FBI INFORMA QUE BRASIL VENDEU O JOGO DA ALEMANHA NUM ESQUEMA DE CORRUPÇÃO
Vários e-mails atualmente “denunciam” a venda desta Copa nas redes sociais. Os textos apresentam detalhes distintos, mas quase todos partem do mesmo autor: Gunther Schweitzer, o mesmo homem que denunciou a venda da Copa de 1998. Em alguns textos, Schweitzer é apresentado como diretor de jornalismo dos canais ESPN. Em outros, o nome aparece com o mesmo suposto cargo de 16 anos atrás: diretor da Rede Globo.
O jornal italiano “Corriere dello Sport” estampou na capa de sua edição desta sexta-feira que a Copa de 2002 teve resultados manipulados por árbitros, em favorecimento à Coreia do Sul. Entretanto, a manchete da publicação faz mais barulho do que sua reportagem.
Na ocasião, os coreanos chegaram até a semifinal e eliminaram Portugal (fase de grupos), Itália (oitavas de final) e Espanha (quartas) – em jogos com polêmicas de arbitragem. O país sediou o Mundial junto com o Japão e terminou em quarto lugar.
A derrota por 2 a 1 para Coreia do Sul é lamentada até hoje pelos italianos. Na ocasião, o árbitro equatoriano Byron Moreno anulou um gol claro de Tommasi que daria a classificação à Azzurra – o lance aconteceu na prorrogação, numa época que o gol de ouro fazia parte do regulamento.
A Espanha também reclamou bastante. O árbitro egípcio Gamal Al Ghandour, o ugandês Ali Tomusange e o trindadense Michael Ragoonath, seus auxiliares, anularam dois gols legítimos, um de Fernando Morientes e outro de Iván Helguera, que dariam a vitória e a classificação aos espanhois para a semifinal da Copa. A Coreia do Sul, na época treinada pelo holandês Guus Hiddink, acabou beneficiada e conseguiu sua melhor campanha na história dos Mundiais com a classificação nos pênaltis.
Um dos focos das investigações da Justiça americana sobre o escândalo de corrupção na Fifa são transações comerciais em que a Rede Globo, da família Marinho, atua diretamente há décadas; parceira incondicional da Fifa desde o mundial 1970, a Globo é detentora da transmissão no Brasil de praticamente todos os eventos investigados pelo FBI: Copa do Mundo, Libertadores, Copa América e até a Copa do Brasil; o elo mais forte entre Globo e Fifa é o brasileiro José Hawilla, da Traffic Group, que assumiu os crimes de extorsão, fraude, lavagem de dinheiro e vai devolver US$ 151 milhões; além disso, J. Hawilla é dono da TV TEM, maior afiliada da Globo no país; apesar das ligações perigosas, a Globo se limitou a dizer, no Jornal Nacional, que “o ambiente de negócio do futebol seja honesto”; também afirmou que “sobre essas empresas de mídia não pesam acusações ou suspeitas”.
Segundo a polícia federal (FBI) e a receita federal americanas, as
investigações na Fifa tiveram início por causa do processo de escolha das Copas
do Mundo de 2018, na Rússia, e de 2022, no Catar, mas foi expandida para
analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos.
A investigação atua em várias frentes. Sobre a compra dos direitos de
transmissão o esquema funcionava basicamente assim: para ter contratos de
direitos de transmissão de eventos organizados pela Fifa, como a Copa da Mundo
ou Copa Libertadores, empresas de marketing esportivo pagavam propinas
milionárias aos dirigentes da Fifa. De posse dos direitos de transmissão, as
empresas revendia-os a grupos de comunicação do mundo todo. Só em relação aos
direitos de transmissão da Copa América de 2015, 2019 e 2023, a Datisa, formada
formada pela Traffic, do brasileiro J. Hawilla, e duas companhias
sul-americanas, aceitou pagar US$ 352,5 milhões e mais US$ 110 milhões em
propinas para os presidentes das federações sul-americanas. A Rede Globo
comprou da Datisa os direitos de transmissão da Copa América no Brasil.
A empresa da família midiática mais rica do planeta não é citada nas
investigações do FBI. Mas faz transações com a Fifa sobre transmissão de
eventos esportivos desde o mundial de 1970. Em 2012, a Globo anunciou a compra
dos direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2018, na Rússia, e de 2022,
no Catar. Os valores dos negócios não são divulgados oficialmente.
Na época do anúncio, o presidente das Organizações Globo, Roberto
Irineu Marinho, comemorou a compra da transmissão dos mundiais. “Por mais de 40
anos, a Globo e a Fifa desenvolveram uma parceria muito frutífera, que trouxe
ótimos resultados para ambas as partes. Durante todos estes anos, a Fifa
conseguiu fazer do futebol o esporte mais popular, com um grande público em
todo o mundo, e a Globo se sente orgulhosa de ser parte desta história. Por
esta razão, nós estamos orgulhosos de prolongar esta parceria’, afirmou
Marinho.
