domingo, 14 de junho de 2015

POLÍTICOS ATRAÍDOS PELA PREVISÃO DO ALÉM

Por Pedro Borges dos Anjos
Editor-chefe do Jornal O Guarany
 
É difícil encontrar um político que não se seduza por uma previsão do “além”, disposto a estender sua mão para que se decifrem as linhas, submeter-se a cartas enigmáticas ou búzios, ou pagar por um trabalho num Terreiro de Candomblé, para vencer adversários.
Uma das histórias curiosas de bruxaria envolve, indiretamente, o mineiro Itamar Franco –  mineiro embora nascido, por acaso, baiano. Na década dos anos 60, Jânio Quadros veio à Cachoeira para consultar-se com o famoso  macumbeiro Congo do Ouro, que morava na Ponta da Calçada, bem próximo à atual Delegacia de Polícia. Jânio buscava saber se teria êxito como candidato a presidente da República.  Congo do Ouro jogou os búzios, e, logo viu que o ilustre visitante venceria o pleito, mas pouco tempo depois, renunciaria para não ser assassinado. Jânio acreditou que vencia, mas não renunciaria. Congo do Ouro fez uma limpeza no corpo do consulente. Jânio passou a noite em Cachoeira. Hospedou-se no Hotel Colombo, só retornando bem cedinho a Salvador, de onde tomaria o avião com destino a São Paulo. Jânio venceu as eleições. Conforme a revelação do bruxo Congo do Ouro, Jânio renunciou ao cargo.
 
Ainda em Cachoeira, o saudoso Geraldo Simões sempre alcançou sucesso na área política, desde quando morava em Santiago do Iguape. Foi vereador, vice-prefeito, prefeito, além de ter se tornado líder político de reconhecido prestígio no município. Foi o último político carismático da Cachoeira, com perfil que lhe rendia consideração e respeito, inclusive a ponto de indicar ao governo do estado nomes de seguidores a serem nomeados para cargos de confiança, na estrutura da administração estadual na região. Juízes, delegados, outras autoridades raramente deixavam de atender a uma solicitação de Geraldo Simões. Os correligionários, entretanto,  o próprio governador a quem ele era fiel seguidor, nunca aprovaram o seu nome para concorrer ao cargo de prefeito do município. Certo dia, tendo em vista a nossa amizade pessoal, encontrava-me em sua casa, na Rua Inocêncio Boaventura, ocasião em que ele me revelou ser seu sonho tornar-se prefeito da Cachoeira. Lamentava lhe faltar recursos com que pudesse estabelecer estrutura de campanha para concorrer em igualdade de condições com o adversário. No período o oponente era um jovem apoiado por fortes recursos tanto em dinheiro quanto de grupos políticos de reconhecida expressão na comunidade. Naquele momento, alguém bate à porta, ele se levanta para atender. Era seu amigo Candola, um famoso babalorishá, líder de conhecido terreiro do culto afro, que fica no Alto de Levada. Candola era guarda municipal, cargo que passou a ocupar por indicação do próprio Geraldo, desde o   período em que ele foi vereador pela primeira vez. Candola entrou, sentou-se e disse-lhe já havia jogado os búzios e a resposta foi positiva. Geraldo havia feito a solicitação a seu amigo Candola. Disse Candola: “você pode se candidatar a prefeito, pois os búzios me revelaram que você vencerá o pleito.”  Para campanha, Geraldo Simões só dispunha de velho fusca, alguns amigos e seguidores fiéis que o admiravam, mas, o quadro era tão sombrio que não dava para se acreditar que naquelas circunstâncias, ele venceria as eleições. Mas ele acreditou no que seu amigo Candola lhe falou. Candidatou-se e venceu o pleito. Foi prefeito, cumpriu o período para o qual foi eleito, com a prorrogação do mandato por mais dois anos, por determinação legal com que o Congresso do Brasil do período votou pela coincidência das eleições em todos os níveis.

João Figueiredo soube pelo “além”, através de um bruxo que vivia em Goiás, que sofreria um atentado – essa previsão obrigou o Gabinete Militar a recompor seu esquema de segurança. O bruxo errou, o atentado não se materializou.
De todos, porém, o mais explicitamente temeroso é o ex-presidente José Sarney. Até hoje, não usa marrom, só sai pela mesma porta que entra, tem horror a bicho empalhado, superstições absorvidas do misticismo africano do Maranhão, onde existe um dos mais temidos centro de magia negra do mundo. O bruxo predileto de Sarney chamava-se Moacir Neves. 
Ganhou prestígio porque , depois da vitória de Tancredo Neves, ele  revelou a Sarney: “você vai assumir a presidência”. Acertou. Em Brasília, havia um apartamento especialmente reservado para que, do Maranhão, viesse regularmente um grupo de umbandistas e rezassem por Sarney. Foi só por misticismo que Sarney aconselhado por uma sensitiva, resolveu colocar uma frase com a palavra Deus na moeda nacional.
Nem mesmo o “moderno” Collor de Mello escapou da bruxaria. A Casa da Dinda recebia sempre todos os tipos de adivinhos. Um deles aconselhou-o a mudar de assinatura o que lhe abriria caminhos. Aceitou e passou a assinar F. Collor. Depois disso, em 1992, Collor renunciou a presidência da República, mas 22 anos depois, recentemente, o Supremo Tribunal de Justiça o absolveu de todas as acusações e denúncias que pairavam sobre ele. Durante todo o período sucessivo, Collor voltou a ser governador do seu Estado – Alagoas, e prossegue senador da República.
A bruxaria é apenas o lado mais exótico, insólito, porém real, da guerra da informação, um campo minado pelas variadas arapucas, com sua infindável criatividade, capazes de iludir o jornalista e, por tabela, o leitor.

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