O jornalista, a ética e a segurança da informação
Por Pedro Borges dos Anjos
Redator-Chefe do Jornal O
Guarany
Na busca de maior
segurança, jornalistas procuram sempre que possível apresentar os nomes dos
responsáveis pela informação. Tentam, assim, transferir para quem deu a
informação a eventual responsabilidade pelo erro. O noticiário político é
impregnado pelo “off”, mecanismo pelo qual se atribui a informação a uma fonte
não identificada. É um instrumento valioso, já que, sem aparecer, a fonte pode
fornecer uma notícia ou dica ao repórter, evitando punição ou qualquer
constrangimento.
Não fica bem um
funcionário criticar seu superior, apontando falhas – se a crítica fosse
assumida publicamente ele perderia o cargo. Militares são proibidos de fazer
pronunciamentos políticos, mas, desde que em “off”, se dispõem a falar. É
hábito um homem público indagar ao repórter: “Você quer uma declaração ou uma
informação?”
Também, é comum essa
frase ser acrescentada com uma advertência: “Se você publicar dizendo que fui
eu quem falou, desminto”. O problema é que o “off” dá um imenso espaço para “balões
de ensaio” e “plantações”. Isso porque a fonte está protegida pelo anonimato e
a culpa pelo erro cai nas costas do repórter e do jornal. O repórter torna-se
um joguete das intrigas.
No entanto, divulgar
o nome de quem fornece a informação ou faz a afirmação não podem ser realistas,
precisam acenar com uma situação melhor imediatamente. Precisam convencer seus ouvintes
de que, se eleitos, o país vai mudar, os salários subirão, haverá menos
desemprego, mais escolas, mais saúde, etc. Muitos desses candidatos apresentam
saídas fáceis, a fim de serem compreendidos: Luís Inácio Lula da Silva, durante
sua campanha a presidente, dizia nos palanques que tudo melhoraria caso não se
pagasse mais a dívida externa. Mas os economistas do PT, como Aloízio
Mercadante, sabiam que o problema da dívida externa era apenas um aspecto da
crise brasileira.
Tempo de eleição
também é tempo de tensão nas redações de jornais, preocupados em produzir um
noticiário íntegro. Impossível, porém que o jornalista se mantenha impassível
diante da paixão do jogo político, cultivando a distância de um computador. Não
se pode impedir que o jornalista, como cidadão, tenha suas preferências. Mas o
engajamento na campanha, utilizando o espaço do jornal, coloca-se no nível das
modalidades de “suborno” apresentadas pelo saudoso governador da Bahia, Antônio
Carlos Magalhães. O resultado, apesar das intenções diferentes, é que o leitor
pode deglutir uma informação falsa ou deturpada.
No primeiro governo
de ACM, eu era intérprete oficial do Gabinete, professor da Rede Estadual de
Ensino, posto à disposição da Casa Civil do Governador, para exercer a
mencionada função. Na época, ACM determinou terrível perseguição ao Jornal da
Bahia, seu ferrenho opositor. O Jornal declinou, e, já quase em sua última fase
de existência, o governador ACM recebeu um grupo de jornalistas europeus,
alguns procedentes de Londres outros de Paris. O governador recepcionou a
comitiva de profissionais da imprensa europeia, no amplo salão do Palácio de
Ondina, numa sexta-feira, às 21h, com um coquetel de iguarias e bebidas regionais,
ocasião em que o cerimonial dividiu a comitiva em três grupos para facilitar
que o governador se deslocasse a cada grupo para ser entrevistado. Lembro-me
que ele me pegou pelo braço e logo se dirigiu ao grupo de jornalistas
franceses, no qual havia uma jovem jornalista muito bonita que sinalizou fazer-lhe a
primeira pergunta, ela estava bem informada. Foi mais ou menos assim: “Pourquoi voulez-vous faire taire la voix
de l'un des journaux les plus indépendants dans votre état?’’ « Governador,
por que o senhor quer calar a voz de um dos jornais mais independentes do seu
Estado ? ». Ele olha para mim e diz, diga a ela que antes de
responder a seu questionamento que « os olhos dela são muito bonitos e
sedutores ». Cometi a gaffe de imediatamente falar à jovem jornalista
francesa : « Le gouverneur a déclaré que vos yeux sont très belles
et séduisantes, avant de répondre
à votre question". Ela sorriu e ele prosseguiu
afirmando que o Jornal ao qual ela se referia era um desservirço ao Estado,
razão por que não merecia o seu apreço. Segundo o cerimonial do intérprete, nem tudo que se fala merece a fidelidade da
tradução, principalmente situações como essa.
O governador ACM era um político muito experiente. Na verdade, a intenção dele
não era o galanteio, mas inibir a entrevistadora sobre assunto tão
constrangedor.
Há
abundantes exemplos de homens públicos que escorregaram nas palavras e nas
expressões e depois ficaram irritados com a imprensa, razão por que ACM optou
por inibir a bonita jornalista francesa. O presidente João Figueiredo,
ex-integrante da cavalaria, passou a vida em quartéis e palácios. Logo no
início do seu mandato estava numa solenidade, rodeado por populares. Um
repórter perguntou-lhe o que achava desse contato e ele respondeu, para o
desespero de seus assessores : « Prefiro o cheiro de cavalo ». Indagaram do presidente da Fiesp, Mário Amato,
sua opinião sobre a então ministra do Trabalho, Dorothéia Werneck. Rápido,
respondeu : « Apesar de ser mulher, é inteligente ».
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