Barbosa diz que advogado de Genoino agiu de modo violento
O presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Joaquim Barbosa, considerou ontem (11) “lamentável” o fato
envolvendo o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende o ex-deputado
José Genoino, condenado na Ação Penal 470, o processo do mensalão.
“Agindo de modo violento e dirigindo ameaças contra o chefe do
Poder Judiciário, o advogado adotou atitude nunca vista anteriormente em
sessão deste Supremo Tribunal Federal”, declarou em nota à imprensa.
Durante sessão desta quarta-feira, Barbosa mandou seguranças
retirarem do plenário o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende
Genoino. Barbosa deu a ordem após Pacheco subir à tribuna para pedir que
o presidente libere para julgamento o recurso no qual o ex-deputado
alega que tem complicações de saúde e precisa voltar a cumprir prisão
domiciliar.
Naquele momento, os ministros estavam julgando a mudança na
composição das bancadas na Câmara dos Deputados.
“O presidente do Supremo Tribunal Federal [STF], ministro Joaquim
Barbosa, considerou lamentável o episódio ocorrido no início da sessão
plenária desta quarta-feira [11], quando o advogado doutor Luiz Fernando
Pacheco interrompeu abruptamente o julgamento de uma ação direta de
inconstitucionalidade para exigir que fosse imediatamente julgado
recurso por ele interposto e concluso para julgamento no fim da semana
passada. Agindo de modo violento e dirigindo ameaças contra o chefe do
Poder Judiciário, o advogado adotou atitude nunca vista anteriormente em
sessão deste Supremo Tribunal Federal. O presidente zela para que todas
as normas regimentais e legais sejam integralmente cumpridas e
observadas igualmente por todos os advogados que militam perante esta
Corte”, declarou Barbosa.
Ao subir à tribuna e interromper o julgamento para cobrar de Barbosa a
liberação do recurso, Pacheco foi questionado pelo presidente: "Vossa
Excelência vai pautar [a Corte]?". O advogado respondeu: “Eu não venho
pautar. Venho rogar a Vossa Excelência que coloque em pauta, porque há
parecer do procurador-geral da República [Rodrigo Janot] favorável à
prisão domiciliar deste réu, deste sentenciado. Vossa Excelência,
ministro Joaquim Barbosa, deve honrar esta casa e trazer aos seus pares o
exame da matéria”, respondeu Pacheco.
Após dizer duas vezes “eu agradeço a Vossa Excelência”, na tentativa
de cortar a palavra de Pacheco, Barbosa determinou a retirada do
advogado do plenário. “Eu vou pedir à segurança para tirar este homem”,
disse Barbosa.
Ao ser abordado pelos seguranças, o advogado protestou: “Isso é abuso
de autoridade! Isso é abuso de autoridade”, gritou. Joaquim Barbosa
ainda retrucou: “Quem está abusando de autoridade é Vossa Excelência. A
República não pertence a Vossa Excelência, nem à sua grei [grupo]. Saiba
disso.”
No dia 4 deste mês, o procurador Rodrigo Janot enviou ao Supremo
parecer favorável ao regime de prisão domiciliar para Genoino. Segundo
Janot, o ex-deputado deve voltar a cumprir pena em casa enquanto estiver
com a saúde debilitada. Genoino foi condenado a quatro anos e oito
meses de prisão em regime semiaberto na Ação Penal 470, o processo do
mensalão.
Para o procurador, há dúvidas sobre as garantias de que Genoino terá
atendimento médico adequado no Presídio da Papuda, no Distrito Federal,
onde está preso. No documento, o procurador lembra que o Estado tem o
dever de garantir a integridade física do preso.
Genoino voltou a cumprir pena na Papuda, no mês passado, por
determinação do presidente do Supremo. A decisão foi tomada após Barbosa
receber laudo do Hospital Universitário de Brasília. No documento, uma
junta médica concluiu que o estado de saúde do ex-parlamentar não era
grave.
Segundo os médicos, o quadro de saúde de Genoino não justifica
tratamento diferenciado. “Não se expressa no momento a presença de
qualquer circunstância justificadora de excepcionalidade e diferenciada
do habitual para a situação médica em questão, visando ao acompanhamento
e tratamento do paciente em apreço”, diz o laudo.
O advogado Luiz Fernando Pacheco defende que Genoino cumpra prisão
domiciliar definitiva. De acordo com Pacheco, Genoino sofre de
cardiopatia grave e não tem condições de cumprir pena em um presídio,
por ser “paciente idoso, vítima de dissecção da aorta”. Para o advogado,
o sistema penitenciário não tem condições de oferecer tratamento médico
adequado ao ex-parlamentar.
Genoino teve prisão decretada em novembro do ano passado e chegou a
ser levado para a Papuda, mas, por determinação de Barbosa, ganhou o
direito de cumprir prisão domiciliar temporária até abril. Durante o
período em que ficou na Papuda, o ex-deputado passou mal e foi levado
para um hospital particular.
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) condenou a atitude do
presidente do STF. Segundo a entidade, Barbosa “não é intocável, e deve
dar as devidas explicações à advocacia brasileira”. "O presidente do
STF, que jurou cumprir a Carta Federal, traiu seu compromisso ao
desrespeitar o advogado na tribuna da Suprema Corte. Sequer a ditadura
militar chegou tão longe no que se refere ao exercício da advocacia. A
OAB nacional estudará as diversas formas de obter a reparação por essa
agressão ao Estado de Direito e ao livre exercício profissional”,
declarou a entidade
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