Polícia prende chefão da Fifa suspeito de liderar máfia dos cambistas na Copa
A operação das polícias Federal e Civil do Estado do Rio, realizada
às 15h30 desta segunda-feira no hotel Copacabana Palace, prendeu o homem
apontado como líder do mercado ilegal de ingressos da Copa do Mundo
dentro da cúpula do futebol. Na quadrilha desarticulada pela operação Jules Rimet,
Ray Whelan estaria acima do franco-argelino Lamine Fofana, preso na
semana passada. Whelan é um dos diretores da Match, empresa associada à e
que tem direitos exclusivos da Fifa para a venda de ingressos para a competição que termina na próxima semana, no Maracanã.
A batida policial dentro da sede da cúpula da Fifa no Brasil
foi a primeira vivida pela entidade em anos e cria um profundo mal-estar
entre a instituição e o governo brasileiro. A iniciativa ocorre
justamente quando a entidade se prepara para a semana mais importante da
Copa do Mundo e às vésperas da chegada de vários chefes de Estado.
Embora Whelan não seja um funcionário da Fifa, ele falava em
nome da entidade na organização da venda de ingressos e até no
credenciamento de hotéis para a Copa. Nos últimos dias, tem sido a
porta-voz da Fifa quem tem respondido pelos problemas, e não o porta-voz
da Match. A empresa é ainda controlada pela Infront, uma companhia que
tem como acionista Phillip Blatter, sobrinho do presidente da Fifa,
Joseph Blatter.
A suspeita sobre Whelan surgiu depois que a polícia descobriu um
grupo que comercializava há meses ingressos para a Copa. Na semana
passada, onze deles foram presos. Inicialmente, a suspeita era de que o
franco-argelino Lamine Fofana fosse o responsável pela quadrilha. Mas
escutas telefônicas apontaram que havia alguém acima de Fofana, com
todos os privilégios e condições de abastecer o grupo com as melhores
entradas para o Mundial, muitas delas de camarote.
O suspeito estava, praticamente, morando no Brasil desde 2011. Ele
percorreu o país na condição de diretor executivo da Match Services
promovendo pacotes vip para as diversas arenas que receberam jogos da
Copa. Entre suas funções estava a de credenciar hotéis nas cidades-sede.
Nos últimos dias, ele foi visto por jornalistas no Copacabana Palace,
justamente o local que serve de base para a Fifa no Rio e onde os
cambistas iam buscar os pacotes.
A batida no luxuoso hotel do Rio pegou a Fifa de surpresa. Até o
momento da operação, cartolas e dirigentes insistiam junto aos
jornalistas que não acreditavam que qualquer prisão ou questionamento
ocorreria dentro da entidade ou com empresas parceiras.
Corrupção interna
A Match é a única empresa autorizada pela Fifa para venda de pacotes
de ingressos e camarotes da Copa. Envolvido nas investigações, o
sobrinho do presidente da federação internacional, Phillip Blatter
preside a Infront Sports & Media, que é acionista minoritária (5%)
da Match. Barucke afirmou que, mesmo com a operação policial em curso, o
suspeito não teria deixado o Brasil.
– A colaboração de José Massih (um dos 11 presos sob suspeita de
integrarem a quadrilha, na última semana) foi imprescindível para a
gente chegar a essa pessoa. A Fifa enviou a lista dos credenciados, que
bateu com as declarações dele – disse o promotor de Investigação Penal
Marcos Kac.
Entre os 11 presos está o franco-argelino Lamine Fofana, que
inicialmente foi apontado como chefe da quadrilha. O suspeito
identificado nesta semana pela polícia seria o dono do celular oficial
da Fifa que recebia ligações de Fofana interceptadas em centenas de
gravações autorizadas pela Justiça na operação batizada de Jules Rimet.
Barucke disse que o nome do suspeito – que seria ligado à Fifa ou à
Match – ainda não será divulgado para não atrapalhar a investigação.
Na última terça-feira, a Polícia
Civil do Rio prendeu 11 pessoas suspeitas de integrar uma quadrilha de
desvio e venda ilegal de ingressos para Copa do Mundo. A operação,
batizada de Jules Rimet, teve apoio Ministério Público e do Juizado do
Torcedor e já vinha sendo conduzida há dois meses.
Mais de uma centena de bilhetes foram apreendidos com as pessoas
presas. Os bilhetes comercializados, segundo as investigações, eram de
cotas cedidas pela Fifa a patrocinadores e delegações de seleções. O
esquema funcionaria desde a Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e
no Japão. Ainda de acordo com as investigações, o grupo faturava até R$ 1
milhão por jogo.
A polícia fez prisões no Rio e em São Paulo. Entre os presos está
Fofana. Durante a semana, o promotor do caso, Marcos Kac, disse
abertamente que havia um integrante “graúdo” da Fifa envolvido no
esquema. Até o momento, seu nome não foi divulgado. A Fifa, por sua vez,
nega que funcionários da entidade teriam relação com cambistas. Segundo
o delegado Fabio Barucke, da Polícia Civil, um funcionário da Fifa e
outro da empresa Match Services, responsável pela venda de ingressos da
Copa, são suspeitos de participarem da quadrilha. Além deles, um chinês
atuaria em São Paulo negociando ingressos para a quadrilha.
Há uma semana, dois norte-americanos e uma italiana foram presos em
flagrante ingressos para a Copa, que vendiam pelos sites das empresas
Ludus Tours e Red Carpet. Entre os ingressos que a polícia informou ter
apreendido durante a operação, aparece um com o nome de Humberto Mario
Grondona, filho mais velho do presidente da Associação de Futebol da
Argentina (AFA) e vice da Fifa, Julio Grondona. O filho do cartola negou
participação no esquema. Procurada pela Folha, a AFA disse desconhecer
qualquer esquema de desvio de ingressos da Copa.
A Fifa, que inicialmente havia dito que o caso de Grondona já estava
esclarecido, informou neste domingo que pedirá esclarecimentos por
escrito ao filho do cartola.
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