quarta-feira, 12 de abril de 2017


Pulei a fogueira da Odebrecht 

Por Fernando Conceição


NINGUÉM EM SÃ consciência pode prever o que acontecerá ao Brasil a partir de agora, com a divulgação da lista dos denunciados pela alta cúpula das Organizações Odebrecht – faturamento anual em torno de US$ 40 bilhões em 2014 – em mal feitos contra o país.
Mais de 300 nomes estarão sendo investigados, três dezenas de caciques dos poderes Executivo e Legislativo (falta o Judiciário).
São citados nas denúncias presidentes do Senado e da Câmara, ministros, ex-ministros, governadores, ex-governadores, Lula, Dilma, FHC, deputados – numa constelação que envolve políticos de todos os espectros partidários e ideológicos.
  • A Bahia está muito bem representada, por todas as matizes. Ninguém poderá jogar pedra um no outro, já que todos farinha do mesmo saco! Clique e veja.
Ficaram de fora jornalistas, artistas, produtores culturais, escritores (“Prêmio Braskem”) universidades, faculdades disso e daquilo, como as de Comunicação – lembram-se do projeto “Jornalismo do Futuro“? Clique para saber.
Também pulei a fogueira: Meu nome não está na lista
A mim o poderoso grupo Odebrecht, multinacional brasileira criada em 1944 na Bahia por Norberto Odebrecht (1920-2014), chegou em forma de convite no final de 1987. Para colaborar na elaboração de uma nova estratégia de interesse do grupo, denominada, salvo engano, Tecnologia Social Odebrecht (TSO).
Multifacetada, essa tecnologia ajudou a tirar do buraco obras sociais importantes no Estado. A exemplo do IBIT (Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose), sucedido pela Fundação José Silveira, e do Hospital de Irmã Dulce, sucedido pela Osid, que leva o nome da freira Irmã Dulce, elegida recentemente a santa da Igreja Católica.

Ex-senador Josaphat Marinho, que dirigia a Fundação Emílio 
Odebrecht quando lá passei uma chuva
FIZ PARTE de um restrito grupo de assessores ali postos na sede da empresa no Caminho das Árvores, bairro planejado pela empreiteira anos anteriores, onde também se localizava a mansão familiar do chefe da clã.
Por meses, numa sala a mim oferecida no terceiro ou quarto anda com janelas voltadas para a Avenida Tancredo Neves, integrei uma equipe que comparecia para pensar a melhor forma de a Odebrecht atuar em comunidades empobrecidas das periferias urbanas de Salvador, Região Metropolitana e outras cidades.
Era uma atribuição novíssima da Fundação Emílio Odebrecht, pai de Norberto, então dirigida por ninguém menos que Josaphat Marinho (1915-2002). Ex-senador da República e ideólogo do originário Partido Socialista do Brasil, Marinho era um dos mais respeitados jurisconsultos do século XX.

Nascido na Pomerânia, então Prússia (Alemanha) em 1835, o patricarca Emil Odebrecht migrou para Blumenau, sul do Brasil, dando origem à clã
Tinha conforto, assistência, excelente remuneração e nada de pressões ou cobranças “de cima”. Acima de nós somente havia Josaphat Marinho. Com suas atribulações acadêmicas e compromissos fora da Bahia, raramente o encontrávamos em sua sala. Fui levado a ele uma ou duas vezes, em todo o tempo que ali dei expediente.
Na minha mesa colocaram uma máquina de datilografia e maços de papel para que pudesse expressar algumas ideias sobre como a empresa poderia criar laços de assistência às comunidades. Com outros planos de vida, não tardou e me afastei da equipe.
Aliás, Neylar Coelho Vilar, a funcionária da empresa encarregada de tratar diretamente com a equipe no dia a dia – havia ainda um executivo vindo de São Paulo, cujo nome me falha a memória – ganhou muita experiência. O que a fez depois tornar-se liderança da Fundación Avina e do Instituto Aliança com o Adolescente.

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