UM SENHOR
REVOLUCIONÁRIO
Depoimento
de SILVIO MOTA, juiz federal aposentado, ex-militante da ALN, exilado,
anistiado, atualmente coordenador do Comitê Verdade Memória e Justiça do Ceará.
A foto é do momento narrado abaixo, quando Mota enfrentou o Choque de Cid
Gomes.
"Eu sou
brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!" Era isso que eu ia
cantando quando avancei contra a PM do Sr. Cid Gomes. Por que avancei?
Em primeiro
lugar, porque a polícia não se manteve nas barreiras e avançou para acabar com
a manifestação. Uma manifestação pacífica, de cara limpa, em que tremulavam
bandeiras dos movimentos sociais e até de partidos políticos.
Não é
verdade que os manifestantes provocaram o enfrentamento.
A PM do
Ceará mentiu, e a Rede Globo também.
A maior
manipulação da Globo foi a de não seguir a linha do tempo, e apresentar imagens
do final do conflito sem nada dizer das horas de bombardeio que sofremos.
Tenho 68
anos e limitações de locomoção, e estava sentado quando eu e minha esposa,
também com 68 anos, fomos atingidos por artefatos de gás lacrimogênio.
Estávamos
longe da barreira, com vários trabalhadores, professores universitários,
profissionais da saúde, e até militantes das Pastorais da Igreja Católica.
Minha esposa
foi levada por jovens manifestantes para longe, a fim de ser tratada dos
efeitos do gás. Eu fiquei, inclusive porque peso mais de 100 quilos. Estava
aplicando uma esponjinha molhada de vinagre para poder respirar, mas vi uma jovem
tão apavorada que passei minha esponja para ela.
Levantei-me
indignado e avancei contra os escudos da barreira, de cara limpa, com a camisa
contra a PEC 37. Os PMs ficaram confusos, mas logo avançou um oficial
superprotegido por escudos e asseclas que mal podia falar.
Foi logo
dizendo que eu não podia fazer aquilo, mas respondi que estava no meu direito
de manifestar-me sem armas. Ele alegou que eu podia ser atingido por pedras,
mas nenhuma foi arremessada contra mim. As poucas que havia no chão eram
pequenas, e nenhum risco causavam a seus escudos e coletes. Disse-lhe que
dispensava sua proteção, pois quem tinha me agredido era ele, e não pedras.
Ele voltou
para sua linha de escudos.
Os
jornalistas presentes logo me perguntaram se eu era promotor, e lhes disse que
era juiz aposentado e meu nome. Até defendi o plebiscito proposto pela
Presidenta Dilma.
O garboso
oficial com seus escudos laterais saiu da linha de novo e disse que iria
prender-me.
Disse-lhe
que não podia fazer isso porque eu era um magistrado vitalício e não estava
cometendo nenhum crime. Exibi-lhe minha carteira funcional, e ele disse que não
ia me prender, mas que ia prender a um senhor militante do MST que tinha
avançado para meu lado para proteger-me e estava usando a camisa do movimento.
Disse-lhe então que iria com ele, e na confusão o camponês correu e o garboso
oficial não teve coragem de abandonar a linha para persegui-lo.
Dei-lhe as
costas e voltei para a meninada, que já estava mais calma, mas então ele teve
coragem de mandar disparar pelos menos cinco artefatos de gás nas minhas
costas. Os meninos apagaram quatro deles em baldes de água, e um quinto me
atingiu no meio das costas. Caiu no chão e chutei para o lado. É bom saber:
nunca dê as costas para uma hiena.
Depois de
voltar para a manifestação encontrei minha mulher, ficamos ainda algum tempo
aguentando gás lançado contra nós sem motivo, em trajetórias de longo alcance e
ainda deu tempo para sair com nosso carro e almoçarmos em um restaurante (o que
tinha que fazer com urgência, pois já eram duas da tarde e sou diabético).
Só então
tivemos notícias dos confrontos mostrados nas imagens da Globo, por celular.
UM
SENHOR REVOLUCIONÁRIO
"Depoimento
de SILVIO MOTA, juiz federal aposentado, ex-militante da ALN, ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário