quinta-feira, 4 de junho de 2015



O jornalista, a ética e a segurança da informação
 Por Pedro Borges dos Anjos
Redator-Chefe do Jornal  O Guarany
 
Na busca de maior segurança, jornalistas procuram sempre que possível apresentar os nomes dos responsáveis pela informação. Tentam, assim, transferir para quem deu a informação a eventual responsabilidade pelo erro. O noticiário político é impregnado pelo “off”, mecanismo pelo qual se atribui a informação a uma fonte não identificada. É um instrumento valioso, já que, sem aparecer, a fonte pode fornecer uma notícia ou dica ao repórter, evitando punição ou qualquer constrangimento.

Não fica bem um funcionário criticar seu superior, apontando falhas – se a crítica fosse assumida publicamente ele perderia o cargo. Militares são proibidos de fazer pronunciamentos políticos, mas, desde que em “off”, se dispõem a falar. É hábito um homem público indagar ao repórter: “Você quer uma declaração ou uma informação?”
Também, é comum essa frase ser acrescentada com uma advertência: “Se você publicar dizendo que fui eu quem falou, desminto”. O problema é que o “off” dá um imenso espaço para “balões de ensaio” e “plantações”. Isso porque a fonte está protegida pelo anonimato e a culpa pelo erro cai nas costas do repórter e do jornal. O repórter torna-se um joguete das intrigas.

No entanto, divulgar o nome de quem fornece a informação ou faz a afirmação não podem ser realistas, precisam acenar com uma situação melhor imediatamente. Precisam convencer seus ouvintes de que, se eleitos, o país vai mudar, os salários subirão, haverá menos desemprego, mais escolas, mais saúde, etc. Muitos desses candidatos apresentam saídas fáceis, a fim de serem compreendidos: Luís Inácio Lula da Silva, durante sua campanha a presidente, dizia nos palanques que tudo melhoraria caso não se pagasse mais a dívida externa. Mas os economistas do PT, como Aloízio Mercadante, sabiam que o problema da dívida externa era apenas um aspecto da crise brasileira.

Tempo de eleição também é tempo de tensão nas redações de jornais, preocupados em produzir um noticiário íntegro. Impossível, porém que o jornalista se mantenha impassível diante da paixão do jogo político, cultivando a distância de um computador. Não se pode impedir que o jornalista, como cidadão, tenha suas preferências. Mas o engajamento na campanha, utilizando o espaço do jornal, coloca-se no nível das modalidades de “suborno” apresentadas pelo saudoso governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães. O resultado, apesar das intenções diferentes, é que o leitor pode deglutir uma informação falsa ou deturpada.

No primeiro governo de ACM, eu era intérprete oficial do Gabinete, professor da Rede Estadual de Ensino, posto à disposição da Casa Civil do Governador, para exercer a mencionada função. Na época, ACM determinou terrível perseguição ao Jornal da Bahia, seu ferrenho opositor. O Jornal declinou, e, já quase em sua última fase de existência, o governador ACM recebeu um grupo de jornalistas europeus, alguns procedentes de Londres outros de Paris. O governador recepcionou a comitiva de profissionais da imprensa europeia, no amplo salão do Palácio de Ondina, numa sexta-feira, às 21h, com um coquetel de iguarias e bebidas regionais, ocasião em que o cerimonial dividiu a comitiva em três grupos para facilitar que o governador se deslocasse a cada grupo para ser entrevistado. Lembro-me que ele me pegou pelo braço e logo se dirigiu ao grupo de jornalistas franceses, no qual havia uma jovem jornalista  muito bonita que sinalizou fazer-lhe a primeira pergunta, ela estava bem informada. Foi mais ou menos assim: “Pourquoi voulez-vous faire taire la voix de l'un des journaux les plus indépendants dans votre état?’’  « Governador, por que o senhor quer calar a voz de um dos jornais mais independentes do seu Estado ? ». Ele olha para mim e diz, diga a ela que antes de responder a seu questionamento que « os olhos dela são muito bonitos e sedutores ». Cometi a gaffe de imediatamente falar à jovem jornalista francesa : « Le gouverneur a déclaré que vos yeux sont très belles et séduisantes, avant de répondre à votre question". Ela sorriu e ele prosseguiu afirmando que o Jornal ao qual ela se referia era um desservirço ao Estado, razão por que não merecia o seu apreço. Segundo o cerimonial do intérprete,  nem tudo que se fala merece a fidelidade da tradução, principalmente situações como essa.

O governador ACM era um político muito experiente. Na verdade, a intenção dele não era o galanteio, mas inibir a entrevistadora sobre assunto tão constrangedor.

Há abundantes exemplos de homens públicos que escorregaram nas palavras e nas expressões e depois ficaram irritados com a imprensa, razão por que ACM optou por inibir a bonita jornalista francesa. O presidente João Figueiredo, ex-integrante da cavalaria, passou a vida em quartéis e palácios. Logo no início do seu mandato estava numa solenidade, rodeado por populares. Um repórter perguntou-lhe o que achava desse contato e ele respondeu, para o desespero de seus assessores : « Prefiro o cheiro de cavalo ».  Indagaram do presidente da Fiesp, Mário Amato, sua opinião sobre a então ministra do Trabalho, Dorothéia Werneck. Rápido, respondeu : « Apesar de ser mulher, é inteligente ».











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