sábado, 7 de março de 2015

Ex-presidente e ex-cara-pintada se reencontram na Lava Jato

Collor e Lindbergh vão responder a inquérito por corrupção e lavagem de dinheiro quase 23 anos após terem protagonizado, em lados opostos, o primeiro impeachment de um presidente brasileiro



Waldemir Barreto/Ag. SenadoLindbergh e Collor negam envolvimento com esquema de corrupção na PetrobrasEntre os 12 senadores que serão investigados pela Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), dois protagonizaram, em lados opostos, um dos momentos mais marcantes da história recente do país: o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL), o primeiro a ser afastado do cargo em processo de impeachment no Brasil, e um de seus principais algozes à época, o ex-líder dos caras-pintadas Lindbergh Farias (PT-RJ). Hoje aliados políticos, os dois serão investigados no Supremo pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Eles são apontados como beneficiários do esquema de corrupção e desvio de recursos da Petrobras.

Em 1992, quando tinha 22 anos de idade, o então presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) pintou o rosto de verde e amarelo, liderou o movimento que tomou conta das ruas e pressionou o Congresso a cassar o mandato do mais jovem presidente eleito do país. Collor elegeu-se em 1989, aos 40 anos, derrotando Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de quem também é aliado hoje. Com denúncias de corrupção e sem apoio político, teve seu governo abreviado pelo Parlamento.

Com trajetórias distintas, os dois foram envolvidos na Operação Lava Jato após depoimentos de delatores do esquema. No caso de Collor, as complicações começaram antes, ainda em julho do ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal abriu inquérito contra ele por causa de depósitos de dinheiro em sua conta feitos pelo doleiro Alberto Youssef, considerado o principal operador do esquema.

R$ 3 milhões de propina
Ao colaborar com as investigações em troca da redução de sua pena, o doleiro contou que Collor recebeu propina de R$ 3 milhões resultante de um negócio da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras. Segundo Youssef, a propina é de um contrato firmado em 2012, no valor de R$ 300 milhões, entre uma rede de postos de combustíveis de São Paulo e a BR Distribuidora.

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, o delator disse que o negócio era para que a rede deixasse uma marca de combustíveis e passasse a integrar o grupo de revendedores da BR Distribuidora. O montante, conforme o doleiro, foi dividido em três parcelas de R$ 1 milhão repassadas ao empresário Paulo Leoni Ramos, apontado como emissário de Collor, único político do PTB incluído na relação dos investigados da Lava Jato no Supremo. O senador sempre negou a acusação.

Doação de campanha
No caso de Lindbergh, a suspeita foi levantada pelo depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que diz ter sido procurador pelo petista para ajudá-lo a levantar recursos para sua campanha eleitoral de 2010, quando se elegeu para o Senado. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sustenta que o ex-líder cara-pintada recebeu R$ 2 milhões para sua campanha graças à intervenção de Paulo Roberto. Segundo Janot, o delator afirmou que Lindbergh “tinha conhecimento do caráter ilícito dos valores recebidos”. Declaração que o petista nega.

De acordo com os investigadores, o senador voltou a se aproximar de Paulo Roberto em 2014, meses antes de sua prisão, para pedir auxílio na arrecadação de sua campanha ao governo do Rio, eleição em que ficou na quarta colocação.

Lindbergh nega com veemência qualquer envolvimento com o esquema. Em nota divulgada por sua assessoria em outubro do ano passado, quando surgiram informações sobre o depoimento do ex-diretor da Petrobras, o senador contestou a versão do delator.

“Em janeiro de 2014, Paulo Roberto Costa esteve em três reuniões de preparação do programa de governo de Lindbergh. Nessas ocasiões, o ex-diretor da Petrobras tão somente discutiu com especialistas propostas para a área em que detinha conhecimento, a de óleo e gás. Ele não participou de nenhuma forma da captação de doações eleitorais”, informou à época o gabinete do petista. “Não se pode confundir isso com as atividades ilícitas do ex-diretor posteriormente reveladas pela chamada Operação Lava Jato. Nesse período não se tinha nenhuma informação sobre tais atividades”, acrescentou.

Fonte: Revista do Congresso em Foco.

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