MAÇONARIA DA GLEB
Texto de ORAÇÃO AOS MOÇOS DE RUI BARBOSA
Candidato em campanha para retornar ao Grão Mestrado |
Desde que o tempo começou, lento lento,
a me decantar o espírito do sedimento das paixões, com que o verdor dos anos e
o amargor das lutas o enturbavam, entrando eu a considerar com filosofia nas
leis da natureza humana, fui sentindo quanto esta necessita da contradição,
como a lima dos sofrimentos a melhora, a que ponto o acerbo das provações a
expurga, a tempera, a nobilita, a regenera. Então vim a perceber vivamente que
imensa dívida cada criatura da nossa espécie deve aos desafetos, adversários, inimigos e desfortunas. Assim era
enunciado este trecho do tradicional “Padre−Nosso”, hoje “Pai
Nosso”(“Perdoai−nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido.”).
Por mais desagrestes que sejam os
contratempos da sorte e as maldades dos homens, raro nos causam mal tamanho,
que nos não façam ainda maior bem. Ai de nós, se esta purificação gradual, que
nos deparam as vicissitudes cruéis da existência, não encontrasse a colaboração
providencial da fortuna adversa e dos nossos desafetos. Ninguém mete em conta o
serviço contínuo, de que lhes está em obrigação. Diríeis, até, que,
mandando−nos amar aos nossos inimigos, em boa parte nos quis o divino
legislador entremostrar o muito, de que eles nos são credores. A caridade com os
que nos malquerem, e os que nos malfazem, não é, em bem larga escala, senão
pago dos benefícios, que, mal a seu grado, mas muito deveras, eles nos
granjeiam. Destarte, não equivocaremos a aparência com a realidade, se, nos
dissabores que malquerentes e malfazentes nos propinam, discernirmos a quota de
lucro, com que eles, não levando em tal o sentido, quase sempre nos favorecem.
Quanto é pela minha parte, o melhor do que sou, bem assim o melhor do que me
acontece, freqüentemente acaba o tempo convencendo−me de que não me vem das
doçuras da fortuna propícia, ou da verdadeira amizade, senão sim que o devo,
principalmente, às maquinações dos malévolos e às contradições da sorte
madrasta. Que seria, hoje, de mim, se a demissão, a expulsão, a suspensão de
direitos, o veto dos meus adversários, sistemático e pertinaz, me não houvessem
poupado aos tremendos riscos dessas alturas, “alturas de Satanás”, como as de
que fala o Apocalipse, em que tantos se têm perdido, mas a que tantas vezes me
tem tentado exalçar o voto dos meus amigos? Amigos e inimigos estão, amiúde, em
posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem−nos bem. Outros nos almejam o
bem, e nos trazem o mal. Não poucas vezes, pois, razão é lastimar o zelo dos
amigos, e agradecer a malevolência dos opositores.
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