GRATA SURPRESA saber de descobertas de pesquisadores do Instituto
de Letras (IL) da UFBA que, de 20 a 21 deste outubro, organizam o
seminário “Vozes do Teatro em Tempos de Ditadura Militar” [clique para saber].
Identificaram em arquivos nacionais e locais, e estão resgatando, textos da adolescência e juventude deste escrevinhador montados sob a ditadura.
E mesmo em 1987, quando os militares já tinham devolvido o poder aos
civis no Brasil. Mas a censura à liberdade de expressão e opinião
continuava.
(Parêntesis: Será que não continua? Este espaço de debates sofre o
escrutínio das viúvas daquele período, hoje travestidas de “pessoas do
bem”. E um poderoso empresário-polítiqueiro-comunicador já tentou retirá-lo do ar [clique para ler]).
Soube pelas pesquisadoras do quanto sabem mais sobre o destino do que
produzi em textos dramatúrgicos naqueles anos de chumbo do que eu mesmo
me dava conta.
Trata-se da continuidade de pesquisa ampla coordenada pela professora
Rosa Borges dos Santos, que trata da “Filologia em diálogo com a
Literatura, a História e o Teatro”. Os primeiros resultados já constam
do livro Edição e estudo de textos teatrais censurados na Bahia (Edufba, 2012).
O seminário de agora é parte de pesquisa específica, tendo à frente a
professora Isabela Almeida, da equipe de estudos filológicos do IL.
Versa sobre textos teatrais censurados de autores que vieram se
tornar membros da comunidade docente da Universidade Federal da Bahia.
No contexto de edital de pesquisa que resgata aspectos da influência da
ditadura (1964-1985) dentro dessa instituição de ensino. (Fui também
contemplado, de minha parte, com um projeto no mesmo edital).
Assim este escrevinhador, que jamais no período de produção e
montagem daqueles textos havia pensado assumir funções docentes na
exclusivista UFBA, foi identificado pelos pesquisadores e passou a
integrar a lista de convidados do seminário.
Ocorre que nas datas do evento estarei em atividade acadêmica em país
da África. Os organizadores resolveram manter a participação deste
autor e agendaram a gravação de um depoimento em video a ser exibido na
programação, o que se deu semana passada.
Enquanto preparavam o ambiente e os equipamentos da filmagem, em
gabinete montado com a biblioteca doada ao IL pelo falecido Nilton Vasco
da Gama, as professoras Rosa (discípula dele) e Isabela (seguidora)
trataram de ativar minha memória.
Sim, na luta contra a ditadura militar e,
acrescente-se como fundamental, de resistência à sua extirpação, a
empobrecida, maltratada mas bem organizada comunidade do Calabar –
inscrustrada em cobiçado espaço imobiliário nobre da capital baiana –
experimentou e praticou diversas linguagens artísticas.
O teatro foi uma das ferramamentas de mobilização e organização
comunitária, resultando na criação, pelos próprios moradores, do Grupo
de Teatro do Calabar. Que logo se destacaria no cenário teatral de
Salvador, entre os grupos amadores que proliferavam nos bairros.
Dia 11 Vá à Passeata (1982), A Peleja do Povo Com o Dr. Coração (1984), A Negra Resistência
(1985), todas censuradas, são algumas das peças montadas a partir de
uma ideia textual autoral trabalhada por todos os integrantes do grupo,
de crianças a idosos, nos movimentados ensaios até à encenação.
Contudo, a equipe de pesquisadores do IL-UFBA puxaram ainda mais os fios da verdadeira arqueologia (filologia) de descoberta dos textos censurados.
Deste escrevinhador encontraram um texto montado em 1979 (sic!)no
Teatro do ICBA (Goethe Institut) do Corredor da Vitória, ainda quando
secundarista. Esse um dado surpreendente, já que dele não mais me dava
conta nem sabia onde achar.
Pois informaram que localizaram-no, com as devidas rasuras dos censores, no Arquivo Nacional, em Brasília. Trata-se de O Grito do Poeta, encenado no contexto da “Semana Experimental de Arte”.
Na qual um grupo de protótipos de artistas ecléticos, todos
adolescentes, não apenas do Calabar mas das circunvizinhanças da classe
média e seus amigos, anunciavam a ruptura com o dogma cultural da
geração passada – das artes plásticas à musica, à literatura.
O ICBA e alguns suplementos culturais de jornais de Salvador
acolheram a brincadeira, séria para os envolvidos, e o referido “Grito
do Poeta”, que foi concebido por este escrevinhador para ser declamado,
encaixou-se na proposta do grupo como peça teatral.
Quando tiver tempo direi mais sobre o assunto.
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