), sucedido pela Fundação José Silveira, e do
Hospital de Irmã Dulce, sucedido pela Osid, que leva o nome da freira Irmã Dulce, elegida recentemente a santa da Igreja Católica.
FIZ PARTE de um restrito grupo de assessores ali
postos na sede da empresa no Caminho das Árvores, bairro planejado pela
empreiteira anos anteriores, onde também se localizava a mansão familiar
do chefe da clã.
Por meses, numa sala a mim oferecida no terceiro ou quarto anda com
janelas voltadas para a Avenida Tancredo Neves, integrei uma equipe que
comparecia para pensar a melhor forma de a Odebrecht atuar em
comunidades empobrecidas das periferias urbanas de Salvador, Região
Metropolitana e outras cidades.
Era uma atribuição novíssima da Fundação Emílio Odebrecht,
pai de Norberto, então dirigida por ninguém menos que Josaphat Marinho
(1915-2002). Ex-senador da República e ideólogo do originário Partido
Socialista do Brasil, Marinho era um dos mais respeitados jurisconsultos
do século XX.
Tinha conforto, assistência, excelente remuneração e nada de pressões ou cobranças “de cima”. Acima de nós somente havia Josaphat Marinho.
Com suas atribulações acadêmicas e compromissos fora da Bahia,
raramente o encontrávamos em sua sala. Fui levado a ele uma ou duas
vezes, em todo o tempo que ali dei expediente.
Na minha mesa colocaram uma máquina de datilografia e maços de papel
para que pudesse expressar algumas ideias sobre como a empresa poderia
criar laços de assistência às comunidades. Com outros planos de vida,
não tardou e me afastei da equipe.
Aliás, Neylar Coelho Vilar, a funcionária da empresa encarregada de
tratar diretamente com a equipe no dia a dia – havia ainda um executivo
vindo de São Paulo, cujo nome me falha a memória – ganhou muita
experiência. O que a fez depois tornar-se liderança da Fundación Avina e do Instituto Aliança com o Adolescente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário