Manuel Lopes de
Carvalho Ramos, personalidade cachoeirana desconhecida
Por Ubirajara Galli*
Esse é um filho ilustre da cidade de Cachoeira
e que seu eito natal não conhece ou que muito pouco sabe dele. Colaborando com
o amigo escritor e confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, o
reconhecido professor de Direito, Nelson Lopes de Figueiredo, estive na segunda
quinzena de maio passado nessa histórica cidade do recôncavo baiano, em busca
das pegadas existenciais de Manuel Lopes de Carvalho Ramos, com o propósito de
obter registros dos passos desse fantástico cachoeirano. Nelson está elaborando,
sem dúvida, a mais completa obra memorial produzida sobre Manuel Lopes de
Carvalho Ramos. Entretanto, nas casas culturais do município e na vizinha São
Félix, apesar da boa vontade de seus gestores, nada encontrei. Para se ter uma ideia,
na Biblioteca Municipal Ernesto Simões Filho, dos seis livros existentes no
acervo que tratam da história de Cachoeira, nenhuma citação encontrei sobre Manuel
Lopes de Carvalho Ramos.
Apresentando esse
fantástico cachoeirano
Nasceu em Cachoeira (BA), no dia 10 de agosto de 1865, na
Rua das Flores, atual Rua Prisco Paraíso. Filho de Antônio Lopes de Carvalho
Sobrinho e Rosalina Martins Ramos. Seu pai era comerciante e, por muitos anos e
até a sua morte, ocorrida em 1899. Foi secretário da Intendência (Prefeitura)
de Cachoeira. Sua mãe era filha do Comendador Rodrigo José Ramos e de Militana
Martins Ramos, uma das famílias mais bem-sucedidas economicamente do recôncavo
baiano, marcada por gestos filantrópicos.
Pelas pesquisas empreendidas in loco, na cidade de
Cachoeira, terra natal de Manuel Lopes de Carvalho Ramos, seu eito revela não
conhecer a sua trajetória de destacado escritor, além de sua múltipla
existência como magistrado, abolicionista, jornalista, político e
espiritualista. É compreensível, que lá, a sua história seja desconhecida, por
ter sido construída, principalmente, em terras goianas, entre 1888 e 1907.
Embora em sua terra natal tenha passado toda a sua
infância e boa parte da adolescência, realizando os estudos que o levaram a
cursar Direito na Faculdade de Direito de Pernambuco, entre 1883 e 1886, para
depois de formado retornar a Cachoeira, onde permaneceu até 1888, advogando e
lecionando Francês e Inglês, no Gabinete da Instrução – que funcionava no
Conjunto do Carmo – e, certamente, trazer em sua mala cultural, seus dois primeiros
livros de poemas, publicados durante seu período acadêmico, em Recife: Flores
Poéticas e Inspirações Noturnas,
ainda assim, suas pegadas não foram encontradas.
No segundo semestre
de 1888, passeando na cidade do Rio de Janeiro, conheceu o político goiano,
deputado e jornalista, Leopoldo de Bulhões que lhe fez o convite para ser juiz
municipal de Torres do Rio Bonito, atual Caiapônia. Topou o convite. Em
Caiapônia, escreveu o poema épico Goyania e que haveria dar nome a futura
capital goiana construída por Pedro Ludovico Teixeira, na década de 1930.
Em 1891 transferiu-se
para a antiga capital de Goiás, Cidade de Goiás, como juiz seccional
substituto. Posteriormente, assumiu a titularidade de juiz da 1ª Vara da
Capital e por repetidas vezes tomou assento como desembargador-substituto, no
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Foi diretor e presidente do Gabinete
Literário Goiano, a primeira casa cultural instituída em Goiás. No dizer de
José Mendonça Teles, um dos principais memorialistas de Goiás: “Manuel Lopes de
Carvalho Ramos exerceu grande liderança intelectual em Goiás. Respeitado por
sua cultura jurídica, era igualmente respeitado por sua sensibilidade poética”.
Colaborou intensamente com os principais jornais goianos. Doente, foi
aposentado das suas funções de magistrado em 1907, quando então mudou para Rio
de Janeiro para se tratar, lá, falecendo em 9 de setembro de 1911.
Seu filho, Hugo de
Carvalho Ramos, seu principal herdeiro literário, autor do livro Tropas e Boiadas, admirado pela crítica
nacional, é considerado um dos introdutores da temática regionalista no País.
Obra de Manuel Lopes de Carvalho Ramos
Flores poéticas – Recife, 1883, escrito quando ainda
estudante; Álvares de Azevedo, drama,
1884, representado em Recife; Goyania, poema
épico. 1889, contém o livro oito mil versos divididos em vinte
cantos em oitava rima, em que ele canta o descobrimento de Goiás, tendo como
protagonista o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o "Anhanguera".
Por escritura pública, o livro foi doado ao governo do Estado de Goiás; Os Gênios, poemas. Goyaz, 1896, elogia os
gênios nas ciências, nas letras e nas artes e na "Introdução refere-se ao
materialismo que, negando sistematicamente a existência de Deus, conduz o
homem ao egoísmo, ao desalento, a mais acerba desesperança e não poucas vezes
ao suicídio".
Um pedido especial
Esse gentil espaço
que acomoda meu texto, cedido pelo professor e jornalista, editor-chefe de O Guarany, Pedro Borges dos Anjos, que
conheci nessa minha visita a Cachoeira e que me foi apresentado pela
bibliotecária Patrícia Maria Lima Porto, diretora da Biblioteca Ernesto Simões
Filho, além de tornar sucintamente conhecida a história desse especial
cachoeirano, Manuel Lopes de Carvalho Ramos, tem o propósito de, publicamente,
pedir ajuda àqueles que, porventura, tenham
conhecimento da sua trajetória, e que se dispuser a colaborar com informações,
para entrarem em contato comigo, pelo e-mail: biragalliescritor@gmail.com, para enriquecer a obra memorial do
professor-escritor, Nelson Lopes de Figueiredo, que
deverá ser lançada no final do mês de agosto vindouro.
Ubirajara
Galli
Membro
da Academia Goiana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
Autor de 47 livros
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