O IMIGRANTE É INVISÍVEL NAS
SOCIEDADES QUE VIVEM COM PRESSA
Maryline Baumard – É o
paradoxo dos imigrantes. As pessoas só começam a vê-los quando eles
desaparecem. Isso vale para os mortos do Mediterrâneo, mas também para o centro
de Paris. Os 380 africanos do acampamento da estação de metrô de La Chapelle, no
18º arrondissement, deverão ser evacuados esta semana, depois de ocuparem o
local durante oito meses em meio à indiferença geral.
Seus terríveis relatos de
uma vida desalojada, essas histórias absurdas que eles estão sempre prontos a
contar, as pessoas preferem ouvi-los pela TV a parar para escutá-los. Em nossas
sociedades que tanta pressa têm, o imigrante se torna invisível.
Além disso, as autoridades
se empenham em tornar cada vez mais invisíveis esses novos párias. Para ter
certeza disso basta ler o antropólogo Michel Agier, que por muito tempo
teorizou essa maneira de empurrar esses indesejáveis para cada vez mais longe
de nossas vistas.
“Under the bridge” [“embaixo
da ponte”] era o nome do acampamento de La Chapelle. Esse lugar era o arquétipo
do espaço de relegação urbana, um refúgio improvável embaixo do monotrilho e
das vias férreas, um local dantesco.
Ali foram se instalando ao
longo das semanas as barracas de lona, até que se chegou a esse número de 380
pessoas vivendo no local, em uma precariedade silenciosa, ajudadas por
associações de moradores, pela Emmaüs Solidarité e tolerados pela prefeitura de
Paris.
Nosso olhar se acostumou com
o acampamento a ponto de esquecê-lo rapidamente. Essas fileiras de barracas
escondem a miséria (sem mascarar os odores), e parecem compor um mar azul…
Hoje é quase motivo de
alegria que os sem-teto tenham suas Quechua [barracas da marca Decathlon]. No
entanto, quem se lembra de quando chegaram as primeiras barracas para os
sem-teto na capital no ano de 2006, da associação Enfants de Don Quichotte, às
margens do canal Saint-Martin?
Foi um escândalo. Nove anos
depois, é motivo de alegria que os sem-teto as tenham, uma vez que “isso é
melhor que nada” e já que ninguém mais enxerga as barracas mesmo. Foi a retina
que se adaptou, ou o egoísmo que se incrustou?
Texto postado originalmente
em: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2015/06/02/o-imigrante-e-invisivel-nas-sociedades-que-vivem-com-pressa.htm
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