POLÍTICOS ATRAÍDOS PELA PREVISÃO DO ALÉM
Por Pedro Borges dos Anjos
Editor-chefe do Jornal O Guarany
É difícil encontrar um político que não se seduza por uma previsão do
“além”, disposto a estender sua mão para que se decifrem as linhas,
submeter-se a cartas enigmáticas ou búzios, ou pagar por um trabalho num
Terreiro de Candomblé, para vencer adversários.
Uma das histórias curiosas de bruxaria envolve, indiretamente, o mineiro
Itamar Franco – mineiro embora nascido, por acaso, baiano. Na década
dos anos 60, Jânio Quadros veio à Cachoeira para consultar-se com o
famoso macumbeiro Congo do Ouro, que morava na Ponta da Calçada, bem
próximo à atual Delegacia de Polícia. Jânio buscava saber se teria êxito
como candidato a presidente da República. Congo do Ouro jogou os
búzios, e, logo viu que o ilustre visitante venceria o pleito, mas pouco
tempo depois, renunciaria para não ser assassinado. Jânio acreditou que
vencia, mas não renunciaria. Congo do Ouro fez uma limpeza no corpo do
consulente. Jânio passou a noite em Cachoeira. Hospedou-se no Hotel
Colombo, só retornando bem cedinho a Salvador, de onde tomaria o avião
com destino a São Paulo. Jânio venceu as eleições. Conforme a revelação
do bruxo Congo do Ouro, Jânio renunciou ao cargo.
Ainda em
Cachoeira, o saudoso Geraldo Simões sempre alcançou sucesso na área política,
desde quando morava em Santiago do Iguape. Foi vereador, vice-prefeito, prefeito,
além de ter se tornado líder político de reconhecido prestígio no município. Foi
o último político carismático da Cachoeira, com perfil que lhe rendia
consideração e respeito, inclusive a ponto de indicar ao governo do estado
nomes de seguidores a serem nomeados para cargos de confiança, na estrutura da
administração estadual na região. Juízes, delegados, outras autoridades
raramente deixavam de atender a uma solicitação de Geraldo Simões. Os
correligionários, entretanto, o próprio
governador a quem ele era fiel seguidor, nunca aprovaram o seu nome para
concorrer ao cargo de prefeito do município. Certo dia, tendo em vista a nossa
amizade pessoal, encontrava-me em sua casa, na Rua Inocêncio Boaventura,
ocasião em que ele me revelou ser seu sonho tornar-se prefeito da Cachoeira. Lamentava
lhe faltar recursos com que pudesse estabelecer estrutura de campanha para
concorrer em igualdade de condições com o adversário. No período o oponente era
um jovem apoiado por fortes recursos tanto em dinheiro quanto de grupos
políticos de reconhecida expressão na comunidade. Naquele momento, alguém bate
à porta, ele se levanta para atender. Era seu amigo Candola, um famoso babalorishá,
líder de conhecido terreiro do culto afro, que fica no Alto de Levada. Candola
era guarda municipal, cargo que passou a ocupar por indicação do próprio
Geraldo, desde o período em que ele foi
vereador pela primeira vez. Candola entrou, sentou-se e disse-lhe já havia
jogado os búzios e a resposta foi positiva. Geraldo havia feito a solicitação a
seu amigo Candola. Disse Candola: “você pode se candidatar a prefeito, pois os
búzios me revelaram que você vencerá o pleito.” Para campanha, Geraldo Simões
só dispunha de velho fusca, alguns amigos e seguidores fiéis que o admiravam,
mas, o quadro era tão sombrio que não dava para se acreditar que naquelas
circunstâncias, ele venceria as eleições. Mas ele acreditou no que seu amigo Candola
lhe falou. Candidatou-se e venceu o pleito. Foi prefeito, cumpriu o período
para o qual foi eleito, com a prorrogação do mandato por mais
dois anos, por determinação legal com que o Congresso do Brasil do período
votou pela coincidência das eleições em todos os níveis.
João Figueiredo soube pelo “além”, através de um bruxo que vivia em
Goiás, que sofreria um atentado – essa previsão obrigou o Gabinete
Militar a recompor seu esquema de segurança. O bruxo errou, o atentado
não se materializou.
De todos, porém, o mais explicitamente temeroso é o ex-presidente José
Sarney. Até hoje, não usa marrom, só sai pela mesma porta que entra, tem
horror a bicho empalhado, superstições absorvidas do misticismo
africano do Maranhão, onde existe um dos mais temidos centro de magia
negra do mundo. O bruxo predileto de Sarney chamava-se Moacir Neves.
Ganhou prestígio porque , depois da vitória de Tancredo Neves, ele
revelou a Sarney: “você vai assumir a presidência”. Acertou. Em
Brasília, havia um apartamento especialmente reservado para que, do
Maranhão, viesse regularmente um grupo de umbandistas e rezassem por
Sarney. Foi só por misticismo que Sarney aconselhado por uma sensitiva,
resolveu colocar uma frase com a palavra Deus na moeda nacional.
Nem mesmo o “moderno” Collor de Mello escapou da bruxaria. A Casa da
Dinda recebia sempre todos os tipos de adivinhos. Um deles aconselhou-o a
mudar de assinatura o que lhe abriria caminhos. Aceitou e passou a
assinar F. Collor. Depois disso, em 1992, Collor renunciou a presidência
da República, mas 22 anos depois, recentemente, o Supremo Tribunal de
Justiça o absolveu de todas as acusações e denúncias que pairavam sobre
ele. Durante todo o período sucessivo, Collor voltou a ser governador do
seu Estado – Alagoas, e prossegue senador da República.
A bruxaria é apenas o lado mais exótico, insólito, porém real, da guerra
da informação, um campo minado pelas variadas arapucas, com sua
infindável criatividade, capazes de iludir o jornalista e, por tabela, o
leitor.
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