domingo, 31 de janeiro de 2016

ACONTECEU EM CACHOEIRA/BAHIA


Faleceu nos primeiros minutos  dia 31/01/2016, Alipio Karatê

Faleceu Alipio Karatê, a marca referencial entre os moradores de rua na cidade da Cachoeira, na Bahia. Karatê se alimentava de produtos que pedia em residências por ele mesmo escolhidas, desde o café da manhã, almoço e janta. Banhava-se nos riachos que desaguam no Rio Paraguaçu, ninguém sabia onde fazia as necessidades fisiológicas. Era discreto e muito particular em relações como esta. Gostava de roupa limpa, antes ele mesmo as lavava e secava. Usava e adorava calçar sandálias, as quais não duravam mais que uma semana, pois, se rasgavam, quebravam-se de tanto ele circular nas ruas da cidade. Era discreto e inofensivo, mas se apavorava quando se falava de levá-lo a morar numa casa ou de interná-lo num centro de recuperação. Karatê faleceu no Hospital da Santa Casa da Cachoeira, 0h05min  do dia 31/01/2016, com plena assistência médica e de enfermeiras, entre as quais, a enfermeira Tatiane Mateo Calumbi, a qual o  assistia nos últimos anos, juntamente com o esposo Rodrigo Novaes Costa, parente do extinto, inclusive Tatiane conversou com Karatê no último minuto de sua vida. 
O funeral saiu do velório municipal às 15h para sepultamento no cemitério da Saudade, após discurso e oração do Prof. Pedro Borges sobre a vida do extinto, a pedido do casal que representa a família. Em seu discurso, o Prof. Pedro Borges disse que é comum se fazer discurso fúnebre em exequias de celebridades, de líderes políticos, de pessoas de destaque da sociedade, mas em funerais de pessoas comuns, ainda mais de um morador de rua como Karatê,  as vozes se calam, substituem o discurso pelo silêncio,  razão por que aceitou o convite da família para se pronunciar sobre a vida do extinto. Destacou que Karatê foi vítima do sistema infame da opressão. Disse ainda que  o Jornal O Guarany produziu uma reportagem no início de suas primeiras edições, relatando a prisão de Karatê pelo truculento delegado Edelzaías, nos idos de 1980. Sem qualquer acusação formal, só por instinto de perversidade, Edelzaias usou dois subordinados e  sob seu comando, os mencionados soldados e o próprio Edelzaías surraram Karatê na cela fria e fedorenta da Delegacia da Cachoeira. Quebraram-lhe a perna, deram-lhe um banho gelado na madrugada. Karatê se queixou de dor dente. Edelzaías mandou um dos seus comandados ver um alicate com que extraiu à força o dente da vítima inofensiva.  
Atrocidades como as relatadas e tantas outras praticadas pelo delegado Edelzaías não moveram nenhuma autoridade nem quaisquer representantes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário da época, a reagiram – optaram pelo silêncio. Nunca se esboçou a menor idéia de propor ao governo a sua exoneração. Cidadão comum, gente do povo, ao ser provocado  e ao presenciar mais  uma outra das inúmeras atrocidades do referido delegado, o enfrentou, enfiando-lhe uma faca  que penetrou fundo nos pulmões, rins, coração, etc. com que em menos de 30 minutos, os médicos que o assistiram  no Hospital da Santa Casa da Cachoeira, atestaram “confortavelmente” a sua morte. 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário