domingo, 17 de maio de 2015

Mortandade infantil na Santa Casa de Valença/BA
Por Irene Dóres*

Senhores leitores, aqui estou de volta para esclarecer alguns pontos sobre a Nota Resposta da Santa  Casa de Valença, em referência a minha crônica “Mortandade infantil na Santa Casa de Valença”. Antes de mais nada quero agradecer ao apoio que venho recebendo pela rede social e pessoalmente da população valenciana que se viu retratada nas minhas palavras. Irei discorrer apenas sobre alguns pontos que acredito ser necessários esclarecer.

A Nota resposta da Santa Casa traz para a população alguns pontos obscuros: primeiro esses bebês morreram entre os dias 8 e 9 de maio, se houve mais morte no dia 10 é a Santa Casa que está informando. Se eram bebês prematuros, eu tenho dúvidas, porque o bebê, neto de minha amiga, com 39 semanas de idade, saiu da maternidade com um atestado de óbito, constando que ele foi um bebê prematuro. Também, não entendo; se ele foi enforcado pelo cordão umbilical, como poderia estar com infecção generalizada? Pegou no neonatal? Ele nasceu na sexta-feira às 17h30min e morreu domingo por volta das 5h da manhã. Não tinha ainda 48 horas de vida. Quanto à UTI, realmente, o inscreveram na fila da regulação, mas foi a prefeita Jucelia que interferiu para a mudança da maldita regulação para Salvador. No sábado, ela e Cintia Rosemberg lutaram bravamente para conseguir uma UTI para ele em Salvador, o que só foi realizado à noitinha e ele muito enfraquecido pelas paradas cardíacas não agüentou esperar a UTI móvel chegar na manhã de domingo para  transportá-lo.

Parece brincadeira, mas é verdade! A Santa Casa alega que um ultra-som é incapaz de detectar quando uma criança está circulada pelo cordão umbilical. O ultra-som é capaz de detectar como está o sangue do bebê correndo nas veias, e não detecta, no dizer da Santa Casa, um cordão umbilical enrolado num bebê. Sobre o uso do ultra-som, o neurocientista americano, Craig C. Freudenrich, PhD em neurociência e radiologia, diz que algumas das funções do ultra- som na gravidez são: “medição do tamanho do feto para determinar a data prevista para o parto; “determinação da posição do feto para ver se ele está na posição normal de cabeça para baixo ou com apresentação pélvica; verificação da posição da placenta para ver se ela está se desenvolvendo de modo impróprio sobre a abertura do útero (cérvix); determinar se há uma quantidade apropriada de fluido amniótico amortecendo o bebê”, entre outras afirmações. Como então não ver um cordão umbilical?

Quanto ao exame de ausculta do bebê, a mãe relata que houve sim, e ele estava com o coração batendo normal, mas não houve um ultra-som para averiguar se estava tudo bem no posicionamento. E isso, a maternidade deveria ter, pois recebe verbas públicas e de políticos que colaboram com a saúde. É importante se perguntar por que não utiliza essas verbas para comprar aparelhos tão importantes como esse que vai de fato colaborar para humanização dos partos pelo SUS, porque nos partos particulares os médicos fazem o exame na clínica antes de irem para a maternidade.

A Santa Casa discute o problema do acompanhamento pré-natal e de paciente de alto risco ao qual alega não possuir estrutura para atender, e tem toda razão, porque a parturiente que perdeu seu bebê fez todo pré natal, os ultras- sons regulares, até 37º semana, teve uma gravidez absolutamente saudável e entregou inclusive a ficha no Centro Cirúrgico, todavia, isso não impede que a maternidade faça os exames de praxe, porque o bebê pode virar a qualquer momento antes do parto. Ademais, se fosse ela parturiente de alto risco, por que a deixou praticamente o dia inteiro esperando e não fez uma cesariana de imediato? Além disso, ela foi devidamente acompanhada no pré-natal e o seu médico lhe avisaria. Pensando no bem-estar das mães e dos bebês o Governo Federal em sua Portaria de nº 1.459, DE 24 DE JUNHO DE 2011, chamada de Rede Cegonha, faz algumas determinações muito importantes a cerca de pré-natal e parto, são elas: Art. 1° A Rede Cegonha, instituída no âmbito do Sistema Único de Saúde, consiste numa rede de cuidados que visa assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança, o direito ao nascimento seguro, ao crescimento e ao desenvolvimento saudáveis, denominada Rede Cegonha.

I - fomentar a implementação de novo modelo de atenção à saúde da mulher e à saúde da criança com foco na atenção ao parto, ao nascimento, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança de zero aos vinte e quatro meses. 

NO COMPONENTE PARTO E NASCIMENTO
e) realização de acolhimento com classificação de risco nos serviços de atenção obstétrica e neonatal;

Se essas providências da alternativa E, houvessem sido tomadas, não teria morrido tanta criança, em 24 horas. O parto natural é bom sim, e a parturiente, em questão, assim o desejava, mas não queria perder seu bebê. O parto natural tem que ser feito sem oferecer perigo de morte ao nascituro. O parto foi tão forçado que a  mãe vai precisar fazer reparação. Do ponto de vista psicológico se encontra em estado depressivo pela perda de seu bebê. Repito aqui, humanização é preservar a vida. Nem vou discutir taxa de mortalidade porque ela só serviria se os componentes da direção da Santa Casa tivessem perdido seus bebês ao nascerem nas mesmas condições do neto de minha amiga e das outras crianças que morreram com ele. Mas os filhos dos diretores nasceram e nascem em Salvador. Então fica difícil discutir. Ah, esclarecendo, a parturiente deu entrada no Centro Cirúrgico às 9h30min da manhã do dia 08 de maio, mas só foi avaliada pelo médico às 13h.

Finalizando, parabenizo pela implantação do atendimento à gestante pela rede cegonha, é bom para ambas as partes, porque o hospital capta mais verba federal por gestante cadastrada.

Direção da Santa Casa, minha idéia não é discutir o sexo dos anjos com vocês, é apenas pedir em nome das mães que não podem pagar um médico particular, que sejam tomadas PROVIDÊNCIAS PARA EVITAR MAIS MORTES DE BEBÊS, humanizem os partos com tecnologia e com humanidade. Essa é a atitude que o povo de Valença e região esperam de vocês.


Irene Dóres, cronista , atriz, jornalista free lancer.

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