EM CACHOEIRA/BAHIA
"Ganha repercussão na Cachoeira, o artigo escrito
pelo Sr. Carlos Hupsel de Oliveira e publicado na edição de março de O Guarany,
sobre a restauração do Cemitério dos Alemães, ou Cemitério dos Acatólicos, onde
estão sepultados os restos mortais de Bertha Kiesler, sus avó materna. A
iniciativa tem o apoio não só de descendentes de famílias alemãs que
residiram na Cachoeira, a exemplo da arquiteta Mônica Schramm, que
também tem o seu pai ali sepultado, mas também de inúmeras pessoas da
comunidade cachoeirana. Bertha Kiesler era esposa de Frederico Hüpsel,
proprietário do Hotel Cachoeirano, que em épocas passadas foi uma referência na
cidade. Acreditamos que o novo diretor do IPHAN na Cachoeira, arquiteto Marcelo
de Faria, pessoas reconhecidamente educada, com perfil acolhedor e
comunicativo, irá se pronunciar a respeito do assunto".
Eis o artigo:
Em
memória dos meus ancestrais
Por Carlos Hupsel de
Oliveira
Ex- professor da
Polícia Militar da Bahia
Sou um apaixonado por
esta cidade onde em cada rua, cada esquina, em cada beco, cada sobrado, se
respira história, tradição e se comemoram lutas e vitórias. Sim, sou um
apaixonado pela Cachoeira, não só pela sua importância histórica e cultural,
mas principalmente por fortes e indissolúveis laços afetivos e familiares que
vêm desde épocas remotas, quando aqui aportaram vindos da Alemanha, meus avós maternos,
Frederico Hüpsel e Bertha Kiesler, estabelecendo-se no ramo hoteleiro. Acolhido
por esta generosa terra, a exemplo de outras famílias alemãs da mesma época, o
casal aqui consolidou raízes e procriou, tendo numerosos filhos sendo que
apenas dois dos seus herdeiros não nasceram na Cachoeira, Oceana Margarida,
minha pranteada mãe, que mais tarde se tornaria uma conceituada professora, e seu
irmão Germano Fritz, renomado especialista em eletricidade, que viria a ser um
Venerável da Loja Maçônica Filhos de Salomão, além de diretor da Usina do
Gasômetro, em Salvador.
Passam-se os anos e a
Cachoeira vive um tempo de prosperidade com seu florescente comércio, sua
população ordeira e pacata, seus visitantes ilustres, principalmente
estrangeiros. O Hotel Cachoeirano, fundado por Frederico Hüpsel, meu avô, era
uma referência na cidade pela alegria do seu ambiente, luxo e conforto das suas
instalações. No casarão da Praça 25 de junho, hospedavam-se as mais importantes
pessoas que passavam pela Cachoeira.
Um dia, porém, a
sinistra Parca com a sua implacável foice, atingiu em cheio aquela família já
integrada aos destinos da Cachoeira. E assim, vítima de insidiosa enfermidade e
em meio a grandes sofrimentos, morreu Bertha Kiesler, minha avó. Muitas
lágrimas e imenso pesar,sobretudo dos filhos, vários
ainda menores de idade, marcaram a partida daquela mulher franzina, da nobreza
alemã, filha do Conde General Von Kiesler, esposa exemplar, mãe extremosa, que
um dia ao lado de seu amado, deixou o conforto da terra natal aventurando-se em
terras até então desconhecidas.
Sepultada no
Cemitério dos Alemães, Bertha Kiesler não teve o respeito que merece.
Recentemente, fiquei sabendo que aquele espaço encontra-se degradado, em
completa ruína. São lápides quebradas,
túmulos cobertos de mato, um cenário devastador. Um absurdo, pois de acordo com a lei
cemitérios são locais invioláveis, sagrados e que devem ter uma preservação
permanente. Amparado pela minha indignação, eu perguntaria através das páginas
de O Guarany, a quem compete afinal a responsabilidade para corrigir esse
estado de coisas. Ao Iphan, à Prefeitura local, aos descendentes de famílias
alemãs que ainda residem aqui? Certamente urge uma providência e seja lá que
for, estará resgatando a memória daqueles que vieram de longe para trabalhar em
prol do progresso da Cachoeira.
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