quarta-feira, 8 de outubro de 2014


No meio do caminho tinha uma pedra
Carlos Drummond de Andrade

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Versão em Inglês:

IN THE MIDDLE OF THE ROAD
In the middle of the road was a stone
was a stone in the middle of the road
was stone
in the middle of the road was a stone.
I shall never forget that event
in the life of my so tired eyes.
I shall never forget that in the middle of the road
was a stone
was a stone in the middle of the road
in the middle of the road was a stone.


Comentário:
"No meio do caminho" é o que se pode chamar de poema-escândalo. Publicado pela primeira vez na modernista Revista de Antropofagia, em 1928, deflagrou uma saraivada de críticas na imprensa.  Em 1930, quando lançou Alguma Poesia, seu livro de estreia, "No meio do caminho" foi incluído no volume. Violentos, irônicos, corrosivos, os críticos simplesmente desancavam o autor dos versos e diziam, em suma, que aquilo não era poesia. Reacionários e gramatiqueiros, eles se sentiam provocados pelas repetições do poema e pelo "tinha uma pedra" em lugar de "havia uma pedra".

Em 1967, para marcar os 40 anos do poema, Drummond reuniu o extenso material publicado sobre ele no volume Uma Pedra no Meio do Caminho - Biografia de um Poema (Editora do Autor). 

Vale aqui fazer apenas uma pergunta. Havia milhares de poemas modernistas que a crítica conservadora achava ruim ou desqualificava como literatura. Por que, então, detonaram todas as suas baterias contra a pedra no caminho? Seria talvez pelo fato de que Drummond - o mais completo modernista - pôs realmente o dedo na ferida e incomodava mais?

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