segunda-feira, 3 de abril de 2017

EM CACHOEIRA/BAHIA
Cemitério dos Alemães, tombado pelo Iphan, abandonado em lastimável estado.
"Ganha repercussão na Cachoeira, o artigo escrito pelo Sr. Carlos Hupsel de Oliveira e publicado na edição de março de O Guarany, sobre a restauração do Cemitério dos Alemães, ou Cemitério dos Acatólicos, onde estão sepultados os restos mortais de Bertha Kiesler, sus avó materna. A iniciativa tem o apoio não só de descendentes de famílias alemãs que residiram na Cachoeira, a exemplo da arquiteta Mônica Schramm, que também tem o seu pai ali sepultado, mas também de inúmeras pessoas da comunidade cachoeirana. Bertha Kiesler era esposa de Frederico Hüpsel, proprietário do Hotel Cachoeirano, que em épocas passadas foi uma referência na cidade. Acreditamos que o novo diretor do IPHAN na Cachoeira, arquiteto Marcelo de Faria, pessoas reconhecidamente educada, com perfil acolhedor e comunicativo, irá se pronunciar a respeito do assunto".


Eis o artigo:


Em memória dos meus ancestrais
Por Carlos Hupsel de Oliveira
Ex- professor da Polícia Militar da Bahia

Sou um apaixonado por esta cidade onde em cada rua, cada esquina, em cada beco, cada sobrado, se respira história, tradição e se comemoram lutas e vitórias. Sim, sou um apaixonado pela Cachoeira, não só pela sua importância histórica e cultural, mas principalmente por fortes e indissolúveis laços afetivos e familiares que vêm desde épocas remotas, quando aqui aportaram vindos da Alemanha, meus avós maternos, Frederico Hüpsel e Bertha Kiesler, estabelecendo-se no ramo hoteleiro. Acolhido por esta generosa terra, a exemplo de outras famílias alemãs da mesma época, o casal aqui consolidou raízes e procriou, tendo numerosos filhos sendo que apenas dois dos seus herdeiros não nasceram na Cachoeira, Oceana Margarida, minha pranteada mãe, que mais tarde se tornaria uma conceituada professora, e seu irmão Germano Fritz, renomado especialista em eletricidade, que viria a ser um Venerável da Loja Maçônica Filhos de Salomão, além de diretor da Usina do Gasômetro, em Salvador.

Passam-se os anos e a Cachoeira vive um tempo de prosperidade com seu florescente comércio, sua população ordeira e pacata, seus visitantes ilustres, principalmente estrangeiros. O Hotel Cachoeirano, fundado por Frederico Hüpsel, meu avô, era uma referência na cidade pela alegria do seu ambiente, luxo e conforto das suas instalações. No casarão da Praça 25 de junho, hospedavam-se as mais importantes pessoas que passavam pela Cachoeira. 

Um dia, porém, a sinistra Parca com a sua implacável foice, atingiu em cheio aquela família já integrada aos destinos da Cachoeira. E assim, vítima de insidiosa enfermidade e em meio a grandes sofrimentos, morreu Bertha Kiesler, minha avó. Muitas lágrimas e imenso pesar,sobretudo dos filhos, vários ainda menores de idade, marcaram a partida daquela mulher franzina, da nobreza alemã, filha do Conde General Von Kiesler, esposa exemplar, mãe extremosa, que um dia ao lado de seu amado, deixou o conforto da terra natal aventurando-se em terras até então desconhecidas. 

Sepultada no Cemitério dos Alemães, Bertha Kiesler não teve o respeito que merece. Recentemente, fiquei sabendo que aquele espaço encontra-se degradado, em completa ruína.  São lápides quebradas, túmulos cobertos de mato, um cenário devastador.   Um absurdo, pois de acordo com a lei cemitérios são locais invioláveis, sagrados e que devem ter uma preservação permanente. Amparado pela minha indignação, eu perguntaria através das páginas de O Guarany, a quem compete afinal a responsabilidade para corrigir esse estado de coisas. Ao Iphan, à Prefeitura local, aos descendentes de famílias alemãs que ainda residem aqui? Certamente urge uma providência e seja lá que for, estará resgatando a memória daqueles que vieram de longe para trabalhar em prol do progresso da Cachoeira.

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