J. Hawilla, parceiro dos Marinho
Entre a Fifa e a Globo aparece um elo de ligação que é peça chave nas
investigações de corrupção das autoridades americanas: o empresário José
Hawilla, dono da Traffic Group, maior empresa de marketing esportivo da América
Latina.J. Hawilla, como gosta de ser chamado, confessou à Justiça dos EUA ser
culpado pelos crimes de extorsão, fraude eletrônica, lavagem de dinheiro e
obstrução da justiça – ele é o único brasileiro entre os réus confessos
declarados culpados pela Justiça dos EUA. Ele se comprometeu a devolver US$ 151
milhões de seu patrimônio – US$ 25 milhões deste total já teriam sido pagos no
momento da confissão. O mandatário da Traffic já foi classificado diversas
vezes pela imprensa nacional como “dono do futebol brasileiro”.
A ligação entre J. Hawilla e a família Marinho inclui a transmissão de
eventos esportivos de peso. A Traffic teve exclusividade na comercialização de
direitos internacionais de TV da Copa do Mundo da Fifa no Brasil, em 2014. A
empresa de J. Hawilla é a atual responsável pelos direitos de torneios como a
Copa Libertadores, cujo direito de transmissão foi comprado pela Rede Globo.
Além relações perigosas no futebol, Rede Globo e J. Hawilla têm
parceria comercial também nas Comunicações. Ex-repórter da área de esportes,
ele se tornou afiliado da Rede Globo a partir da Traffic. Em 2003, ele fundou a
TV TEM, no interior de São Paulo – hoje a maior subsidiaria do grupo, cobrindo
318 municípios e 7,8 milhões de habitantes, alcançando 49% do interior
paulista. J. Hawilla também comprou, em 2009, o “Diário de S.Paulo”, mas vendeu
o jornal logo em seguida.
Sonegação na Copa de 2002
A Rede Globo criou um “antecedente criminal” em sua relação comercial
com a Fifa, intermediada por empresas como a Traffic. A emissora disfarçou a
compra dos direitos de transmissão dos jogos da Copa do Mundo de 2002, na
Coreia do Sul e Japão, da qual o Brasil foi campeão.
A engenharia da Globo para disfarçar a operação envolveu dez empresas
criadas em diferentes paraísos fiscais. Todas essas empresas pertencem direta
ou indiretamente à Globo, segundo os documentos. O esquema funcionava de modo
que o dinheiro para a aquisição dos direitos era pago através de empréstimos
entre empresas pertencentes à Globo sediadas em outros países. Deste modo, a
empresa brasileira TV Globo, não gastava dinheiro diretamente com a operação.
Posteriormente, as empresas que detinham os direitos de transmissão eram
compradas pela TV Globo.
“Essa intrincada engenharia desenvolvida pelas empresas do sistema
Globo teve, por escopo, esconder o real intuito da operação que seria a
aquisição pela TV Globo dos direitos de transmitir a Copa do Mundo de 2002, o
que seria tributado pelo imposto de renda”, afirma em relatório do processo o
auditor fiscal Alberto Sodré Zile.
A artimanha fiscal resultou na sonegação de R$ 183,14 milhões, em
valores da época. Segundo a Receita Federal, somando juros e multa, o valor que
a Globo devia ao contribuinte brasileiro em 2006 sobe a R$ 615 milhões.
Em 2013, o blog O Cafezinho divulgou 29 páginas do processo da Receita
Federal contra a Rede Globo. O relatório divulgado comprova que as organizações
Globo criaram um esquema internacional envolvendo diversas empresas em sedes
por todo o mundo para mascarar a compra dos direitos da Copa de 2002. O
objetivo principal seria o de sonegar os impostos que deveriam ser pagos à
União em pela compra dos direitos (leia mais).
Via Bonner, Globo diz querer “futebol mais honesto”
A única manifestação da Rede Globo até o momento sobre o escândalo na
Fifa foi um editorial lido por William Bonner no “Jornal Nacional” nessa
quarta-feira, 27, quando a emissora ressaltou que apoia as investigações
promovidas pela justiça americana.
“A TV Globo, que compra os direitos de muitas dessas competições, só
tem a desejar que as investigações cheguem a bom termo e que o ambiente de
negócio do futebol seja honesto. Isso só vai trazer benefícios ao público, que
é apaixonado por esse esporte, e às emissoras de televisão do mundo todo, que
como a Globo fazem um esforço enorme para satisfazer essa paixão”, acrescentou
Bonner.
No “Jornal da Globo” desta quarta (29), também disse que “não pesam
acusações ou suspeitas sobre as empresas de mídia de todo o mundo que compraram
desses intermediários os direitos de transmissão”, caso da Globo.(APC:news)
Fonte: Rius.com.br
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