ACUADA, DILMA PEDE MOBILIZAÇÃO CONTRA "GOLPISMO"
Sem responder adequadamente às denúncias envolvendo a Petrobras, a presidente critica a oposição em evento do PT. Lula admite "vícios" do partido
Gabriel Castro, de Belo Horizonte

Presidente do Uruguai, Pepe Mujica, Dilma Rousseff e o ex-
presidente Lula participam da comemoração aos 35 anos do PT em Belo
Horizonte (MG)
(Ricardo Bastos/Estadão Conteúdo)
A presidente Dilma Rousseff pediu nesta sexta-feirauma mobilização
contra o que chamou de "golpismo" dos que perderam a eleição
presidencial. Em Belo Horizonte, ela participou do evento que marcou o
aniversário de 35 anos do PT e, ao discursar, deixou transparecer o
receio de que o escândalo da Petrobras ponha fim a seu governo. Já o
ex-presidente Lula, também presente na cerimônia, criticou a
desmobilização da sigla e disse que o PT está virando um partido "igual
aos outros".
O ato desta sexta foi ofuscado pela sequência de abalos sofrida pelo partido e pelo governo na última semana: a desastrada troca no comando da Petrobras, a revelação de que o partido recebeu até 200 milhões de dólares em propina e a detenção do tesoureiro João Vaccari Neto para prestar depoimento à Polícia Federal.
O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, o último do evento,
teve um sujeito oculto: o temor de que a sequência de denúncias gere um
processo de impeachment. "Os que estão inconformados com o resultado das
urnas só têm medo de uma coisa: da mobilização da sociedade em defesa
das instituições e em repúdio a qualquer tentativa de golpe contra a
manifesta vontade popular", afirmou ela.
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A presidente conclamou a militância do partido a enfrentar aqueles
que ela chama de golpistas: "Nós temos força para resistir ao
oportunismo e ao golpismo, inclusive quando ele se manifesta de forma
dissimulada". A petista ainda atacou os que "tentam forjar catástrofes e
flertam com a aventura".
Os ataques foram o ponto de encerramento de um discurso morno,
repleto de trechos já repetidos. A presidente continuou a tratar o caso
da corrupção na Petrobras como outro qualquer: até reconheceu que a
Justiça precisa investigar, mas colocou toda a ênfase de seu discurso na
defesa da estatal contra supostos interesses nebulosos: "Os pescadores
em águas turvas não vão acabar nem com o modelo de partilha nem com a
política de conteúdo local", afirmou.
Quando, por exemplo, a presidente disse que "nós não podemos aceitar
que alguns tentem colocar a Petrobras como sendo uma vergonha para o
Brasil", ela não se referia aos corruptos que infestaram a companhia
durante o governo do PT, mas a quem responsabiliza o governo pelos
crimes praticados.
Durante seu pronunciamento, Dilma também defendeu o ajuste fiscal e,
ao tentar passar uma mensagem de otimismo, acabou por cometer um ato
falho: "Nós temos uma das menores taxas de crescimento.... de desemprego
da nossa história". A presidente afirmou que vai estender as concessões
na área de infraestrutura: "Estão falando que o governo não vai
investir. Pelo contrário. Vai ampliar as concessões de rodovias,
ferrovias, portos e aeroportos".
Lula – Durante o evento desta sexta, coube ao
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a função de bedel do
partido. Ciente de que os casos de corrupção ameaçam a sigla, ele
pregou: "Muitos estão mais preocupados em se manter nessas estruturas de
poder do que em fazer a militância partidária que estava na origem do
poder. Essa é a origem de vícios como a militância paga (...). É nesse
ambiente que alguns individualmente cometem desvios que nos envergonham
perante a sociedade", disse ele, que continuou :"Esse processo está
chegando ao limite nesse partido e nós precisamos dar um fim nessa
situação".
Apesar de o PT tratar como heróis os mensaleiros condenados pela
Justiça, Lula disse que o partido não aceita desvios éticos. "Estejam
certos: se algo de concreto vier a ser encontrado, se alguém tiver
traído a nossa confiança, que seja julgado e punido dentro da lei porque
o PT, ao contrário dos nossos adversários, não compactua nem
compactuará com a impunidade de quem quer que seja".
O ex-presidente também defendeu as medidas "duras" tomadas por Dilma
Rousseff no início do segundo mandato. Ele lembrou o próprio tratamento
contra o câncer, que exigiu sessões de quimioterapia e radioterapia, e
disse que a presidente está fazendo algo semelhante.
Lula deu um conselho com sentido ambíguo a Dilma: "Faça o que tiver
que fazer, porque um erro desastroso nosso quem vai sofrer não somos
nos, é o povo humilde desse país. E você tem a obrigação de não governar para o Lula e para o Rui Falcão, é governar cuidando do povo
brasileiro que precisa muito de vocês".
Além de parlamentares, governadores e ministros, o ato desta
sexta-feira em Belo Horizonte teve a presença de José Mujica, o
presidente do Uruguai.
Fonte: Revista VEJA
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